segunda-feira, 15 de março de 2010

Entrevista: "O povo não gosta de governo fraco" - Raul Filho


O quadro político mudou bastante nas duas últimas semanas no Tocantins. A desistência do senador João Ribeiro (PR) de disputar o governo do Estado deixa apenas um nome exposto na disputa, o do prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), que chegou a ser anunciado em algumas ocasiões. É verdade que para consolidar a candidatura ainda falta muito, mas como é um dos que precisa deixar o cargo seis meses antes da eleição para não ficar inelegível, naturalmente o cerco vai se apertando.

Na medida em que chega ao fim o prazo de desincompatibilização para concorrer às eleições deste ano, o prefeito Raul Filho vai sendo cada vez mais pressionado a anunciar se deixa ou não a Prefeitura de Palmas. Há cerca de duas semanas o presidente nacional licenciado do PDT, ministro Carlos Lupi, veio à Capital tocantinense e lançou a candidatura do petista ao governo. Nas palavras do próprio ministro, o nome de Raul tem apoio da cúpula nacional do PT, do presidente Lula e da ministra Dilma Rousseff, além, é claro, do seu partido, o PDT, tanto em nível nacional, quanto em nível estadual. Lembrou ainda que, com a saída de Raul, o PDT herda a Prefeitura de Palmas, com Edna Agnolin.

Nesta entrevista exclusiva, o prefeito Raul Filho fala de sua administração e da possibilidade de disputar o governo. Além disso, opina sobre como deve ser o comportamento de um governante perante determinadas situações e analisa o quadro político do Estado. Apesar de muita gente também considerar a possibilidade de Raul disputar uma vaga ao Senado, o prefeito só falou na possibilidade de concorrer a governador.


Tribuna do Planalto - Que avaliação o senhor faz desta sua segunda gestão?

Já estamos com mais de um ano no segundo mandato e pode-se dizer que em toda gestão você enfrenta ações burocráticas que, muitas das vezes, emperram o cronograma que você estabelece. Mas tenho a certeza de ter tido grandes conquistas. A cidade é o exemplo do que ela vem recebendo. A gente não mede a ação de um gestor só por obras físicas. Numa cidade como a nossa, com problemas sociais de toda ordem, você tem que mensurar isso também. A nossa cidade cresce em qualidade de vida, aumenta sua oferta de trabalho, cresce no comércio, cresce na indústria, cresce na educação, avança na saúde, temos tido crescimento considerável na habitação. São programas que estão implantados e que vem tendo avanços e atendendo à população na expectativa nossa e no que nós estabelecemos como meta.

Mas há problemas?

Há atrasos em setores como infraestrutura porque não tivemos a sorte de contar... Primeiro teve a correção de uma licitação que assumimos a gestão por mão de obra da própria prefeitura. Depois teve a questão que nos deparamos com o período chuvoso. Tudo isso tem gerado um certo atraso em alguns setores. Mas considero que a gente está fazendo muito e faremos muito mais neste segundo mandato, do que o que foi feito nos quatro anos passados.

Educação continua sendo prioridade na sua gestão?

Nós temos priorizado a Educação. Por quê? Essa é uma bandeira que todo político que postula cargos executivos levanta. Todos têm a oportunidade e poucos fazem. E nós tivemos mesmo esta determinação de dar às crianças de Palmas essa qualidade de vida. Porque não é só a parte pedagógica. Isso tem contribuído também na questão de formação, assistência médica, odontológica. Até mesmo na parte intelectual, porque eles têm muitas atividades culturais e esportivas. Estamos construindo a verdadeira cidadania. E também preparamos eles da educação infantil para o nível fundamental, do fundamental para o médio, para que possam ser competitivos. Assumimos a educação como uma bandeira do nosso governo e estamos cumprindo o que estabelecemos.

Por tudo isso que o sr. colocou, vários de seus companheiros de partido e de coligação têm conclamado a sua candidatura a governador ou a outro cargo em que possa contribuir mais com o povo tocantinense. Como analisa esses pedidos?

Em primeiro lugar, fico feliz quando vejo o meu partido me convocar para esta missão. O PT me convidou para assumir a condição de candidato ao governo do Estado. E vejo também que setores da sociedade têm manifestado simpatia por este projeto e pelo nosso nome. Agora, entre tomar uma decisão para ser candidato e me manter à frente da Prefeitura para continuar este trabalho, depende de uma série de fatores que estão em estudo. Tenho que ter, sobretudo, o trabalho como a lógica de uma campanha que tem grandes perspectivas de vitória. Então, isso está em análise e eu quero que até o dia 20, no máximo, para ter uma decisão se serei ou não candidato.

Neste novo quadro político que se desenha no Estado, tivemos há poucos dias o senador João Ribeiro manifestando sua decisão de não mais disputar o governo e de postular a reeleição para o Senado. O sr. acredita que esta posição atrapalha as articulações ou coloca o senador mais perto do que nós conhecemos hoje como oposição ao governo do Estado?

Não acho que atrapalha. Se você for olhar a história política do Estado, nós sempre tivemos um cenário de um setor forte e outro não, fragilizado, mas com menos condições de fazer este debate. Hoje não. O Tocantins está colocado no cenário político para a sociedade numa ciência que está melhor estudada do ponto de vista do eleitor. Não temos mais eleições decididas na convenção. Ela hoje é decidida na urna. Num passado recente se decidia na convenção quem eram os candidatos e quem estava eleito. Hoje é diferente. O povo está muito politizado e a posição do senador João Ribeiro é a de um líder que, é lógico, contribui onde estiver. Mas não quer dizer que isso é determinante.

Não basta passar na convenção?

Não. Você tem que ter apelo popular. Vivemos um momento no passado, repito, que as pessoas tinham medo de se manifestar e que votavam por indução. Hoje isso não existe mais. Vivemos em plena democracia e não há mais espaço para imposição, para truculência, para o medo. A gente conseguiu superar esta fase. Vamos ter com segurança no próximo governador um homem que possa trazer para a sociedade um debate amplo, que venha a convencer pelas suas propostas, programas, e também pela sua história. Não vejo que o povo está por decidir aí porque o líder tal fragilizou e voltou para o grupo tal. Ou um que fraquejou e entende que tem que estar do lado do mais forte, do mais adinheirado. Isso não. A gente começa a colher agora a essência de ideais, de compromisso, de respeito. É uma fase interessante. Por esta razão eu tenho colocado meu nome com a mesma pretensão de disputar [o governo], porque eu vejo um povo muito maduro para escolher o seu governante.

Como o sr. vê o cenário político atual do Estado, onde a coalizão que elegeu o governador Gaguim sofre perdas e alguma instabilidade?

Olha, o governante tem que governar com autonomia. Ele não pode ser refém de nenhum setor da sociedade e, sobretudo, de outro poder. A gente, infelizmente, vê isso no Estado, até pelas circunstâncias que levaram à escolha do atual governador. Então, eu não vou falar de enfraquecimento, mas o povo não gosta de governo fraco. Governo tem que tomar decisões. E ele não pode tomar decisões alienado a interesses individuais. Essa também é uma situação que se coloca para a opinião pública.

O sr. acha que a opinião pública está avaliando isso?

Não, ela já avaliou. Isso é inadmissível. Não quero dizer com isso que está acontecendo no Estado. Se essa é a intenção daqueles que hipotecam apoio ao governador no sentido de fortalecer os seus projetos individuais, acho que o governador tem que reagir. Ele não pode permitir que o Estado seja leiloado para interesses de grupos, de projeto isolado de um representante do povo. Isso mostra fraqueza e pode comprometer tanto a gestão quanto o processo político no ano.

Que parâmetros e fatores o sr. leva em consideração para ser ou não candidato a governador do Tocantins?

São vários. Primeiro, nós precisamos saber de Brasília – eu acho isso importante –, do meu partido, qual o real interesse neste processo. O PT trabalha articulado: nacional, regional e local. Mas isso não é determinante. O que precisamos mesmo é ter a preferência da opinião pública como termômetro para esta decisão. Não quero falar que preciso estar numa pesquisa à frente dos demais. Mas que esta pesquisa nos mostre os cenários possíveis, que tenhamos indicadores e possibilidade de crescimento. Que a gente não tenha teto. Que este teto seja os 100% para você atingir. É isso e também a forma com que vamos aliançar este grupo, quais os partidos que estarão comungando com o mesmo pensamento, com esta mesma linha ideológica. Somando tudo, isso contribui para uma decisão.

No campo nacional, como o sr. analisa o crescimento da pré-candidatura da ministra Dilma Roussef?

Hoje já não é mais pré-candidatura, o partido já lançou. Então, ela já passou da fase da pré-campanha. O presidente Lula tem feito um trabalho de atendimento ao combate às desigualdades de forma tamanha no País que o poder de transferência de voto dele é muito grande. E por um período ele fez isso com a ministra Dilma, dando o pontapé inicial para que ela conquistasse respeito da sociedade brasileira. É uma mulher capaz de dirigir os destinos do País. Ela já vem dessa fase e já começa a colher agora os resultados. É um nome muito forte com reais perspectivas de vitória, até porque o provável concorrente não age, não reage. Temos um cenário muito positivo para que o PT continue esse programa que o Lula deu início e que que precisa de mais um período para ser consolidado. A Dilma retrata para nós o perfil de continuar melhorando, ampliando o que hoje nós já estamos vivendo, seja na política econômica, seja no social, na infraestrutura, na cultura. A gente vive uma fase boa no Brasil.

Fonte: Jornal Tribuna do Planalto

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