O suplente da senadora
reeleita Kátia Abreu (PMDB), Donizete Nogueira, que é ex-presidente regional do
PT, acredita que seu partido saiu mais fortalecido das eleições deste ano e,
por isso, terá cacife político-eleitoral para disputar as eleições municipais
em 2016. No entanto, entende que a disputa pela prefeitura de Palmas é um
assunto ainda prematuro e que qualquer avaliação acerca desse processo seria
precipitada. No seu entendimento, a questão deve ser resolvida no futuro, sem
pressa, visto que depende de uma série de entendimentos e articulação, em que
pese ser um eterno defensor da candidatura própria. Na entrevista exclusiva ao
Jornal Opção, o petista considera que é perfeitamente possível conciliar as
atividades do agronegócio com os interesses da classe trabalhadora. Ele acha
que esse é o caminho para o desenvolvimento da agroindustrialização do
Tocantins.
O PT saiu fortalecido dessas
eleições, em comparação com a anterior?
Penso que sim. Conseguimos
participar de uma coligação vitoriosa, que elegeu o governador e a senadora,
manteve a bancada que havia sido eleita anteriormente e elegendo três deputados
estaduais. O PT foi o segundo partido mais votado para deputado estadual no
Estado e, além disso, elegemos a presidente da República. O fato de sairmos
vitoriosos regional e nacionalmente aponta um potencial muito grande de
crescimento do partido por um bom período. Do meu ponto de vista, acredito que
saímos fortalecidos e temos possibilidade de ampliarmos essa força nos próximos
dois anos, para a disputa das prefeituras.
A prefeitura de Palmas, por
exemplo, está nos planos do PT? O partido dispõe de nomes para a disputa?
Pessoalmente, sou sempre a
favor da candidatura própria. Agora, o PT vive um momento diferenciado em
Palmas. O partido está na base do prefeito (Carlos Amastha – PP), o nosso
vereador (Valdson da Agesp) apoia o prefeito e, embora tenha participado de uma
coligação vitoriosa para o governo do Estado, tem participação na administração
municipal. Assim, acredito que qualquer posicionamento com relação a Palmas é
precipitado para o PT. Penso que o partido precisa debater nesses próximos dois
meses para pensar e discutir o projeto das eleições municipais em nível
estadual e, principalmente, Palmas, que tem uma relevância muito grande. A
questão é fazer um planejamento para saber o que o PT quer para os próximos
quatro anos e onde a gente pode situar Palmas dentro desse projeto estratégico.
Portanto, nesse momento, eu não tenho um posicionamento definitivo sobre Palmas
especificamente.
O PT governou a capital por dois
mandatos consecutivos, mas o ex-prefeito Raul Filho teve uma relação conturbada
com a direção do partido. Raul Filho foi ameaçado de expulsão, o que não
ocorreu como pretendia a direção regional. Ele poderá ser expulso agora?
A aliança do PT que governou
Palmas por dois mandatos, teve no primeiro mandato uma relação muito bem
sucedida com a cúpula do partido, tanto que o então prefeito foi reeleito. Já
em meados do segundo mandato, houve um rompimento do prefeito com o partido,
pois não quis mais seguir a orientação partidária, passou por aquele processo
que a direção regional o expulsou, mas a direção nacional transformou a
expulsão em suspensão e, de lá para cá, a relação entre o ex-prefeito Raul
Filho e a direção não existe mais. Ele tem seu caminho próprio e essa eleição
foi um exemplo desse divisor, visto que ele (Raul Filho) foi totalmente
contrário a qualquer decisão do partido.
Mas ele chegou a ser
expulso?
Não. Esse é um processo que
ainda não chegou a ser discutido. Agora, se vai ter expulsão, se ele vai sair
ou não, eu não sei. Eu sei que o partido, terminada a eleição, vai fazer uma
reflexão, um levantamento, para definir que tipo de tratamento vai dar aos
infiéis, ou seja, àqueles que não apoiaram as decisões do partido.
O sr. acredita que, agora,
Raul Filho entrou definitivamente no ostracismo político e, com isso, terá
dificuldades para reconquistar o seu espaço? Ele tem cacife eleitoral para
enfrentar, por exemplo, uma nova eleição nos próximos dois anos?
Eu não gosto muito de tratar
desse assunto, mas eu diria que o ex-prefeito Raul Filho passa por um momento
difícil na vida política. Os resultados das eleições comprovam isso. Resultado
de um erro cometido lá atrás, quando não quis ser candidato a governador e
todos os acontecimentos posteriormente desaguam nesse momento político que ele
está vivendo. Ele tem um nome, mas é um momento difícil na vida política dele,
porque as opções que ele fez se mostraram todas erradas. Acho que Raul Filho
tem que fazer uma reflexão, uma vez que no PT ele não tem mais lugar.
O partido não pode
reconsiderar essa postura?
Não tem como, porque foram
opções diferenciadas das decisões do partido. Ele mesmo sabe e vai procurar um
caminho onde ele possa se abrigar politicamente, uma vez que desconstruiu o seu
projeto dentro do partido. O melhor para ele (Raul Filho) é procurar outro
espaço político onde possa reconstruir ou recuperar o seu potencial eleitoral.
Sobre a transição de
governo, qual a participação que o PT terá nesse processo?
Quem comanda o governo é o
governador. Somos um partido que veio para a coligação e acredito que todo
mundo entende que o PT ajudou a viabilizar a coligação que elegeu o governador,
essa soma da militância do partido, do tempo na televisão, as lideranças que o
partido tem, mais o PV, o PSD e o PMDB foi uma soma vitoriosa. E o PT, com o
patrimônio político-eleitoral que tem, contribuiu sobremaneira para a eleição
do governador e da senadora. E a expectativa do partido é de participar do
governo. Temos bons quadros, estamos preparados para contribuir com o novo
governador, para que ele possa fazer um grande governo. O Estado precisa de um
grupo muito coeso para recolocá-lo no caminho do desenvolvimento, porque passa
por muitas dificuldades, e o PT está pronto para contribuir com os seus nomes e
suas expertises, para ajudar Marcelo Miranda a fazer o melhor governo do
Tocantins.
O sr. poderia citar alguns
desses nomes que o PT dispõe para compor a equipe de governo?
Eu não posso citar nome,
pois essa é uma discussão que o partido tem que fazer, mas o PT tem muitos
nomes, seja de quadros políticos com preparação técnica, seja com visão
política.
O sr. acredita, então, que o
critério a ser adotado pelo novo governador para montar sua equipe tem que ser
uma combinação entre capacidade técnica e política?
Não vejo a possibilidade de
se ter uma boa gestão se o gestor não tiver visão e habilidade política. Agora,
tem que ter o apoio de pessoas que tenham também compreensão técnica para ser
um bom gestor. Dizer que uma administração é meramente técnica é uma
ingenuidade, porque estamos tratando de um ambiente muito político. E aí, o que
dá certo é uma combinação entre o político e o técnico, uma mão dupla, um
político que saiba de gestão e que tenha ao lado dele bons técnicos e técnicos
que tenham visão política capazes de ocupar áreas de comando na gestão. Na
linha desse raciocínio, penso que todos os partidos que fizeram parte da
coligação vitoriosa têm quadros com esse perfil, para ajudarmos o governador
Marcelo Miranda a fazer uma excelente gestão.
O governador eleito Marcelo
Miranda deve enfrentar uma prova de fogo na Assembleia Legislativa, logo
início, principalmente porque a coligação que o elegeu não fez maioria na Casa.
O sr. acredita que ele terá habilidade política para conseguir emplacar as suas
primeiras ações para fazer o tão falado choque de gestão?
O que o Estado precisa mesmo
é de planejamento e gestão. O modelo de choque de gestão que tem na cabeça das
pessoas é diminuir o tamanho da máquina e privatizá-la. Esse modelo de choque
de gestão não tem viabilidade em lugar nenhum. A gestão que vai dar certo, e
que eu acredito que o governador Marcelo Miranda vai fazer, é uma gestão com
planejamento integrado, transversalizado e com muita eficiência. Precisamos
juntar, no exercício da gestão, toda eficiência necessária para que tudo se
efetive de acordo com as metas planejadas, com aquilo que foi projetado para
ser realizado. Para realizar tudo isso, acredito que o governador (Marcelo
Miranda) não terá dificuldades na Assembleia Legislativa porque é preciso ter
oposição no Parlamento. Mas também acredito que, entre os deputados eleitos, é
possível encontrar um grupo que esteja preocupado com o Estado e que não esteja
envolvido em processos anteriores que foram traumáticos na relação com Marcelo
Miranda. Então, acho que a renovação da Assembleia Legislativa vai permitir que
o governador tenha uma bancada suficiente para fazer a Mesa Diretora e, dessa
forma, fazer um bom governo.
O PT dispõe de nomes com
possibilidade de aglutinar no sentido de disputar a presidência da Assembleia
Legislativa?
Na verdade, o partido tem
pretensões. Eu vi pela imprensa, embora o companheiro Paulo Mourão (deputado
estadual eleito) não tenha dito que pode ser candidato, o deputado Zé Roberto,
numa reunião da Executiva do partido, apresentar seu nome para ser avaliado
para a disputa pela presidência da Casa. O PT dispõe de nomes para chegar lá,
com capacidade técnica, política e de articulação para serem apresentados como
candidatos à presidência da Assembleia. Agora, ser candidato por ser candidato
também não adianta. Vai depender de um comando do governador, que vai ser o
maestro na construção da eleição da Mesa Diretora, o que não pode ser
confundido com interferência no Legislativo. Isso não é interferência. Marcelo
Miranda foi eleito governador e precisa construir uma bancada de apoio na
Assembleia e, se puder ter o presidente, vai trabalhar para isso. Não para ser
um serviçal seu, mas para ser uma pessoa com a qual possa discutir sem
conflitos. Os nomes do PT estão aí à disposição, se o governador precisar e a
gente reunir as condições, tanto Zé Roberto quanto o Paulo Mourão, cujos nomes
já foram ventilados. Para nós será uma grande honra ter o presidente da
Assembleia, numa articulação que envolvesse o partido e a bancada de apoio ao
governo.
O sr. acredita que, com a
eleição de Marcelo Miranda, um novo tempo na relação do Poder com os movimentos
sociais, com os partidos políticos e os gestores municipais será inaugurado?
Eu acredito que hoje, com
muito mais experiência, depois de ter passado seis anos e meio no governo do
Estado, o governador Marcelo Miranda está mais bem preparado para isso e tem
condições para arremessar a sua administração como um governo do diálogo com a
sociedade, da participação popular, da democracia e da transparência. Um
governo de fato moderno no sentido de ser novo na relação, na tratativa com a
população, no envolvimento da sociedade no processo político. E não ser novo
apenas em implantar programas diferentes, mas na forma de exercer o poder. Nas
suas gestões anteriores, o governo de Marcelo Miranda já foi inovador para
aquela época e agora ele terá a oportunidade, depois de toda a bagunça que
passamos, de trazer inovações, envolvendo a população nas decisões dos rumos da
política tocantinense. A partir das discussões com os setores organizados,
tanto do setor produtivo quanto dos trabalhadores, poder construir uma matriz
de desenvolvimento para o nosso Estado que faça dele, nesses próximos quatro
anos, um dos estados mais ricos e desenvolvidos da região amazônica e um dos
centros logísticos mais versáteis e mais ágeis do Brasil. Isso porque já
dispomos de um modal de transportes (ferrovia, hidrovia, rodovias) e, com o
apoio da presidente Dilma e a disposição do novo governador, esses próximos
quatro anos marcarão um novo ciclo de desenvolvimento e de relação política no
nosso Estado.
A senadora Kátia Abreu
sempre foi uma adversária visceral do PT, por ter uma postura de defesa
ferrenha do agronegócio, e agora é uma grande aliada do partido. O PT,
inclusive, fez parte da chapa majoritária lançando o primeiro suplente de
senador, que é o sr. Quem mudou, de fato, nessa relação? Não seria um
contrassenso?
Um eleitor, certa feita, me
perguntou: “mas o PT e a Kátia Abreu não eram inimigos”? Eu respondi que não,
nós não éramos inimigos, nós éramos adversários políticos. Adversários que,
naquele momento, tinham uma visão conjuntural diferente. Ela percebia a
conjuntura de uma forma e nós, de outra. Nesse momento, nós temos uma visão
sobre a conjuntura local e nacional parecida, se não igual, ela quis a
reeleição da presidente Dilma e a eleição do Marcelo Miranda que, por tabela,
nós queríamos. Então, não vejo contrassenso nessa composição, porque estávamos com
a mesma visão. Ou seja, o que era importante para o Estado e para o Brasil. Uma
aliança que foi necessária, muito positiva para o Tocantins e para o Brasil.
Nesse processo, reconhecemos a importância do PMDB para a reeleição de Dilma,
com a participação da senadora Kátia Abreu pela sua importância e influência no
agronegócio e também a importância do PT para a eleição de Marcelo Miranda.
Agora, em termos práticos,
regionalmente falando, há como conciliar as atividades do agronegócio com os
interesses dos trabalhadores?
Há que se discutir o
seguinte: o agronegócio é só para o grande ou o negócio da agricultura familiar
ou da agricultura de áreas extensivas ou dos grandes agricultores? Aqui no
nosso Estado há um potencial muito grande para a agricultura de grande porte,
mas por outro lado, temos um exército de agricultores familiares de cerca de
250 mil pessoas economicamente ativas, cerca de 55 mil famílias de agricultores
familiares e assentados. Então, essa articulação do agronegócio com a
agricultura familiar é o caminho para que possamos agroindustrializar o Estado,
articulando esses dos setores do campo. Eu acredito que essa aliança do PT com
o PMDB, PV e PSD, de lideranças como a senadora Kátia Abreu, o governador
Marcelo Miranda, Paulo Mourão, Santana, Donizete, Júlio César, Zé Roberto e
outros companheiros pode dar muito certo porque nós queremos o desenvolvimento
do Estado.
Fonte: Jornal Opção Tocantins
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