domingo, 10 de agosto de 2008

Entrevista - Raul Filho (Fonte: Jornal Tribuna do Planalto - 10/08/08)



A decisão oficial de disputar a reeleição só foi anunciada pelo petista Raul Filho, prefeito licenciado de Palmas, no último momento. A ação, porém, não foi combinada como uma estratégia. Em entrevista exclusiva concedida à Tribuna do Planalto, ele explica que, de fato, pensava em não se candidatar ao cargo novamente por ser contra o estatuto da reeleição. Mas, diante das outras propostas apresentadas, mudou de idéia. A justificativa é que seria “muita omissão” se excluir da disputa.

Raul argumenta que tirou a Prefeitura da Capital da dificuldade financeira e a levou a um novo patamar administrativo. Há problemas sim, na opinião dele, mas o avanço é inegável em muitos setores. Aqui ele fala mais detalhadamente de alguns deles: o transporte público, a habitação, a educação e a cultura. Admite, contudo, que, de cara, pretende mudar substancialmente um aspecto da última gestão: o distanciamento em relação à sociedade palmense e à opinião pública.

“Passei dois anos e meio em clausura porque precisava mergulhar nos problemas administrativos de ordem interna e externa”, conta. Agora ele quer fazer diferente. Quer falar à população e contar o que fez e o que pretende fazer. Mesmo porque a eleição de 2008, para ele, vai ser decidida no palanque eletrônico e no debate. E vai ganhar quem tiver mais poder de convencimento. Confira os principais trechos da conversa.


Tribuna do Planalto - Na última vez em que concedeu entrevista à Tribuna do Planalto, o senhor ainda não havia definido pela candidatura. Por que a demora?
Raul Filho - Não foi nada proposital ou combinado. Houve um momento em que imaginava mesmo não ser candidato por entender que, em primeiro lugar, nunca fui favorável a reeleição. Por entender que tem que se abrir novas oportunidades a outros. Mas, como a lei me faculta isso, pensando no trabalho que implantamos, numa prefeitura em que, ao tomarmos posse, nos vimos num processo totalmente trucidado, desmantelado, uma gestão capenga que nos tomou nada menos que dois anos para reorganizar, elaborar projetos, criar programas, implantar e começar a colher resultados. Entendi que seria muita omissão minha me excluir do processo de disputa. Tenho a certeza de que o nosso projeto, diante dos demais colocados, ainda é o melhor para a cidade. Isso me motivou a dar continuidade a tudo. A promoção, o desenvolvimento social, econômico e sustentável de Palmas dependem do nosso programa, dependem da nossa ousadia.


O sr. acha que faltou alguma coisa na sua gestão?
Você nunca consegue completar uma gestão aos seus olhos e desejos, principalmente em se tratando de uma cidade como a nossa, que tem suas peculiaridades, diferentes de qualquer outra, pela própria forma como foi criada e se implantou. Não tiveram o cuidado de se preocupar com o seu avanço, com o seu ordenamento. Tudo isso implica em investimentos dispersos. Todas as áreas têm que ser bem cuidadas, seja saúde, educação, cultura, lazer, infra-estrutura. Então sempre vai faltar alguma coisa. O que a gente soma de forma positiva são os pontos em que nós crescemos. A habitação, por exemplo, com um programa que a cidades não tinha e hoje tem em curso de forma sólida. A infra-estrutura, em que conseguimos atender demandas de inúmeras quadras e avenidas de forma definitiva, devido ao projeto legal, seja de pavimentação, de drenagem... Temos aí uma cultura que sempre esteve abandonada e que hoje tem projeto, programa, recursos, resultados. Uma educação que conseguimos tirar do caos e dar a ela visibilidade, auto-estima aos seus trabalhadores, credibilidade para a opinião pública. Crescemos mais de 35%, e o crescimento se deu por conseqüência de tudo isso. A gestão pública avançou consideravelmente em vários setores. No setor rural tivemos um crescimento fantástico, fenomenal. Na área de Parques e Jardins, tivemos crescimento fantástico se comparado ao passado.

A gestão do sr. recebeu criticas por conta da questão de impostos, principalmente na área de iluminação pública. Esse é o caminho para se resolver o problema da cidade ou há outros caminhos?
Você tem um Código Tributário que muitas das vezes não se adequa à realidade da cidade, do Estado ou da União. Nós tínhamos um Código Tributário que foi implantando no inicio da cidade e nunca passou por adequações. Mas os problemas se avolumam. Coloquei isso uma vez e talvez tenha sido mal entendido, mas nunca temi: o poder público vive do que arrecada. Se arrecada, ele executa. Se não arrecada, não tem como realizar. Insisto em dizer também: a qualidade de vida não tem preço. O que ocorreu? Tínhamos um sistema de iluminação precário. Ao assumir a Prefeitura, não tínhamos sequer orçamento para pagar a iluminação dos logradouros públicos - e eu não me refiro nem à iluminação pública... Isso tinha que ser pago porque, caso contrário, teríamos energia na rede e escuridão nas ruas. Tivemos que submeter isso à Câmara de Vereadores e os argumentos convenceram toda a Câmara. Era preciso aprovar a contribuição de iluminação publica. Hoje atendemos 60% do que se gasta. Ainda não chegamos a 100%. Expandimos a rede por bairros que há 12, 13, 14 anos esperam chegar iluminação pública: União, Irmã Dulce e muitos outros. O centro da cidade tem recebido iluminação, a exemplo da Avenida Theotônio Segurado. Muitas avenidas no centro da cidade que eram escuras hoje estão iluminadas. Não faríamos isso se não houvesse arrecadação. Mas falta muito. Hoje o Brasil inteiro cobra taxa de iluminação pública e 72% das cidades tocantinenses já fazem isso há muitos anos. Palmas não fazia. São decisões que qualquer governante responsável, mesmo consciente do desgaste, tem que tomar. Outro exemplo é o transporte público. Ou se fazia as mudanças necessárias ou se teria um caos implantado muito em breve: sucateamento das estruturas das empresas, elevação da tarifa... Quando tomamos a decisão, 32 mil a 33 mil pessoas usavam o transporte público diariamente. Hoje são 50 mil. Há desconforto? Há. Mas são ajustes que estão sendo feitos com o tempo. Temos uma cidade planejada, com uma Theotônio Segurado que funciona como eixo coletor de todo o sistema viário. Isso tinha que ser feito mais cedo ou mais tarde, e nós ousamos fazer de uma vez: reduzir o preço da passagem, integralizar o sistema e torná-lo eletrônico. É o sistema mais perfeito que qualquer engenharia de trânsito poderia formar.

Mesmo pagando menos, a população espera mais do transporte coletivo. Quanto tempo ela pode ter que esperar pela melhoria?
Vivemos o momento em que o bilhete na cotação nacional, pelo IPK de Palmas, teria que custar R$ 2,32. Havia uma redução de usuários porque o preço existente era incompatível com os ganhos que eles tinham. Qual era a opção do usuário? Andar a pé ou de bicicleta. Conseguimos fazer um caso sui generis no País. Não se conhece uma cidade no Brasil em que tenha se reduzido a tarifa de transporte coletivo. Nós somos a primeira e foi uma redução considerável, num momento em que todo o País estava aumentando a tarifa. Nós reduzimos, e combinamos o bilhete eletrônico com a integralização. Havia muitos pontos próximos e tivemos que fazer uma junção de esforços, unificar linhas, o que levou o cidadão, muita das vezes, a andar uma quadra a mais. Ele tinha que pegar num ponto e passou a pegar num segundo. Mas ele passou a ter um número maior de usuários, o que, por sua vez, contribuiu com a redução do bilhete. No momento em que se aumenta a demanda, o carro passa a andar mais lotado e se reduz o custo. Agora, quanto aos ajustes, temos projetos que há bastante tempo estão em busca de financiamento junto ao Bird [Banco Mundial] e também no Ministério das Cidades. Mas, independentemente disso, estamos fazendo os ajustes e você pode perceber que há menos reclamação. A empresa também precisa sobreviver e na hora em que se apertou muito a exigência, elas passaram a ter condições de competir com a compra de pneus, de peças, salário do motorista, combustível - o diesel subiu agora 15% e isso não tem que ser repassado à empresa, é para o usuário. A população tem que perceber isso. Às vezes a gente não esclarece e é a nossa falha, mas o sistema é perfeito e nós vamos ter a oportunidade de debater isso com os outros candidatos na televisão.

O sr. acredita que faltou uma divulgação melhor das mudanças no transporte público, na iluminação pública e em outras questões?
Nós assumimos uma Prefeitura em que faltava recursos até para abastecer os carros. Não tinha um telefone funcionando, e sim uma dívida de mais de R$ 2 milhões. Assumimos uma Prefeitura que não tinha um centavo para a iluminação pública e com a dívida já vencendo. Então não havia sequer recursos para divulgar. Tínhamos que tomar medidas, sanear as dívidas, reorganizar as finanças e criar caixa para começar a trabalhar. A questão do transporte nós divulgamos por meio de uma cartilha, por sinal muito bem explicada e disponibilizada nos pontos de ônibus. Mas convenhamos: nem todos procuram ler para facilitar a própria vida. Às vezes se depara com o problema e tem a solução no bolso, mas não tem o zelo de recorrer às instruções. Tivemos casos ainda de servidores dizendo para o patrão que havia chegado atrasado em razão do transporte. Hoje todo passageiro de Palmas que pega o transporte coletivo em qualquer ponto da cidade tem registrado o horário e o local em que ele subiu e desceu. A vida dele é monitorada eletronicamente. Com isso, ficou constatado que muitos usavam esse subterfúgio para justificar seu atraso. Em outros casos nós reconhecemos o erro e tivemos que fazer os ajustes. A falta de comunicação não foi por falta de visão, e sim por falta de condições, porque estávamos diante de um caos.

O sr. acredita que, numa segunda gestão, caso seja reeleito, pode haver mudanças?
Sem dúvida. Já temos mudanças. Eu vivi um momento na Prefeitura em que não tinha opção. Primeiro foi a clausura: não tinha nem como ter contato com a opinião pública porque todo dia tinha que matar um leão. Hoje temos uma Prefeitura que tem seus problemas, mas que está relativamente estruturada, com um orçamento que tem início, meio e fim, um controle de RH. Hoje nós temos como controlar essas ações, planejar o que será feito e divulgar o que não foi divulgado. Temos a convicção de que devemos usar o velho ditado popular - "quem não comunica se estrumbica". O cidadão recebe a casa dele, que a prefeitura conseguiu construir para tirá-lo do aluguel ou situação pior, está dentro dela. Mas tem que ver na televisão que a Prefeitura fez aquilo, porque, caso contrário, ele não se contenta. Precisa ver o que o poder público está fazendo para ele, que quadra vizinha está feita uma escola, que está pavimentando a rua. Então tem que mostrar, tem que informar e nós não podíamos fazer isso. Muitos governantes buscam num primeiro momento maquiar. Nós optamos por construir.

Em quais outras áreas os serviços podem ser ampliados?
É mais fácil mostrar como uma determinada uma área era antes e como é agora. Por exemplo, a cultura. Hoje temos duas mil pessoas, entre crianças, adolescentes, jovens e adultos, no Centro de Criatividade do Espaço Cultural. Alguns deles com bolsas de até R$ 100. Os recursos da cultura antes eram para pagar artistas de fora. Você não tinha notícias de que artistas daqui tinham um cachê digno. Hoje nós investimos 100% aqui. Em casos esporádicos nós trazemos de fora. Quando assumi a Prefeitura, o edital de cultura tinha sido criado no último ano da gestão anterior por uma questão política. O preço estabelecido foi de R$ 40 mil e nem isso foi pago. Paguei o edital anterior já na minha gestão. De R$ 40 mil, o edital de cultura passou hoje para R$ 400 mil. Houve uma mudança. Os megashows, com 25 mil a 30 mil pessoas, a festa junina e a passagem de ano novo são feitos todos com artistas de Palmas. E todos estão satisfeitos. No Carnaval vem banda de fora, mas para cada banda de outro Estado nós temos três daqui. A mudança que fizemos da festa de final de ano para a Praia da Graciosa, que já está em seu terceiro ano consecutivo, recebe um público de aproximadamente 30 mil pessoas e a população fica ali até amanhecer. O Balé de Palmas, por exemplo, que hoje orgulha qualquer platéia, é investimento do poder público. Na Educação, saímos do piso e fomos para o teto. Não o teto que desejamos, mas são mudanças radicais. Quer um exemplo de mudança? Assumimos a prefeitura com os professores desestimulados e que queriam estar sempre à disposição de outro órgão ou de licença por interesse particular. Hoje todos brigam e desejam estar em sala de aula. Hoje temos 30 mil crianças na rede de ensino. O professor que antes era muito mal remunerado, que não acreditava no ensino do qual ele fazia parte, que sonhava com o filho na escola particular, hoje, sem exceção, se orgulha de ter o filho estudando na rede pública municipal. Filhos de juízes, de promotores, de empresários renomados na cidade estão nas escolas públicas do município. Temos ações na Justiça de pessoas com poder aquisitivo alto lutando para que seus filhos freqüentem a escola de tempo integral. Não foi só estrutura física, mudou muito a política pedagógica, mudou o nível de ensino dos professores que passam por reciclagem, cursos e congressos nacionais e internacionais, bolsa universitária que os incentivam a ir para a universidade. Mudou muito o conteúdo também. Você vai no Centro de Educação Infantil, que antes era chamado de creche, que tínhamos como se fosse um amontoado de crianças, e vê que hoje temos dignidade, cidadania. Você vai ver como está a vida dele e fica feliz pela qualidade da estrutura física, da alimentação, da forma com que está sendo tratado, a relação de humanidade. Na habitação todos os antecessores juntos não construíram metade do que já foi construída nesta gestão e que já entregamos para a população de Palmas. Nós temos um programa de habitação que não existia.

O que o candidato Raul Filho irá mudar na gestão do prefeito Raul Filho?
Com certeza uma mudança haverá e será na relação do prefeito com a sociedade. Como eu já disse, passei dois anos e meio em clausura porque precisava mergulhar nos problemas administrativos de ordem interna e externa (fora da cidade). Isso demandava tempo e eu não tinha tempo. A minha agenda externa era 30% do meu tempo e hoje eu tenho condições de estar direto na rua e fazer aquilo que eu gosto. Outra coisa em que haverá mudança será a ampliação dos programas, a exemplo do Turismo. Hoje temos bons investimentos em turismo, com recursos garantidos para isso, as nossas praias são revitalizadas com jardins, irrigação, iluminação, irrigação e asfalto, além de recursos para investir em mais duas grandes praias com toda a infra-estrutura, procurando dar mais foco ao turismo. As trilhas de Taquaruçu, a catalogação das cachoeiras de Taquaruçu...

A sua gestão assumiu responsabilidades que são do Estado, a exemplo das águas do Lago no problema das piranhas. Caso reeleito, o sr. continuará assumindo esta responsabilidade?
A Prefeitura organiza a praia e dá toda a infra-estrutura. Temos um problema de desequilíbrio ambiental que se deu por algum motivo. O poder público pode impedir que o cidadão não seja atingindo e estamos trabalhando com o sistema de cerca, sendo que já fizemos uma e temos recursos garantidos para fazer nas demais. Não vejo outra coisa que possa ser feita. A administração nunca se furtou dessa responsabilidade, nunca se omitiu. É uma responsabilidade à parte e nós podemos chamar os órgãos ambientais e a universidade para ver o que pode se feito.

O sr. disputa as eleições mais uma vez contra a deputada federal Nilmar Ruiz (DEM). Em 2000 ela venceu; em 2004 o sr. venceu. Em 2008 como o sr. vê a disputa. É um "tira-teima"?
Cada eleição tem um sentimento diferente e o comportamento do eleitor também é diferente para cada candidato. A eleição de 1996 não retrata a de 2000. Já a de 2000 refletiu muito no sentimento do eleitor para 2004 e que mostrou que ele desejava mudanças. Acredito que a de 2008 será diferente das demais. Devemos admitir que ela será muito mais competitiva que as demais, até pelo momento. Temos candidatos de potencial como a deputada Nilmar Ruiz, que tem todo o aparato do governo [estadual], explora o prestígio do governo. E não podemos negar que ele [Marcelo Miranda] tem prestígio. Ele diz que é ponto de honra elegê-la e isso pesa. Por outro lado, tem o deputado Marcelo Lelis, que tem uma estrutura consolidada e faz parte de uma agremiação política [a União do Tocantins] que tem história no Estado, com serviço prestado. O nome é forte. Mas também é negar a realidade dizer que nosso nome não é competitivo pela história de vida que temos, pela gestão que estamos desenvolvendo. As pesquisas mostram que meu nome é o mais conhecido em Palmas. Mas isso não garante que eu vá ganhar as eleições. Será uma eleição competitiva e ela será decidida a favor de quem for mais propositivo, de quem tiver mais poder de convencimento. Ainda temos um cenário muito embolado, com pesquisas que nos colocam à frente e outras que não. Imagino que essa campanha irá até o extremo e que será decidida no palanque eletrônico e nos debates. E não podemos desprezar aqueles candidatos que são tidos como lanterninhas, eles podem surpreender. De todas as eleições que disputei, essa é a que está me provocando mais entusiasmo e desejo, por ser a mais difícil.

Como o senhor vê a despolarização destas eleições? Ela traz um cenário novo para o Estado e uma terceira força?
A terceira força foi um projeto meu de 1994, na época do meu rompimento com o sistema que governava o Estado. Criei a terceira força e hoje não vejo que o Tocantins tenha campo para uma terceira força, porque todas são forças motrizes que têm apelo popular. O PT, junto com os partidos aliados, é uma força política competitiva aqui ou em qualquer outra cidade do Estado, assim como não podemos negar as demais forças. As eleições municipais deste ano pautam as de 2010 e por isso a eleição é mais competitiva e mais preocupante para o governo. Se o governo perder as eleições municipais aqui, ele é o derrotado, não é a Nilmar. Então a responsabilidade é dele e nós vamos derrotar é a ele. Se o Marcelo Lelis perder as eleições, o derrotado não é ele e sim o grupo do Siqueira Campos. Se o Raul Filho perder as eleições, o derrotado é o Raul Filho e por isso ele vai lutar para derrotar os dois separados. Porque juntos já derrotamos duas vezes. Hoje eles estão divididos e nós temos mais chances e eles estão preocupados porque o resultado irá refletir direto em 2010.

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