Este é o ditado popular
repetido pelas mães aos filhos quando estes se põem a bisbilhotar a vida do
vizinho em assuntos que não lhe dizem respeito. Se os EUA não se sentissem os
donos do planeta, talvez a Organização das Nações Unidas (ONU) assumindo o
papel de mãe do mundo, pudesse manifestar em uma nota de repúdio, em letras
garrafais, a adaptação livre deste ditado, "Estados Unidos que coisa feia,
espionando a vida alheia."
Certamente, uma nota de
repúdio é pouco diante das violações cometidas pelos norte-americanos. No
entanto, é o máximo que podemos esperar da ONU, uma organização visivelmente
agachada diante dos interesses econômicos e geopolíticos dos EUA. O caso de
espionagem denunciado pelo ex-agente da CIA, Edward Snowden, carece de análise
mais acurada, seria necessário penalizá-los por atentarem contra os direitos
humanos e a soberania dos povos.
É notório que o governo dos
EUA feriu todas as normas do direito internacional, de modo que o procedimento
sumário daria conta do litígio e a sentença por óbvio atestaria os danos
causados à humanidade como de conseqüências irreparáveis. Para fundamentar a
sanção, bastaria argumentar que os americanos feriram frontalmente o artigo 12
da Declaração dos Direitos Humanos, que afirma "ninguém sofrerá
intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio
ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais
intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a proteção da lei".
Ainda que o histórico dos
EUA seja de desrespeito aos princípios do direito internacional, mesmo que eles
não se submetam aos tribunais internacionais, o Conselho de Direitos Humanos, o
Conselho de Segurança Pública da ONU, poderiam ao menos, recomendar algum tipo
de sanção. Apesar do desejo, tal conduta é impossível, afinal o governo
americano se beneficia da estrutura arcaica das Nações Unidas, e tenta a todo
custo sufocar qualquer tentativa de mudança, que signifique reforma deste sistema.
Enquanto isto, assistimos a
omissão da ONU diante dos acontecimentos, milhares de correspondências
violadas, pessoas e Estados sendo constantemente monitorados e a organização
guardiã dos direitos humanos, simplesmente, se silencia. Certamente, se esta
atitude fosse de um país em desenvolvimento teríamos outra postura, se o ato de
espionagem fosse cometido pela Venezuela ou qualquer outro país que se opõe a
política imperialista dos norte-americanos, a postura seria outra. Teríamos em
questão de segundo, uma Assembléia Geral extraordinária e aprovação de
encaminhamentos contra este país, quem sabe uma intervenção militar legitimada
pelo Conselho de Segurança, fundamentada no discurso que tal decisão faz
necessária para defender a paz, a soberania dos povos e os direitos
individuais.
Para os céticos, analisemos
a postura dos países europeus que de forma arbitraria impediram que Evo
Morales, Presidente da Bolívia, trafegasse em seu espaço aéreo, sob alegação de
que o avião presidencial pudesse está transportando Edward Snowden. A postura
por si só revela que França, Espanha, Portugal e Itália são colaboradores dos
americanos, para não dizer "capachos" do governo estadunidense, com
anuência da ONU.
A atitude corajosa do
ex-agente Edward Snowden, demonstra que ainda existem americanos contrários as
atrocidades cometidas pelos seus governantes. Ao enfrentá-los, Snowden traz uma
contribuição enorme para humanidade, ao expor aos povos que, sob o pretexto de
"guerra ao terrorismo", o governo americano vem interferindo na vida
das pessoas e dos países, se beneficiando de informações e comunicados
sigilosos com objetivo de auferir vantagens para si, principalmente, nas
relações econômicas e políticas.
Felizmente, a utopia
permanece viva, quando Venezuela, Bolívia e Nicarágua se colocaram em posição
de igualdade e ofereceram a este jovem de 29 anos, asilo político. O modo como
estes países reagiram, evidencia que vive nos corações de muitos povos da
América Latina a certeza de que uma nova organização geopolítica é possível.
Que as autoridades Russas resistam à pressão estadunidense, e, que ele possa
continuar sua luta, seguramente, não mais sozinho. Se aos americanos, a ONU
deveria utilizar o ditado popular exposto no início deste artigo, a Edward
Snowden, esta mesma organização deveria conceder-lhe um prêmio pela defesa
intransigente das liberdades individuais, do direito à soberania e da
autodeterminação dos povos.
Gleidy Braga é jornalista,
militante do PT Tocantins
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