sexta-feira, 7 de março de 2014

Artigo - De Braços Abertos: Crack é possível vencer

 
A Constituição Federal estabelece o princípio da isonomia que assegura tratamento igual a todos perante a lei, desde que estes estejam em condições de igualdade. Para Maria Berenice Dias, "leis voltadas a parcelas da população merecedoras de especial proteção procuram igualar quem é desigual, o que nem de longe infringe o principio isonômico". Recentemente, o Supremo Tribunal Federal confirmou este entendimento, quando decidiu pela constitucionalidade da Política de cotas étnico-raciais para seleção de estudantes da UnB. Para justificar os seus votos, os magistrados se apoiaram em pesquisas que demonstram as distorções sociais historicamente consolidadas, que há séculos excluem a população negra de acessar direitos sociais básicos, como o direito à educação.
 
Certamente é com base neste entendimento, que a Prefeitura de São Paulo propõe por meio do programa "De Braços Abertos", enfrentar o uso do Crack, na região conhecida como Cracolândia. O programa prevê tratamento diferenciado a dependentes químicos, disponibilizando abrigo, tratamento de saúde, alimentação, atividade ocupacional, capacitação profissional e auxílio financeiro. Trata-se de uma política social focalizada, que pretende mudar a realidade daquela região, tendo como público alvo, os usuários, e, consequentemente, a população local, que será impactada indiretamente com as ações do programa. Para alcance das metas, o Prefeito Haddad adotou uma estratégia de gestão transversal e integrada, envolvendo, em diferentes frentes de ações, as secretarias da Saúde, Assistência e Desenvolvimento Social, Trabalho e Empreendedorismo, Segurança Urbana e polícias Civil e Militar.
 
A iniciativa é importante, porque enfrenta o problema com políticas de promoção e resgate da cidadania - e não de repressão-, por meio do diálogo e do convencimento de que é possível vencer a dependência química. Como trata-se de um problema complexo e de difícil solução, uma vez que a dependência química envolve multicausalidade e consequência tanto individuais quanto coletivas, torna-se fundamental monitorar e acompanhar os impactos do programa, utilizando indicadores de eficácia e de efetividade, como, por exemplo, considerando o número de pessoas atendidas, e destas quantas efetivamente foram reinseridas ao convívio social.
 
Por fim, é essencial envolver a comunidade local na gestão do programa, com poder de decisão, tendo em vista a complexidade do problema e que há 20 anos, a cracolândia vem resistindo a uma política higienista, repressiva e segregacionista do aparelho de Estado.
 
Autora: Gleidy Braga (Jornalista, Pós–graduanda em Gestão e Políticas Públicas pela Fundação Escola de Sociologia e Política do Estado de São Paulo)

Nenhum comentário: