sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Entrevista - Donizete Nogueira (Presidente do PT/TO)


O presidente do diretório regional do PT, Donizete Nogueira, não vê nenhuma contradição na posição do partido em compor com o governo na disputa por espaço na Assembleia Legislativa e manter uma postura de oposição. O presidente acredita que isso é possível. “A gente pode compor o Parlamento sem fazer parte do governo como está sendo em nível nacional e está sendo feito aqui”, declara.

Nogueira também não vê dificuldade em explicar porque o partido apoiou um candidato do governo contra uma candidatura petista para a presidência da Assembleia e foi decisivo na eleição. “Participamos da composição da mesa porque julgávamos que era o melhor para o partido neste momento”, explica o presidente da sigla sobre a opção em compor com o governo.

Donizete Nogueira reconhece que a divisão interna do PT o impediu de conquistar cargos na mesa diretora da Casa, mas não vê problema em ficar fora. “Mais dois anos fora da mesa diretora não diminui o PT. A força do partido está nas ruas, está na militância e a militância está a favor da decisão que o partido tomou”, argumenta o dirigente negando que as divergências têm motivação pessoal e seriam uma resposta à posição do prefeito Raul Filho na eleição de 2010, quando apoiou candidatos fora da coligação do PT. “Do nosso lado não tem esse negócio de revanche, de troco, não tem isso não. Nós fazemos política no confronto das ideias.”

O presidente acusa o prefeito Raul Filho de promover uma reforma administrativa que varreu com os petistas do seu governo o que fez aumentar os conflitos com o partido. “Nós temos uma administração do PT que no momento não está petista em função desse processo rancoroso que foi a reforma administrativa do prefeito Raul Filho”, lamenta o presidente, que informa que o partido já está se preparando para as eleições de 2012 em Palmas, garantindo que terá candidato próprio para vencer as eleições e continuar no comando da Capital. Estes e outros assuntos você confere na entrevista a seguir.


Como o sr. vê as críticas de que o PT derrotou o próprio partido na disputa pela presidência da Assembleia Legislativa?A pergunta cai bem. Depois de mais de 40 dias de discussão interna no PT nós procuramos a deputada Solange Duailibe e perguntamos se ela aceitava encabeçar a chapa do PT à presidência da Assembleia para continuarmos o diálogo e ela disse que não. Ela não aceitou. Então sem explicação é o fato de ela se candidatar depois, quando o PT já tinha tomado uma decisão, já tinha feito um acordo, aí ela resolve ser candidata. O que posso entender com isso? Mais uma vez ela quis confrontar o partido e fazer prevalecer seus interesses mais pessoais e não do coletivo partidário. O que posso entender é isso. Mas o PT está tranquilo, está há oito anos neste Parlamento, não participou nenhuma vez da mesa diretora, somente agora neste mandato-tampão com a cassação do governador Marcelo Miranda (PMDB). Mais dois anos fora da mesa diretora não diminui o PT. A força do PT está nas ruas, está na militância e a militância está a favor da decisão que o partido tomou.

Mas como explicar essa decisão que levou à derrota do partido na disputa pela presidência da Assembleia? O PT preferiu apoiar o governo e se diz oposição?Da mesma maneira que elegemos o presidente (da Câmara dos Deputados) Marco Maia, vamos eleger o primeiro secretário Eduardo Gomes, do PSDB. O parlamento é diferente, o deputado vai continuar na oposição e aqui nós participamos da composição da mesa porque julgávamos que era o melhor para o partido neste momento. O PT avaliou se tínhamos condições de ganhar se a deputada Solange tivesse respeitado a decisão do partido. Então não há nenhuma contradição, não há nenhum contraditório nisso. Da mesma forma que o PSDB nacional continua oposição ao governo do PT, o PT do Pará continua oposição ao (governador) Adib Jatene (PSDB) e fez composição pra mesa, então não tem contradição. O difícil explicar é que na divisão o PT teve um prejuízo de não estar na mesa, mas aí nós vamos recuperar nas ruas o prejuízo que o partido teve de não compor a mesa diretora da Assembleia, o que não é tão significativo assim, porque nós nascemos nas ruas.

Essa divisão tem como motivação a sua não-eleição para a Câmara Federal e tem o prefeito Raul Filho como o principal culpado? Esse fato tem alguma relevância nesta divergência?Primeiro que isso não é verdadeiro. Nós não fazemos política com o fígado, fazemos política com conjuntura, com fatos, com debate, na diversidade das ideias que povoam o partido, na conformação de uma proposta que foi debatida, aprovada e referendada pelo diretório. E até ós tomarmos a decisão a deputada Solange não era candidata. E mais, foi nos oferecido a oportunidade de então substituí-la pelo deputado Zé Roberto e nós não substituímos porque já tínhamos feito um acordo. O PT, depois que faz um acordo, o parceiro pode romper, mas o PT não rompe os acordos que faz sem estar fundamentado no rompimento do outro lado. Nós cumprimos com o nosso acordo, não tínhamos como voltar atrás e a candidatura da deputada Solange nasceu depois do acordo do PT, ela sabia disso e resolveu enfrentar a decisão do partido. Acho que é o contrário, a deputada Solange e o prefeito Raul Filho continuam querendo a eleição de 2010 para 2011, o PT não tem esse interesse não, o PT precisa se preparar para as próximas eleições. Então do nosso lado não tem esse negócio de revanche, de troco, não tem isso. Nós fazemos política no confronto das ideias. O que nós fizemos para este momento foi analisar o cenário e o PT, como partido de oposição que dialoga por ele próprio, que toma decisões por ele próprio, vai fazer uma oposição qualitativa ao governo. Nós vamos contribuir muito mais para o Estado do que nesta questão que está colocada, de se eu perder ele me ferra se eu ganhar eu o ferro. Que é mais ou menos isso que aconteceu aqui na Assembleia com o governo do Estado, uma discussão que é seguinte, nós precisamos ganhar se não o governo vai mandar em tudo. Nós entendemos que não, temos maioria na oposição. Não é a presidência da Assembleia o principal espaço, o instrumento de fazer oposição. O instrumento é a maioria. Então a maioria não ganhou a presidência na oposição porque o parlamento tem dessas nuances. Podemos compor o parlamento sem fazer parte do governo, como está sendo em nível nacional. É o que está sendo feito aqui.

Qual foi o acordo do PT com o governo que fez o partido preferir derrotar um petista para a presidência?Avaliamos que neste momento a briga instalada no PMDB com o governo não dá resultado nenhum para o PT e que nós não poderíamos entrar nessa briga. Essa briga que vem de tentativa de mudança de regimento, de mudar a metodologia da relação entre os poderes dentro da LDO, essas coisas, porque perdeu a eleição não faz parte do calendário do PT, o calendário do PT é ser propositivo, programático. Resolvemos fazer a nossa própria interlocução. E aí o PT passou a ser protagonista do campo dele e vai continuar sendo protagonista perante a sociedade tocantinense, fazendo oposição propositiva e qualitativa ao atual governo. E nós queremos que o governo dê certo porque o povo do Tocantins precisa sair do sobressalto que vivemos nos últimos quatro anos e encontrar o seu caminho para o desenvolvimento. Se pudermos contribuir na oposição, nós vamos contribuir.

Qual é o desafio do PT para a eleição de 2012, em que o partido tem a Prefeitura da Capital e municípios importantes no processo político do Estado?O primeiro desafio do PT é manter os espaços que ele conquistou. A bem da verdade, hoje o PT foi expurgado da administração de Palmas. O prefeito Raul Filho fez uma reforma administrativa, colocou as principais referências do PT para fora da administração e não discutiu com o PT. Então nós temos uma administração do PT que no momento não está petista em função desse processo rancoroso que foi a reforma administrativa do prefeito Raul Filho. Nós agora vamos nos preparar para disputar a eleição de Palmas com o PT, estamos com planejamento em andamento, a comissão provisória do PT de Palmas está trabalhando diariamente nesta organização. Até final de junho, nós esperamos encontrar um caminho e anunciar uma posição em relação às eleições de Palmas. A partir de Palmas nós queremos manter todas as administrações que o partido conquistou e trabalhar para duplicá-las, no mínimo. Nós tínhamos o deputado Santana e fizemos 16 prefeituras. Na última eleição nós tínhamos dois deputados e só fizemos 12 prefeitos, porque os deputados não estavam a serviço do partido. Agora nós temos os deputados Zé Roberto e Amália Santana, que são orgânicos no partido e vão estar imbuídos de ajudar a ampliar a inserção do PT e consolidar o processo eleitoral do ano que vem para uma vitória maior.

Qual é a estratégia do partido para ampliar sua base política com as administrações petistas com problemas de gestão?
O PT neste momento tem um grande desafio que é consolidar geograficamente o partido, o que quero dizer com isso? É o partido deixar de ser cartorial e ser orgânico. Nós estamos praticamente em todo o Estado, em 136 municípios. Agora precisamos dar consistência orgânica ao partido para a sua consolidação, precisamos construir uma consciência política mais avançada para que a eleição municipal seja a mesma coisa que a estadual. Na eleição municipal o PT é muito importante. Na eleição de estadual é bom o PT ter candidato, mas muitas vezes lá na base os companheiros fazem campanha contra o partido. Então nós estamos com a responsabilidade de construir uma consciência política mais ideológica, consolidar geograficamente o partido e continuar ampliando socialmente sua inserção.

A postura do PT de apoio a um candidato do governo é porque o partido deve avaliar que o governo vai bem para merecer esse apoio. Que avaliação o sr. faz do andamento do governo?
Nós ainda temos muito pouco tempo para avaliar do governo até porque os outros governos foram desastrosos. Nós apoiamos o governador Gaguim e reconhecemos que o seu governo, em pouco tempo, fez muita coisa com os prefeitos, mas nós temos oito anos de governo aí que não deixa saudades para ninguém. Agora, nós estamos observando os passos do governo, o andamento, mas não temos elementos para dizer que esse governo vai dar certo ou vai dar errado. Nesse momento a posição do PT é de cautela e de compromisso histórico com os trabalhadores e trabalhadoras, compromisso histórico com sociedade tocantinense, vamos continuar combatendo as coisas erradas e defendendo o que for melhor para o nosso Estado.

No plano nacional o PT vai bem com a primeira mulher presidente do Brasil?
O PT teve um grande ganho com a Dilma. Nós tínhamos uma grande gestora e ganhamos agora uma grande militante. Então nós estamos empolgados com o governo da Dilma, sabemos que este é um ano de ressentimento de um novo governo que está sendo instalado, um governo que pretende fazer reformas mais profundas para aprofundar as conquistas. Certamente vai ser um governo vai encher de orgulho todos os petistas. Eu sinto na alma de cada petista, no olhar de cada petista, um entusiasmo muito grande com o governo da companheira Dilma Rousseff.

Fonte: Jornal Opção Tocantins

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