quarta-feira, 10 de julho de 2013

Diante do caos administrativo, uma pergunta se faz necessário: onde está o MPE?

Há uns anos comprei uma imensa briga com o governo Marcelo Miranda (PMDB), que resistia em convocar promotores aprovados em concurso público. Foi um daqueles grandes confrontos que volta e meia faço, mas que resultou na convocação de vários aprovados. Um deles me ligou para agradecer. Disse-lhe que, como pagamento, queria que honrasse o cargo que estava assumindo, combatendo principalmente bandidos de colarinho branco, que agem contra nosso povo pobre. E ele prometeu que assim o faria.
 
O Brasil todo foi às ruas nas últimas semanas, e uma das principais pautas de reivindicação foi a queda da intragável Proposta de Emenda Constitucional (PEC) número 37, que tirava o MP das investigações criminais. Essa pauta de luta mostrou que a população acredita nos promotores e procuradores.
 
Por isso, a pergunta faz sentido: diante do caos administrativo que o Tocantins vive, onde está o MPE?
 
Não é possível entender essa ausência, que todo o Estado sente nessa crise terrível que o Tocantins enfrenta.
 
Estamos "desgovernados". Olhamos à volta e vemos o plano de saúde dos servidores sendo inviabilizado pela falta de repasse do governo, que recolhe dos funcionários e não cumpre sua obrigação. Bancos não recebem ou recebem com muito atraso o acordo do retroativo de 25%, os servidores que negociaram esse benefício com as instituições financeiras também não recebem. Até a mensalidade sindical é paga com atraso.
 
O governo do Tocantins ultrapassou o limite legal da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) em 0,01%, conforme a Comissão de Finanças, Tributação, Fiscalização e Controle, da Assembleia, e, por isso, terá que demitir milhares de pessoas agora em julho. Não teria que fazer esse enxugamento se tivesse tido responsabilidade - o que, absolutamente, não tem - nas contratações feitas a partir de janeiro de 2011. Se não demitir ficará sem o repasse do Fundo de Participação dos Estados (FPE).
 
Quando houve aquelas demissões em 2011, fiquei muito triste, mas entendi que o governo estava disposto a adotar medidas impopulares, com muita seriedade, para o Estado se manter no ritmo de crescimento em que vinha até então. Enganei-me, porque, conforme a Comissão de Finanças, Tributação, Fiscalização e Controle, foram demitidas 22 mil pessoas e contratadas depois 25 mil por um salário muito maior, o que, em grande parte, gerou a crise que enfrentamos atualmente.
 
Para se ter ideia, o deputado Sargento Aragão (PPS) disse ao blog que a folha dos 14 mil comissionados e contratados que ainda restam no governo é maior do que a dos 22 mil demitidos há quase três anos. Isso não é típico de quem é "grande administrador", mas de um grandessíssimo incompetente e populista, que é como o atual governo está se revelando. Por isso, é rejeitado por toda a população. Pela última pesquisa que vi, mais de 70%.
 
Culpam as gestões anteriores e o governo federal. Não são "santos", mas se o atual governo tivesse agido com responsabilidade estaria preparado para a crise que vem do plano nacional, e que está anunciada desde 2008. Mas, repito: faltou responsabilidade e compromisso com o interesse público.
 
Se não bastasse, a Comissão de Finanças, Tributação, Fiscalização e Controle, da Assembleia, também mostra que o governo aumentou imposto de vários segmentos, retraindo ainda mais a economia, aumentando a inadimplência e afugentando do Estado quem queria aqui investir.
 
Assim, se outros e antecessores têm culpa da crise terrível e profunda que o Estado vive - o que não se nega aqui -, mais ainda tem o atual "desgoverno", que vive uma crise de autoridade, uma crise de identidade - até hoje, passados três anos da posse, não conseguiu definir sequer qual deve ser a sua estrutura ideal. Toda semana chega Medida Provisória na Assembleia alterando a configuração da máquina. Isso é coisa de quem não tem planejamento, não sabe para onde vai.
 
O governo Siqueira Campos tomou posse em janeiro de 2011, mas ainda não começou.
 
E volto à questão inicial: e onde está o MPE que não viu nada disso acontecendo às suas vistas? Quando o CT liga, vem a cômoda resposta: "não fomos provocados". Como se o MPE precisasse ser provocado para agir. Isso é desculpa de quem não quer fazer.
 
Ir atrás de criminosos vítimas de uma sociedade injusta, em que políticos que estão no poder se enriquecem às nossas vistas e ninguém faz nada, é muito fácil. Ir a juris para apontar o dedo com "braveza" de "otoridade" para esses pobres coitados e jogar na cara deles os seus crimes é fácil. Ser corajoso nesse quadro é muito fácil.
 
Quero ver é meter o dedo na cara dessa gente incompetente que está afundando o Tocantins por má gestão e muitos claros indícios de improbidade administrativa - o que mostramos no final de semana, sobre os empréstimos consignados, é uma ponta minúscula do iceberg. Quem bate em fraco e se esconde de forte tem um nome popular: covarde.
 
O que estamos vendo é um Ministério Público acovardado, preocupado mais em garantir seu imoral auxílio-moradia - que pode ser até legal, não se sabe se é - do que zelar pelo que os poderosos estão fazendo com o nosso Estado. E também não falo aqui de prefeitos e vereadores, muitas vezes vítimas de um governo federal imoral, que arranca dinheiro dos municípios para dar para a bilionária indústria de veículos e de eletrodomésticos, e do governo estadual que não dá conta de administrar nem sua estrutura.
 
Não temos a menor dúvida de que existe uma maioria mais do que absoluta de promotores sérios e constrangidos com a apatia, com a letargia e a covardia da instituição a que pertencem.
 
Mas o fato inegável é que não se vê mais o MPE nesses grandes debates. Ele se ausentou, fugiu, se omitiu e se acovardou. Por isso, tem sua cota de responsabilidade pelo que está ocorrendo no Tocantins.
 
Perdemos todos nós, sociedade, que fomos às ruas de todo o País para a defendê-lo.

Fonte: Blog do Cleber Toledo

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