quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Artigo: Os Temas da Eleição

Daqui a quase exatamente um ano, entraremos na fase final da campanha para as eleições municipais. Em todas as capitais e nas cidades mais importantes do interior, as equipes dos candidatos a prefeito e vereador estarão dando os últimos retoques no discurso que será apresentado aos eleitores através da televisão e do rádio.

Já fizemos muitas eleições municipais no Brasil moderno. Foram sete, contando com a de 1985, específica para as capitais e cidades de “segurança nacional” - que ficaram sem votar para prefeito depois do Ato Institucional nº 3, de 1966 - e as estâncias hidrominerais (onde, por uma dessas bizarrices da nossa tradição administrativa, a população não escolhia prefeitos). Não se pode, portanto, dizer que são coisa nova.

Sem falar nas cidades menores, nas quais os militares não impediram que fossem realizadas eleições para as prefeituras e as Câmaras de Vereadores. Nelas, não houve interrupção e a história desses processos tem quase oitenta anos, vinda desde a década de 1930.

Com tudo isso, já era mais que tempo para que soubéssemos o que são essas eleições e em que diferem das outras, para os cargos estaduais e nacionais. Mas não, parece que não aprendemos. Insistimos em encará-las de forma equivocada.

O principal problema é querer encontrar nelas uniformidades que não existem. Se há uma regra nas eleições municipais é que elas são singulares, pois são determinadas por fatores locais, nos quais a influência das questões nacionais tende a ser pequena.

Ali, a população está preocupada com as enchentes. Aqui, com a falta d’água. No Sul, com o declínio da suinocultura. No Centro-Oeste, com a expansão do cultivo da soja.

Nas cidades grandes, a pauta é uma. Nas pequenas, outra. Há lugares em que a carência de empregos é crítica, e vários em que se tornou irrelevante. Existem cidades obcecadas com a segurança e muitas que levam a vida sem sustos.

É claro que existem fatores nacionais e que os eleitores de todo o país compartilham sentimentos e opiniões. Mas a escolha que terão que fazer no dia 7 de outubro de 2012 é entre personagens concretos, que se habilitam a responder a problemas concretos de cada localidade concreta.

Ninguém avalia um candidato a prefeito de sua cidade em função de um problema do Brasil (por mais grave que seja), do estado (por mais evidente que tenha se tornado) ou de outra cidade (mesmo que seja difundido diariamente pela mídia). Problemas locais (ainda que semelhantes) pedem respostas locais.

Na agenda da população de duas cidades, é possível que a mesma preocupação esteja em primeiro lugar. Sem medo de errar, podemos, aliás, apostar que, na quase totalidade delas, a má qualidade do atendimento oferecido pelo sistema público de saúde está nesse posto.

Mas os candidatos não serão selecionados em função da existência do problema e sim do que fizeram (se forem de continuidade) ou se propõem a fazer (se de oposição) para enfrentá-lo. E as propostas são, sempre, locais, mesmo quando ultrapassam a esfera municipal e envolvem relações com o estado ou a União.

Em outras palavras: perdemos tempo procurando “o tema” das eleições e tentando identificar que fatores atuarão no conjunto do eleitorado de nossos quase 6 mil municípios. O que motiva o voto não é o problema e sim a resposta, e ela é local.

Por isso, faz pouco sentido especular a respeito do impacto eleitoral de uma piora do quadro econômico internacional em 2012. Pelo que lemos na imprensa, teria sido esse um tema debatido pelo comando do PT no seminário realizado em São Paulo no fim de semana.

Questões como a queda do dólar, as dificuldades para a exportação, a perda de velocidade no ritmo do crescimento nacional, são de grande importância para os eleitores (pelo menos, para alguns).

Mas todos sabem que escolher o prefeito da cidade e o vereador são coisas diferentes, que pouco (ou nenhum) efeito têm sobre elas. Nem se escolhe, nem se descarta um candidato por causa delas.

As perspectivas eleitorais do PT piorariam se a avaliação do governo Dilma caísse? Talvez, mas não nos esqueçamos que o partido conquistou apenas 10% das prefeituras em 2008, quando a popularidade de Lula batia recordes. E recebeu 56% do voto válido para presidente na eleição seguinte.

Talvez não precisemos de ilustração maior da pouca relação que há entre voto local e questões nacionais.

Autor: Marcos Coimbra (é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi)

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