Parece piada, mas é
tragédia. O pastor Marco Feliciano (PSC-SP) à frente da Comissão de Direitos
Humanos da Câmara é mais uma das faces grotescas, embora coerentes, da política
profissional brasileira.
Coerentemente, a maioria dos
parlamentares, dirigentes partidários e ocupantes dos primeiros escalões dos
três níveis de governo atua segundo os critérios da sobrevivência e da
conveniência.
Quando o alagoano Renan
Calheiros foi eleito para a câmara alta e o potiguar Henrique Eduardo Alves
para comandar a mesa dos deputados federais, o Brasil viu-se de joelhos perante
uma legenda operando como federação de oligarquias e coligação de interesses.
Agora, o Legislativo expõe
suas vísceras ao indicar um criacionista para uma Comissão que deveria defender
o pensamento de vanguarda. Vale lembrar que Feliciano é pregador da Igreja
Assembléia de Deus estando à frente do Ministério Tempo de Avivamento.
Este ramo foi fundado por
ele “através de uma visita do senhor de forma sobrenatural” segundo o domínio
da internet que leva seu nome. Quando alguém afirma tamanho absurdo e é eleito
deputado federal, pouco resta a comentar além da indignação. Nada disso aconteceria, e este tipo de político jamais seria eleito, se o país tivesse uma severa Lei Anti-Seita e não houvesse tamanha permissividade na venda de horários nas grades de programação nos canais de TV privada.
Vale a mesma crítica em
escala maior, pois o Brasil convive com canais inteiros sob controle de
entidades religiosas, dedicando boa parte ou a totalidade de sua programação
para o proselitismo da fé.
Em uma sociedade de
iletrados, onde o analfabetismo funcional atravessa as opções pelo voto, pregar
crendices como se fossem bênçãos é mais fácil do que explicar os mecanismos
inflacionários ou os fatores estruturais da desigualdade. A ignorância
transformada em poder político fortalece a bancada neopentecostal.
Feliciano é outro reflexo do
abismo ideológico, pois a sensível melhoria da qualidade de vida dos
brasileiros não veio acompanhada de um câmbio de mentalidades nas classes
baixas. O resultado é esta combinação grotesca de representação política
baseada no conservadorismo popular e teologia da prosperidade.
No vale tudo pela tal da
governabilidade, o loteamento de cargos e funções indicou o pregador da
ignorância para um posto sensível. Ainda bem que houve reação popular. Agora é
questão de tempo até que seja derrubado da referida presidência para salvar a
imagem de aliados e correligionários.
Bruno Lima Rocha é cientista
político (www.estrategiaeanalise.com.br / blimarocha@gmail.com)
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