quinta-feira, 12 de agosto de 2010

‘José Serra não conhece o Tocantins‘


Natural de Cristalândia (TO), o engenheiro agrônomo Paulo Sardinha Mourão teve seu último mandato eletivo terminado em 2008 pelo Partido dos Trabalhadores (PT), como prefeito de Porto Nacional. Deputado federal por quatro mandatos, ele já pertenceu a diversos partidos e atualmente pretende conquistar uma vaga no Senado pelo PT, concorrendo na coligação Força do Povo juntamente com Carlos Gaguim (PMDB), candidato a governador e Marcelo Miranda (PMDB), também candidato a senador.
Em entrevista à Tribuna do Planalto, Mourão revela como chegou à candidatura a uma vaga ao Senado e sobre os projetos que pretende implantar, caso seja eleito. Também aproveita para rebater as afirmações do candidato à Presidência da República, José Serra (PSDB), de quem já foi colega de partido e de plenário na Câmara Federal.


Tribuna do Planalto – O processo de definição da sua candidatura foi conturbado. Após esse período, qual a sua análise e como tocará sua campanha daqui em diante?

Paulo Mourão – Não vejo o período com tanta conturbação a não ser por parte de setores descompromissados com a verdade, que trataram de espalhar situações que não condiziam com a verdade. O que lamento é justamente não ter podido discutir o projeto da candidatura ao governo do Estado. Entendo que a gente podia ter contribuído muito com o processo tanto com a discussão das ideias como na defesa de um Tocantins com melhor desenvolvimento não só na infraestrutura, mas essencialmente um desenvolvimento social. Mas, hoje, em relação a essas questões estou tranquilo porque o PT definiu de forma unânime pela discussão de uma candidatura ao Senado. O PT discutiu de forma democrática e responsável a questão da candidatura ao Senado e não ao Governo do Estado. Mantive a minha candidatura ao governo, mas a executiva do partido achou por bem atender o encaminhamento feito por Brasília pelo ministro Padilha. O entendimento era que os partidos PT e PMDB deveriam se manter unidos no Tocantins e, de forma democrática, votamos a proposta e o partido definiu. De forma democrática aceitei isso, passou-se então a discussão do Senado, que foi uma discussão calorosa, na qual houve o compromisso do governador Gaguim e da coordenação com o planejamento da campanha. O que nos deixou, de certa forma, mais tranquilos de aceitar a missão de candidatura ao Senado. Entendemos que podemos contribuir muito com o debate das ideias com um governo melhor e de mais resultado para a sociedade. E entendo que é isso que o governador Gaguim se propõe também. Estamos unidos, PT e PMDB, para garantirmos um desenvolvimento equilibrado para o Tocantins.

O senhor está hoje no PT, mas foi de outras agremiações e tem experiência na vida pública. O que considera mais importante em sua trajetória política?

Bem lembrado. A sua pergunta me faz recordar os motivos pelos quais deixei as outras agremiações. Por último deixei o PSDB justamente porque o Siqueira Campos, na época, não aceitou uma candidatura do João Cruz ao governo. Quando me coloquei como candidato ao governo, ele, por meio de apoio do então presidente Fernando Henrique Cardoso, nos tomou a legenda e não pude nem participar de programa de televisão e rádio, por causa da forma ditatorial com que exerce seu poder. Ele me impediu de participar do programa de rádio e TV da campanha em 2002, o que ocasionou a minha derrota por praticamente, salvo engano, pouco mais de mil votos de diferença do então deputado Ronaldo Dimas. Nesta eleição fiquei na suplência. Quando entrei no PT, confesso que foi uma das grandes conquistas que consegui realizar. Participar deste partido é um ensinamento e valorização, pois há compromisso político e partidário. Então, no PT tenho conseguido aprender muito nessa relação a cada dia com todos os companheiros. Hoje podemos constatar o acerto do processo administrativo do PT, na figura do presidente Lula, líder inconteste não só nacional, mas reconhecido mundialmente. O que observamos é a capacidade de tornar realidade o que é planejado. Nisso o PT se diferencia muito de outros partidos. Outra diferença marcante está no compromisso com o cidadão, no combate das desigualdades regionais, sociais, da pobreza e no desejo de fortalecer o processo de desenvolvimento. O nosso grupo tem como compromisso fazer o Tocantins um estado indutor do desenvolvimento atrelado às questões sociais.

Em relação às ações e projetos para o desenvolvimento do Estado, o que o senhor acredita que deve ser feito?

O Estado precisa justamente aprender a conviver com esse processo novo de gestão, que preza, acima de tudo, por uma gestão equilibrada, com transparência e compromisso com a sociedade como um todo. Estamos passando por um processo de ordenamento novo. Pensarmos em dar continuidade aos projetos de infraestrutura, estimulando investimentos nas nossas hidrovias, ferrovias e rodovias. Queremos manter a parceria com o governo federal nas construções das ferrovias Leste-Oeste, Norte-Sul e a Transnordestina, que nos beneficiará muito, principalmente, com essa sugestão inovadora e muito competente do governador Gaguim de fazer implantar também o hidro-porto de Praia Norte para fortalecer os modais. Entendo também que era preciso um ramal ferroviário, de Praia Norte, ligando a ferrovia Norte-Sul à Transnordestina. Sabemos que, em relação à infraestrutura, o Estado tem uma boa marca em relação os outros estados. Como exemplo, posso citar o programa Luz para Todos, no qual temos um índice maior que 90% de atendimento de energia em todo o campo. Defendo que devemos pensar no processo produtivo do Estado não somente do ponto de vista industrial, mas também no território da cidadania. Precisamos fortalecer as relações de parceria das políticas do Tocantins com o governo federal. Investir na cidadania, como prevê os programas do PT, é uma das ações mais ricas do mundo no processo emancipatório do cidadão. Entendo que dar apoio à cidadania nas cidades e no campo vai permitir um processo planejado, ordenado de produção e de geração de emprego e divisas para todo o Estado.

O senhor acredita que a chegada da Ferrovia Norte-Sul alavancará o desenvolvimento do Estado com a chegada de novas empresas?

Entendo que a chegada da Ferrovia Norte-Sul é um ganho excepcional e diga-se de passagem uma determinação muito forte do presidente Lula de integrar os Brasis pobres à possibilidade de se tornar economicamente ativo. Todos os presidentes antes do presidente Lula conseguiram fazer apenas 254 quilômetros de ferrovia. Lula está concluindo a ferrovia em oito anos de governo. Só aqui no território do Tocantins as obras já concluiram mais de mil quilômetros de extensão da ferrovia. Mas eu fico muito preocupado, uma pergunta: a ferrovia vai provocar o desenvolvimento ou o desenvolvimento vai provocar a viabilidade da ferrovia? É preciso o Estado discutir isso. Antes se pensava que a Belém-Brasília, por si só, seria o elo de desenvolvimento. A estrada foi o elo da ligação que desencadeou várias cidades que promoveram sócio desenvolvimento, mas e aí e depois disso? Qual foi o fator preponderante de desenvolvimento da Belém-Brasília para o estado do Tocantins? Houve um planejamento para estimular inclusive o processo produtivo de qualidade na educação ou na vida das pessoas? E a Ferrovia Norte-Sul, nós vamos ver só o trem passar na fotografia ou vamos estar dentro da locomotiva do desenvolvimento? O Estado está pensando como fazer da Ferrovia Norte-Sul um instrumento de desenvolvimento. Então, nessas questões de planejamento estratégico e o PT tem contribuído com o governo Gaguim. O processo do Estado indutor vai ser o instrumento para alavancar o desenvolvimento econômico com inclusão social no nosso estado.

O senhor acha que o presidente Lula transferirá votos para o governador Gaguim?

É óbvio que a preferência do presidente Lula está na candidatura do governador Gaguim. Agora nós temos que ter justamente a maior preocupação com isso, porque nós estamos usando um patrimônio do povo tocantinense que é o governo do presidente Lula. Eu sei que o governador Gaguim reconhece e com isso tem mais compromisso e mais responsabilidade para a ampliação dos projetos de visão social de desenvolvimento. É aí entra a relação do processo político. Se nós estamos justamente sendo beneficiados e apoiados pela força que o presidente Lula detém, é preciso que essa relação de confiabilidade se transforme em compromissos com os senadores Marcelo Miranda e Paulo Mourão. Tenho hoje plena certeza de que o governador Gaguim tem esses compromissos. Prova disso é que, em oito meses de governo, Gaguim tem conseguido uma marca muito forte na questão do desenvolvimento social. Esse trabalho e compromisso têm colocado ele em primeiro lugar nas pesquisas. Associado ao apoio do presidente Lula, quero crer que estas intervenções de minorias dizendo que apoia o João Ribeiro, o Vicentinho, não venham causar prejuízo na nossa relação de amizade, lealdade e compromisso com o futuro, cujo êxito será alcançado no momento em que Gaguim estiver eleito ao lado da nossa querida vice Valderez e Marcelo Miranda e Paulo Mourão eleitos para o Senado.

O candidato Serra esteve em Palmas e disse que o Tocantins parou no tempo Como o senhor avalia a declaração?

Tenho uma relação muito boa com o Serra, com o qual convive na Câmara, mas acredito que ele está desfocado e com pouco conhecimento sobre o Brasil. Não esperava essa declaração dele. Mas acho que esse momento do processo político deixou o Serra desfocado da realidade. Suas declarações mostraram que ele desconhece totalmente a realidade do Tocantins e como candidato à presidência deveria ter obrigação de conhecer. Se ele se propôs a visitar o Estado deveria ter se preparado para apresentar propostas reais para o povo e não se deixar levar por interesses políticos de pequenos grupos locais. Não esperava esse tipo de declaração, que mostra o despreparo do candidato. Isso fortalecesse muito mais nos meus ideais, pois vejo a Dilma com muito mais preparo e conhecimento do Brasil. Não entendo como o Serra pôde dar uma declaração dessas, justamente ele que foi presidente da UNE e lutou pela democratização do Brasil. Ele precisava ter um compromisso ético com a história, mas preferiu apoiar seus candidatos locais. Serra se esqueceu que somente no governo de Marcelo Miranda se iniciou efetivação das garantias das liberdades civis, democráticas e públicas do nosso Estado. Garantias que não existiam no passado, nos governos ditadoriais, e agora estão sendo aprofundadas pelo governo de Gaguim. Hoje nós temos liberdade de imprensa e o cidadão pode ir e vir sem retaliações, mas, acima de tudo, a população pode fazer as críticas que precisam ser feitas em um governo embasado por um sentimento democrático. Mas o Serra preferiu dizer que ele seguiu a ditadura Siqueiriana, que reprimia com canhões policiais militares em greve, que mandava prender professores que se manifestassem . Aquela ditadura que mandou prender jovens porque estes fizeram um movimento pedindo justamente a gratuidade e a criação de uma universidade pública federal do estado. É isso que o Serra diz que aprova, as liberdades civis e democráticas para ele foi um retrocesso. O governador Gaguim não só ampliou o diálogo com o funcionário público como também manteve seu o compromisso de melhoria salarial de todas as categorias. Ao ponto de várias categorias terem hoje o melhor salário do Brasil. Quer dizer que isso não é considerável? No governo do Gaguim, o desenvolvimento econômico desse estado foi ampliado e a geração de empregos está em alta. Nunca se gerou tanto emprego não só no Brasil, fortalecido pelo presidente Lula, mas no Estado. Isso não é apenas discurso, no mês passado, o Ministério do Trabalho divulgou que foi o segundo melhor resultado na história de geração de emprego do Tocantins. Nós observamos que no governo do Siqueira, o Estado tinha dois frigoríficos e agora temos sete. Não tínhamos aqui nenhum frigorífico de avicultura, hoje temos dois, não tínhamos frigorífico de psicultura e hoje temos dois para abater pescado. Em todas áreas observamos desenvolvimento e avanços. Se você olha a habitação, somando todos os governos do Siqueira, foram construídas cinco mil casas. Os governos do Gaguim e do Marcelo vão alcançar a marca de quase 38 mil casas construídas. Então, não sei que resultado é esse que o candidato Serra está falando. Acho que a ditadura Siqueiriana foi muito perversa com esse Estado, acima de tudo porque atrasou muito a discussão política e democrática no nosso estado. Vejo um despreparo total, lamento muito o Serra ainda está discutindo essa candidatura. Mas, por outro lado, a gente observa que é benéfico porque a cada dia a candidata Dilma cresce na campanha. Os índices demonstram a superioridade dela não somente do ponto de vista intelectual, mas do conhecimento sobre os vários Brasis que ainda temos na federação brasileira. E isso não é resultado somente de conhecimento, mas de sentimento e sensibilidade social. Vejo que o candidato Serra está desprovido de todas essas questões.

Como o senhor analisa a Lei Ficha Limpa, que a princípio se mostrou barradora de candidaturas, mas hoje não está tão eficiente assim?

Acho que a lei tem a sua eficiência justamente por ter nascido no seio popular. E é isso que a nossa constituição também garante. Que o poder emane do povo, essa lei representa muito esse sentimento popular. O que é lamentável são as várias figuras que estão no cenário político brasileiro mesmo após cometerem improbidades e tantas outras ações que não condizem com a representação popular. Acho que a lei é de alto alcance e vai purificar o sistema político brasileiro. Agora, obviamente, que para esse momento eleitoral, ela fere alguns princípios constitucionais, da anualidade, das causas e dos direitos garantidos e constituídos e adquiridos. Então entendo que é uma questão de discussão de ordem judicial, da forma da aplicabilidade da lei. Mas a estrutura da lei é um instrumento da sociedade brasileira que vai purificar e trazer ganhos na questão da representatividade e do compromisso do político, com a representatividade popular. Para o próximo pleito, acho que ela terá uma alta funcionalidade como instrumento purificador para a política brasileira.

Fonte: http://www.tribunadoplanalto.com.br

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