*Por Paulo Teixeira
Dirceu Borboleta foi um personagem
singular da teledramaturgia brasileira. Cidadão pusilânime, vacilante, incapaz
de enfrentar a realidade, comungava com os malfeitos de Odorico Paraguaçu,
prefeito da cidade de Sucupira, na novela “O Bem Amado”, exibida em 1973.
Nesta semana, 40 anos
depois, quem fez uma bela homenagem a Dias Gomes foi o senador Aécio Neves
(PSDB-MG). Diante de tantos desmandos e malfeitos do governo tucano do Estado
de São Paulo, o senador reuniu sua tropa de choque e partiu para cima do juiz,
do delegado, do promotor, enfim, de todos aqueles que tomaram providências para
apurar as denúncias, acusando-os de “utilizar o governo para tentar prejudicar
o PSDB”.
O senador deixou de lado as
fartas evidências da corrupção praticada pelo seu partido em São Paulo.
Esqueceu até que uma das empresas, a Siemens, já assumiu a participação em
conluios para a formação de cartel. Não se lembrou também que a justiça suíça
condenou a Alstom por prática de corrupção junto ao governo tucano.
Aécio Neves protagonizou, no mínimo, um cena
de ingenuidade política: acusou o deputado petista Simão Pedro de adulterar
documento; o ministro da Justiça, de encaminhar o tal documento para a Polícia
Federal; e o presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade),
de utilizar o cargo para prejudicar o PSDB. Nem uma palavra sobre formação de
cartel, corrupção e outros desmandos praticados ao longo de 15 anos de reinado
tucano em São Paulo.
As acusações de Aécio são
dignas de um capítulo da novela “Bem Amado”. Sem apresentar provas ou perícias,
a acusação desconhece que eram dois documentos, um dirigido à direção da
Siemens no exterior e o outro, às autoridades brasileiras. Pouco importa se
eram dois documentos. Bastava ao senador Aécio ler a versão em inglês, que
descreve de maneira pormenorizada a sofisticada rede de corrupção, dando
inclusive nomes às empresas envolvidas.
Para que essa encenação não
fique com cara de tentativa de desviar a atenção do mau cheiro que exala do
Palácio dos Bandeirantes, o senador Aécio Neves tem o dever de mostrar ao País
que conhece de política mais que de lepidópteros (borboletas), cobrando a
investigação das denúncias, a responsabilização criminal dos envolvidos e a
devolução dos recursos, para destiná-los aos transportes públicos de São Paulo
– de onde, aliás, foram desviados por seguidas reencarnações de Odorico
Paraguaçu.
Paulo Teixeira é deputado
federal (PT-SP).
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