As eleições de 2012 estão
sendo uma desagradável surpresa para a maioria dos analistas da “grande
imprensa”. Quase tudo que esperavam que fossem, elas teimam em não ser.
Ficaram atordoados com os
resultados de 7 de outubro. Devem ficar ainda mais com os que, provavelmente,
teremos no segundo turno.
Prepararam a opinião pública
para a vitória de Serra em São Paulo. Quando, em fevereiro, o PSDB paulista
implodiu o processo de prévias partidárias, fizeram crer que um lance de gênio
acabara de ser jogado. Para sua alegria, Serra aceitara ser candidato.
Quem leu os “grandes
jornais” da época deve se recordar do tom quase reverencial com que a
candidatura foi saudada. Fernando Haddad, o novo poste fabricado por Lula, iria
ver com quantos paus se faz uma canoa. Teria que lidar com o grão-mestre
tucano.
Já tinham antecipado dias
difíceis para os candidatos petistas com a doença do ex-presidente. Era, no
entanto, apenas o desejo de que ele não tivesse condições de participar da
campanha.
Quando Lula entrou em campo
para melhorar as condições de disputa de seu candidato em São Paulo, ampliando
o tempo de televisão de Haddad mesmo que às custas de uma coligação com Paulo
Maluf, nossos argutos observadores decretaram que cometera um erro colossal.
Que sepultava ali as chances de seu indicado.
Hoje, percebe-se que acertou
no cálculo de que o verdadeiro campeão em rejeição na cidade é Serra e não
Maluf.
Mas a grande aposta que não
deu certo é a que fizeram a respeito do impacto do julgamento do “mensalão” nas
eleições. Imaginaram que seria dinamite puro. Revelou-se um tiro de festim.
As urnas não evidenciaram a
esperada derrota petista. E não é isso que aguardamos para domingo.
Ao contrário, as eleições de
2012 estão se mostrando muito positivas para Lula, Dilma e o PT. Foi o partido
que mais cresceu entre os maiores no número de prefeituras, de vereadores, na
presença em cidades grandes.
Confirmando a vitória em São
Paulo e nas capitais em que tem candidatos na liderança, está prestes a
conseguir seu melhor desempenho em eleições municipais desde a fundação.
O inesperado dessa
performance está levando esses comentaristas a interpretações equivocadas. Cujo
intuito é diminuir o significado do resultado do PT.
A primeira é que o “grande
vitorioso” destas eleições seria o PSB e seu presidente, o governador Eduardo
Campos.
Com todo o respeito, é
difícil incluir o PSB entre os grandes. Ganhou 435 prefeituras (no primeiro
turno), metade das quais em cinco estados do Nordeste, mais de um quarto em
Pernambuco e no Piauí. Como partido, permanece regional, acolhendo, no restante
do Brasil, algumas lideranças que lá estão como poderiam estar em qualquer
outro.
É do PSB o prefeito reeleito
de Belo Horizonte. Mas ninguém que conheça a política da cidade atribui a essa
filiação qualquer relevância na reeleição de Marcio Lacerda.
Resta a vitória de Geraldo
Julio, no Recife, um feito para Eduardo Campos. O caso é que vencer na capital
de seu estado está longe de ser um resultado espetacular para um governador
competente.
A segunda versão equivocada
é que “ninguém ganhou”, pois a alienação eleitoral é que teria sido a marca das
eleições deste ano. Que as abstenções, somadas aos brancos e nulos, é que
seriam as vedetes.
Não é verdade. Em algumas
capitais, de fato houve um aumento expressivo desse agregado em relação a 2008.
Como em São Paulo, em que foi de 24% para 31%.
Na média das dez maiores
cidades brasileiras, no entanto, a alienação total aumentou pouco no período,
indo de 23,5% para 26%. Na verdade, ela cresceu mais entre 2004 (quando era de
19,5%) e 2008, que de então para cá.
Ou seja: nem PSB, nem
alienação, o maior vitorioso está sendo o PT. Se Haddad vencer, uma chave de
ouro para Lula. Justo quando decretaram que enfraqueceria.
Mais uma vez, o que se vê é
que o povo não dá a menor pelota para o que pensam os “formadores de opinião”.
Marcos Coimbra é sociólogo e
presidente do Instituto Vox Populi