terça-feira, 22 de setembro de 2009

Entrevista - Carlos Henrique Gaguim


Entrevista:‘No meu governo não tem faz-de-conta’

A expectativa era de que a semana terminasse com o governador interino Carlos Henrique Gaguim (PMDB) sendo efetivado no cargo por meio das eleições indiretas. Mas, devido ao questionamento da constitucionalidade da Lei das Indiretas, criada pelo Executivo e aprovada na Assembleia Legislativa, espera-se agora uma manifestação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que a Casa possa realizar o pleito. Somente os 24 deputados estaduais participarão da escolha do novo governador e vice-governador do Tocantins.
Ainda em condição de interino, Gaguim é o entrevistado da semana desta edição do Tribuna do Planalto. O governador fala sobre suas prioridades à frente da administração, sobre a indicação polêmica dos novos secretários, sobre as eleições de 2010 e seus planos para o governo do Estado. Gaguim adianta que não é candidato a reeleição.

Tribuna do Planalto - O senhor está há poucos dias à frente do governo do Estado. Qual tem sido, por enquanto, seu maior desafio?
Carlos Henrique Gaguim - O desafio que considero mais importante é o de defender os interesses de toda a população, com todos trabalhando num único objetivo, que é o desenvolvimento do Tocantins. Desde o momento em que assumi interinamente o governo do Estado, tenho batido nessa tecla: cada secretário meu, cada auxiliar do meu governo, cada nome que eu assinei embaixo quando dei posse nos últimos dias tem que zelar pelos interesses do Tocantins, pois disso eu não abro mão.

O sr. tem um plano de governo para este mandato interino?
Sim, e comecei pela nomeação da equipe do governo. Vou acelerar o desenvolvimento do Tocantins. O Estado não pode mais esperar. Assinei o decreto determinando muita responsabilidade com os gastos públicos. Temos que aprender a utilizar melhor o dinheiro do povo. Se tiver irresponsabilidades com uso de equipamentos e veículos, por exemplo, eu vou acabar; se houver irresponsabilidades com diárias, também não vou permitir... Conter os gastos, acabar com o desperdício e saber utilizar melhor o que já temos, seja de recursos e de pessoal, é outra frente que vou seguir. No meu governo não vai ter espaço para nenhum faz de conta não. O governo precisa prestar contas ao povo e o povo tem que ser ouvido e bem representado pelo seu governador.

Qual área é considerada prioritária pela sua administração?
Todas as áreas são prioritárias: emprego, saúde e educação vão receber atenção especial do meu governo. Se você perceber, um setor está ligado a outro. É como uma máquina, cada um tem que fazer a sua parte. E quem não fizer o que tem que ser feito não vai ficar no meu governo não. Não admito brincadeira com a coisa pública, com o dinheiro público. Sempre prezei as parcerias e o compromisso de cada um com o Estado, e isso não pode faltar.

Algumas regiões do Estado, como Jalapão e Bico do Papagaio, enfrentam uma realidade mais difícil em termos de desenvolvimento econômico. O que os moradores destas localidades devem esperar do governador Gaguim?
Na viagem que fiz esta semana a Brasília procurei os órgãos competentes também para buscar recursos para o Estado. Sempre vi o Tocantins por completo e farei de tudo para que todas as regiões sejam atendidas. Aí está incluído o Bico do Papagaio. Estamos vendo a execução dos programas federais lá na região, a exemplo do Territórios da Cidadania, temos ações do PAC também naquele setor, e aquela população pode esperar o melhor do governo do Estado. O governador Carlos Gaguim vai estar sempre atento às suas necessidades.

A área da Saúde é apontada pela maioria dos tocantinenses como a que carece de maior atenção, devido à precariedade dos serviços, como falta de leitos e remédios, além da escassez de profissionais. Além do secretário, que mudanças o sr. pretende fazer para que o serviço público oferecido seja digno?
Esse é um setor que vai precisar de atenção redobrada. Já determinei que a saúde da população do Estado seja sempre colocada em primeiro plano. Não vou admitir que as pessoas, principalmente os mais necessitados, fiquem sem atendimento, sem um médico para seu filho, sem um remédio que precise ser tomado. O secretario da Saúde [Francisco Melquíades Neto] sabe disso e vai fazer tudo o que for preciso para oferecer uma saúde de qualidade. Isso quer dizer aplicar os recursos onde devem ser aplicados, conter gastos, fazer economia.

Com o decreto de contenção de gastos criado pelo sr., quanto é esperado em economia para o Estado (em reais)?
Dinheiro público tem que ser empregado para o bem do povo. Não podemos admitir que recursos da população sejam mal utilizados. Não vou aceitar uma coisa dessas. Assim que assumi baixei um decreto de contenção de gastos. Somente com esse decreto, vamos economizar R$ 17 milhões por mês. A partir de agora até dezembro vão ser R$ 68 milhões. Esse dinheiro tem que ser utilizado em mais investimentos na saúde, na educação, em infraestrutura. Vamos economizar muito mais. Outro exemplo foi o recolhimento de mais de 280 veículos à garagem do Estado. Secretário tem que dar exemplo, ir para o trabalho com o seu próprio carro. Também recolhemos dezenas de celulares. O povo tem que saber o que está sendo feito com o dinheiro dele. Quero transparência.

A dívida existente compromete o crescimento do Estado? Que soluções estão sendo pensadas para o problema?
Toda nossa atenção agora é para garantir os investimentos e o crescimento do Estado. Detectamos um déficit, um furo de caixa, de quase R$ 800 milhões ? quase 500 milhões de dívidas e 300 milhões em queda de arrecadação. O repasse do FPE [Fundo de Participação dos Estados] para o Tocantins caiu 10%. Então, encontramos as contas do governo com a luz amarela acesa. É preciso muita cautela. Por outro lado, a arrecadação no Estado está boa e todas as nossas medidas de economia vão garantir dinheiro para novos investimentos. A população do Estado e o funcionalismo público não precisam se preocupar.

Estes novos secretários, como o sr. mesmo declarou, são fruto de uma composição política e indicação dos deputados. Qual seria então a responsabilidade dos parlamentares na gestão destas pastas?
É bom dizer que todo o secretariado que empossei é resultado de uma decisão minha em conjunto com os partidos. Foram escolhas muito boas. Todos os nomes são de uma competência muito grande. Houve a apresentação dos nomes pelos partidos. Não se governa um Estado sozinho. Eu sei disso. Venho da Assembleia Legislativa e sei da importância dos parlamentares. Hoje o que se vê entre o Legislativo e o Palácio Araguaia é uma unidade forte e que só vai fazer o bem para o Estado. O papel de cada parlamentar é o de parceiro do Estado, no acompanhamento das ações, somando forças.

O sr. não teme ser conhecido como o gestor que governa somente para os deputados e não para o povo?
O Tocantins não é feito de 24 pessoas, mas de 1,3 milhão de pessoas. Se temesse coisas desse tipo, não teria chegado onde cheguei. O fato é que venho da Casa de Leis. E vou honrar cada oportunidade que a vida está me oferecendo para fazer o melhor para cada cidadão e cidadã desse Estado.

Alguns dos auxiliares da administração de Marcelo Miranda foram mantidos. Neste caso pesou mais a questão técnica ou política?
Em todos os casos, a questão técnica foi muito importante. Todos os secretários que já estão no meu governo são secretários escolhidos pelo governador Carlos Gaguim e que são muito conhecedores de suas pastas. No caso dos secretários que ficaram, eles permaneceram porque podem continuar contribuindo com o desenvolvimento do Estado. São técnicos muito capazes. Não tem nenhum segredo: eles foram convidados e aceitaram ficar.

A sua chegada ao governo coloca fim à oposição na Assembleia, já que conseguiu unir em torno de seu nome os diversos partidos da Casa. Isso não seria prejudicial à democracia e ao próprio trabalho de governador?
Eu não vejo nenhum problema na união de todos em benefício do Estado. Sempre fui um grande defensor dos interesses do Tocantins. A oposição é algo que sempre existiu numa democracia e que vai sempre existir. O meu papel, principalmente agora como governador, é trabalhar pela unidade, para que o Estado fique cada vez mais forte.

Que cenário o sr. vislumbra para as eleições 2010 diante das mudanças que estão ocorrendo na política do Estado?
Tudo na minha vida foi conseguido com muita luta, com muito trabalho. O Tocantins sabe das minhas origens. E hoje todo o meu esforço está para cumprir esse chamado no governo. Mesmo quando deputado tive um papel muito importante na industrialização do Estado. Vamos continuar com esses investimentos, com mais educação para a população, poder oferecer uma saúde decente, principalmente para o pobre, porque se você corta despesas desnecessárias sobra mais dinheiro e mais comida para os mais carentes.

E quanto às pretensões políticas do sr. para o próximo ano? O acordo feito prevê sua candidatura à reeleição em 2010?
Não sou candidato ao governo em 2010. Essa decisão eu já anunciei à população do Estado. Não vamos antecipar as coisas. Sou governador interino hoje e é nisso que estou concentrado.

Dos três senadores tocantinenses, o sr. conta com apoio de dois. Nos fale sobre sua relação política com a senadora Kátia Abreu (DEM) e a ausência dela na participação do governo Gaguim.
Eu sou de um governo de unidade, com a participação de todos os partidos, inclusive o DEM. Todos foram convidados a participar. Estarei com todos aqueles que queiram e defendam o desenvolvimento do Tocantins. Minha relação é muito boa com a bancada federal.

No próximo ano, o ex-governador Marcelo Miranda possivelmente será candidato ao Senado. Os tocantinenses poderão ver vocês dois no mesmo palanque e pedindo voto um para o outro? Como ficou a relação de vocês dois?
Primeiro, quem pode falar pela candidatura ou não do ex-governador é ele mesmo. Somos do mesmo partido, mas o destino político parte de cada um. Como disse há pouco, a hora é de cumprir com esse mandato, sempre defendendo o Estado e fazendo o que tiver de melhor para a população, principalmente para os mais pobres. Não vai ser fácil, mas o Gaguim é um homem de fibra e junto com a população vai fazer um governo que esse Estado nunca viu. Quanto à minha relação com o Marcelo, ela vai muito bem.

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