Suplente de deputado
estadual que assumiu o mandato em dezembro, petista quer ser prefeito de
Dianópolis pela terceira vez
O deputado José Salomão
mostra que é um petista convicto e não titubeia em defender seu partido, que se
tornou praticamente sinônimo de corrupção no País. Segundo ele, Lula da Silva,
cuja família enriqueceu de forma espantosa durante os mandatos do ex-metalúrgico
na Presidência, é vítima da “mídia golpista”. O deputado pode ser classificado
como um petista da velha guarda. Seus conceitos políticos se aproximam das
máximas socialistas — princípios basilares do PT na época da sua criação. Se o
PT desvirtuou, José Salomão pelo jeito ainda não.
O deputado também fala de
seu trabalho parlamentar e assume condição de pré-candidato à Prefeitura de
Dianópolis. Graduado em Direito e Administração de Empresas, funcionário
público aposentado da Câmara de Deputados, José Salomão tem 68 anos e está
filiado ao PT há 18. Suplente de deputado estadual, ele assumiu o cargo em
dezembro passado face à licença médica do titular, Paulo Mourão, também
integrante do PT.
O sr. foi prefeito de
Dianópolis por dois mandatos consecutivos, entre 2005 e 2012. Em 2014, se
candidatou a deputado estadual ficando na suplência com pouco mais de 10 mil
votos. Como avalia aquelas gestões, bem como se entende que tais votos para o
parlamento estão relacionados aos seus mandatos de prefeito naquela cidade?
Após ter disputado a
prefeitura por algumas vezes, fui eleito em 2005 e reeleito em 2008. Para obter
mais 10 mil votos no pleito de 2014, considero que foi fruto daquele trabalho.
Porcentualmente, obtive 61% dos votos na minha própria cidade, o que é, com
certeza, um reconhecimento. Fiquei lisonjeado com essa votação maciça e credito
isso a minha gestão como prefeito daquele município.
Todavia, mesmo com essa
votação expressiva naquela cidade, a votação foi aquém do esperado e não
consegui ser eleito deputado estadual. Destaco como fator preponderante para
isso, a influência nefasta do poder econômico dos adversários, uma vez que em
todas as pesquisas realizadas antes da eleição, constava meu nome como provável
eleito.
No tocante aos meus mandatos,
considero que realizei um sonho de ser prefeito da minha cidade natal. Eu
queria ser prefeito uma vez e fui duas, logo, obtive mais do que eu esperava.
Resumidamente, eu deixei toda a frota funcionando e em perfeito estado de
conservação, além de deixar também aproximadamente R$ 1 milhão em caixa e todos
os fornecedores pagos. Também deixei quitadas as demais despesas, inclusive
folhas de pagamento e 13º salário. Criei o Funprev, orientado pela Confederação
Nacional de Municípios (CNM), e deixei, nesse fundo de previdência municipal,
mais R$ 5 milhões em caixa. Não estou me vangloriando, ser honesto é um dever,
uma obrigação, entretanto, ressalto que por estas razões, acredito que fiz dois
bons mandatos.
Nestas circunstâncias, suas
contas junto ao TCE foram todas aprovadas?
Infelizmente não. Neste
ponto há um paradoxo, uma contradição. Minhas contas consolidadas foram quase
todas aprovadas, mas aquelas que ainda não foram julgadas têm parecer
favorável. Já as contas como ordenador de despesas – apesar de ter parecer
favorável do Ministério Público de Contas – o Tribunal de Contas julgou
irregulares. Na verdade, não por improbidade administrativa, mas por erros
contábeis, apenas formais. Tanto é verdade que consegui certidões que
possibilitaram minha candidatura a deputado. Por fim, não quero generalizar,
contudo, considero o TCE muito moroso. A demora desses julgamentos acabam por
atrapalhar todos nós, enquanto gestores da coisa pública.
O sr. é pré-candidato a
prefeitura de Dianópolis?
Eu fui convocado pelo
partido e sou um soldado da sigla. Houve uma unanimidade entre os membros do
diretório local em lançar meu nome como candidato a prefeito de Dianópolis. Eu
não fujo à luta, estou à disposição do partido e disputarei a eleição.
A coligação a qual seu partido
fazia parte foi vitoriosa na eleição majoritária para governador no último
pleito. Além disso, foram eleitos os deputados estaduais Paulo Mourão, Zé
Roberto e Amália Santana. Já o suplente de senador Donizeti Nogueira assumiu a
cadeira no Congresso após Kátia Abreu (PMDB) se tornar ministra da Agricultura.
Qual sua avaliação do seu partido, nesse momento?
A minha avaliação é que o
partido teve uma performance previsível. Num cálculo otimista, poderíamos ter
feito quatro deputados nessa coligação com o PV, mas a votação de alguns
companheiros foi aquém do esperado, inclusive a minha. Eu esperava cerca de 13
mil a 14 mil votos em todo Estado, mas obtive pouco mais de 10 mil. Pior que a
ilusão do amor, é ilusão do voto…
Quanto à representação do PT
no Estado, creio de forma geral, que está bem representado. Sou filiado ao PT
há 18 anos e vejo um crescimento considerável no que concerne ao legislativo.
Quanto ao executivo houve uma queda significativa, hoje temos apenas quatro em
todo o Estado. Isso gera discussões internas, precisamos detectar qual o
problema, uma vez que temos uma presidente da República, estamos aliados ao
governador Marcelo Miranda, e mesmo assim, a quantidade de prefeitos vem
diminuindo.
Como o sr. analisa a atual
crise de identidade e ética que o PT vive, em contexto nacional?
Temos hoje mais de 1.750.000
filiados. A mídia noticia que perdemos mais de 18 mil filiados, mas esqueceu de
contabilizar que no mesmo período, filiamos mais de 50 mil. O que eu percebo é
que a juventude e os mais esclarecidos não entram na onda da mídia golpista. A
maior prova é que nós crescemos em número de filiados.
Há um processo de
criminalização de Lula e demonização do PT. Isto porque a elite é gananciosa,
egoísta e não aceita que um retirante nordestino chegasse à Presidência da
República. Ela não aceita que o filho do fazendeiro estude na mesma escola do
filho do vaqueiro. Da mesma forma, também não aceita que um cidadão de origem
humilde tenha condições de comprar uma motocicleta ou carro popular. A elite
não aceita que um assalariado esteja na mesma fila que um industrial para pegar
um avião no aeroporto. Essa é a intolerância, o ódio da elite pelo Partido dos
Trabalhadores, por Lula, por Dilma, e por consequência, esse inconformismo com
o resultado da eleição, querendo provocar um terceiro turno. Qual é a condição
moral do líder da oposição, o sr. Aécio Neves? Todos sabem das condutas nada
recomendáveis dele em Minas Gerais.
Trata-se de um conluio da
mídia golpista com a elite brasileira. Houve até um deputado federal, por nome
Carlos Sampaio (PSDB-SP), que teve a petulância de pleitear a extinção do PT.
Isto é um absurdo para um país democrático.
Aquele juiz federal que está
no Paraná, Sergio Moro, comandando a Operação Lava Jato, já se sabe das origens
dele e dos seus vínculos com o tucanato. Ele está endeusado pela mídia
golpista. Mas o tempo é o senhor da razão e mais cedo ou mais tarde, ele será
desmascarado. Acho até que o Conselho Nacional de Justiça deveria investigá-lo.
Atitudes como as dele acabam por desmoralizar a Justiça.
Por outro lado, a crise
política pela qual passa nosso partido reflete também nos Estados da federação,
inclusive no Tocantins. Isso influencia também as pessoas menos esclarecidas ou
avisadas, mas de boa-fé, porque a imprensa golpista tem aplicado a antiga
prática nazista: uma mentira contada várias vezes, repetidamente, torna-se por
fim, verdade. É isso que a Globo faz diuturnamente. É um processo covarde,
rasteiro. Lula não pode ter um apartamento triplex no Guarujá, mas FHC pode ter
um apartamento de 18 milhões na Europa. Já Aécio pode ter um apartamento no
Leblon no Rio de Janeiro, mas Lula tem que morar na favela. Essas denúncias,
por fim, estão todas e banalizadas, além de desprovidas de embasamento
jurídico.
O sr. está há muitos anos na
política, mesmo porque foi assessor legislativo na Câmara dos Deputados por 30
anos, e após isso prefeito da sua cidade natal e alçado a deputado, face a
licença do deputado Paulo Mourão. Percebe-se que são quatro as suas
preocupações básicas: saúde, agricultura e educação, além do municipalismo,
principalmente com a região sudeste do Estado. Como avalia suas experiências e
a sua atuação parlamentar?
Acredito que os avanços da
educação no Brasil aconteceram de forma muito positiva nesses 13 anos de
governo do PT. Os números não mentem, muitas universidades foram criadas.
Dianópolis, por exemplo, possui agora um Instituto Federal de Educação. Também
conseguimos que a Unitins encampasse uma faculdade municipal. Especificamente
na minha cidade, os avanços foram grandes.
Quanto à saúde é outra
bandeira da minha atuação parlamentar. Infelizmente as condições não são boas.
Em Dianópolis há um hospital regional – que atende sete municípios e
aproximadamente 75 mil pessoas – e que vem enfrentando vários problemas, entre
eles, a falta de médicos. Já discursei sobre essas precariedades e fiz alguns
requerimentos que classifiquei como pertinentes. Entendo que o governador
Marcelo Miranda assumiu esse Estado esfacelado com dívidas herdadas de seu
antecessor, que na área da saúde ultrapassava a casa de 360 milhões de reais.
Tenho conhecimento de várias denúncias contra o ex-governador junto ao
Ministério Público, todavia, até o momento, não houve progressos ou conclusões
finais. Eu acho, inclusive, que Sandoval Cardoso tem que ser responsabilizado
criminalmente pela situação de caos em que deixou o Estado do Tocantins.
Quanto à agricultura, dois
projetos são de fundamental importância: o Projeto Manoel Alves e o Matopiba. O
primeiro, direcionado a região Sudeste, é um projeto de fruticultura irrigada e
que foi inaugurado quando eu ainda era prefeito de Dianópolis. O presidente
Lula participou do evento, que foi histórico. Há uma expectativa de geração de
emprego e renda, progresso e melhoria da qualidade de vida do nosso povo. São
20 mil hectares de área irrigada. De acordo com estudos, 1 hectare gera quatro
empregos, quer sejam diretos ou indiretos. Assim sendo, se colocarmos o efeito
multiplicador disso na exploração de toda essa área, será a redenção do Sudeste
do Tocantins. Já o segundo tem uma dimensão muito positiva e pode refletir
diretamente na economia do Brasil, visto que é a última fronteira agrícola e
produtiva do País.
Como o sr. se posiciona em
relação essa área produtiva denominada Matopiba, que abrange, inclusive, o
Oeste da Bahia e o Sudeste do Tocantins, seu colégio eleitoral?
Por mais que se tenha
divergências político-partidárias com a senadora Kátia Abreu, é necessário
reconhecer a determinação, a coragem, a visão de futuro dela. Hoje ela é uma
ministra que está despontando positivamente na equipe da presidente Dilma, pelo
profícuo e eficaz trabalho que vem desenvolvendo. O Matopiba foi encampado por
Kátia Abreu e temos visto os resultados. Essa região pode se transformar num
celeiro de grãos capaz de ajudar o Brasil e até mesmo o mundo todo. Todos nós
tocantinenses confiamos no êxito desse projeto, inclusive com a implementação
de hidrovias, ferrovias e rodovias.
O sr. é a favor da revisão
do pacto federativo que majora as cotas dos Fundos de Participação dos Estados
e dos Municípios (FPE e FPM)? Isso não abalaria as contas e compromissos já
firmados pelo governo federal?
Eu senti na pele a
humilhação e constrangimento que é ser prefeito nesse país. Eu acho que é
necessário, urgente e imprescindível a revisão do pacto federativo. Uma
comissão especial do Senado já está analisando a matéria. Hoje a CNM, que
defende o municipalismo, reconhece que as contas da federação estão
desequilibradas, porque os recursos estão mal distribuídos. Os municípios ficam
apenas com as migalhas. A grande parte do bolo fica com a União. Isso tem que
ser revisto, mas sinto falta de vontade política. Sou hoje um deputado
municipalista, na sua essência.
Na condição de prefeito por
dois mandatos, quais são as outras hipóteses de arrecadação, que o sr. vislumbra,
para um município como Dianópolis? Há outras maneiras de não depender tanto
dos governos estaduais ou federal?
Há poucas alternativas que
podem amenizar essa situação. Porém, uma delas seria atrair investimentos e
empresas para os municípios. A iniciativa privada é que tem dar emprego para o
povo e não o governo. O Estado tem que fomentar e deve ser o indutor do
desenvolvimento. Os incentivos fiscais são de primordial importância para a
instalação dessas empresas no nosso Estado, de forma que produzam riquezas e
arrecadem impostos, posteriormente, revertidos ao próprio município.
Outro detalhe que precisa
ser revisto é a União ter o poder, ao seu bel prazer, de isentar ou diminuir o
IPI de determinados setores. Isso atinge diretamente os municípios e eles
sequer são consultados. Ora, a situação já é precária e quando isso acontece,
as prefeituras praticamente quebram.
FONTE - Jornal Opção Tocantins
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