Por Marcos Coimbra — publicado 19/06/2013
Entre assombrações,
equívocos e estereótipos, o pensamento conservador brasileiro anda atulhado de
idiotices. Alguns nada mais fazem que repeti-las. Outros contribuem para
aumentá-las. O título desta coluna alude àquele de uma obra que teve certa voga
há quase 20 anos e hoje parece antediluviana. Publicado em 1996, o Manual do
Perfeito Idiota Latino-Americano era um ataque contra a esquerda e expressava o
neoliberalismo triunfante que se espalhava pelo continente. Quem discordasse de
seus axiomas era idiota.
Passou o tempo e a história
mostrou o inverso. Nenhuma das experiências de governo inspiradas no Manual deu
certo. Os povos sul-americanos escolheram caminhos diferentes, de mais realizações.
Quem zombava dos outros, com a agressividade verbal característica dos
autoritários, é que se revelou um tolo.
Quais são as ideias típicas
dos conservadores brasileiros na atualidade? Algumas são permanentes, outras
conjunturais. Amanhã serão substituídas por novas idiotices. O estoque é
imenso. Vamos às dez mais comuns:
O Brasil está à beira do
abismo
Ainda que os cidadãos
normais tenham dificuldade de entender quem diz isso, os genuínos idiotas da
direita estão convencidos: vivemos o caos e estamos a caminho do buraco. Há
exemplo mais patético que a “inflação do tomate”?
O Bolsa Família é esmola
usada para manipular os pobres
Marca distintiva desses
idiotas, a ideia mistura velharias, como a noção de que os pobres são
constitutivamente preguiçosos, com a pura inveja de ter sido Lula o criador do
programa. No fundo, o conservador despreza os mais humildes.
O Brasil tem um governo
inchado
Mundo afora, depois de a
crise internacional sepultar a tese de que Estado bom é Estado mínimo, ninguém
mais tem coragem de revivê-la. A não ser no Brasil. Fernando Henrique Cardoso
deixou 34 ministérios quando saiu do governo. Esse seria o tamanho ótimo? Cinco
a mais se constitui uma catástrofe?
O Brasil tem municípios
demais
Exemplo de idiotice
conjuntural, é prima da anterior. Que sentido haveria em considerar imutável a
organização administrativa de um país em que a população se movimenta pelo
território, fixando-se em novas regiões?
O Judiciário é nosso deus e
Joaquim Barbosa, nosso pastor
Como seus parentes no resto
do mundo, os conservadores brasileiros desconfiam da política e têm ojeriza a
políticos. Quem mais senão o presidente do Supremo Tribunal Federal encarnaria
os “anseios da sociedade contra os políticos corruptos”? Transformado em
ferrabrás dos petistas, Barbosa virou herói da direita.
O “mensalão” foi o maior
escândalo de nossa história
Conversa para boi dormir
entre os conhecedores da política brasileira, o “mensalão” não passa de um
exemplo do modo como as campanhas eleitorais são financiadas. Só os
desinformados acreditam ser ele um caso excepcional.
A liberdade de imprensa está
ameaçada
Na vida real, ninguém leva
isso a sério. Volta e meia, a ideia é, no entanto, usada pela imprensa
conservadora para defender os interesses de um pequeno grupo de corporações de
mídia. De carona, alguns políticos da oposição a endossam para preservar as
relações privilegiadas que mantêm com os proprietários dos meios de
comunicação.
Dilma antecipou a eleição
Desde ao menos o início do
ano, a oposição de direita repete, em tom queixoso, o mantra. O que imaginava?
Que uma presidenta tão bem avaliada não fosse candidata? Que fingisse não sê-lo?
Qualquer idiota sabe que os governantes pensam na reeleição. Assim que tomam
posse, entram no páreo.
O Brasil virou as costas
para seus parceiros internacionais e se aliou aos radicais
A fantasia desconhece a
realidade da política externa e o modo como funciona a diplomacia brasileira. É
montada em duas etapas: primeiro, desconstrói-se a imagem de um país ou
liderança. Depois, afirma-se que o governo a apoia. De qual país o Brasil se afastou,
de fato, nos últimos anos?
O Brasil moderno está na
oposição, o arcaico é governo
Trata-se de um erro factual,
somado a muita pretensão. Ao contrário, como mostram as pesquisas, o governo é
mais bem avaliado (e Dilma tem mais votos) entre, por exemplo, jovens e aqueles
conectados à internet que na média da população. A oposição possui, é claro,
sua base na sociedade. Em nada, no entanto, esta é “melhor” que aquela
apoiadora do governo.
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