O debate sobre os efeitos da
eleição municipal na política nacional tem tomado um rumo mais realista. Velhas
ideias equivocadas estão sendo aposentadas.
Ainda existem aqueles que
insistem em enxergar a escolha de prefeitos e vereadores como uma preliminar da
eleição presidencial. São os que acham que nosso sistema político é igual ao
americano e pensam que elas são equivalentes a uma coisa que existe por lá, as
midterm elections, que acontecem a meio caminho entre as eleições presidenciais
- para renovar parte do Congresso e dois terços dos governos estaduais, e que
costumam antecipar os sentimentos do eleitorado em relação à sucessão na Casa
Branca.
A analogia não faz sentido e
nossa experiência desde a redemocratização o demonstra. A vitória de nenhum de
nossos presidentes decorreu do desempenho de seu partido nas eleições locais
anteriores.
Isso vale no atacado e no
varejo. Ser o campeão na quantidade de prefeitos não quer dizer nada na hora de
contar os votos para presidente. Que o diga o PMDB, que conquista esse troféu a
todo ano e que, quando resolveu ter candidato próprio, amargou derrotas
acachapantes.
Consciente de que de pouco
adianta ter uma tonelada de prefeitos, desde 2002 se contenta com o papel de
coadjuvante, fornecendo o vice a quem imagina que vai vencer (nem sempre
acertando, mas com ótimo retorno).
Tampouco é importante, do
ponto de vista eleitoral, conquistar as grandes cidades ou a maior de todas.
Ganhar ou perder a prefeitura de São Paulo é fundamental para quem lá atua,
mas, na política nacional, é puramente simbólico. Quem duvidar que se lembre de
1996: Celso Pitta se sagrou prefeito, Maluf teve uma espetacular vitória e nada
mudou na vida política brasileira.
A maioria dos analistas se
deu conta que as eleições locais são decisivas por outra razão: nelas, os
partidos melhoram ou pioram suas possibilidades de eleger representantes no
Legislativo. Muito especialmente, o número de deputados que mandam para a
Câmara em Brasília.
O tamanho das bancadas é o
primeiro critério que determina o acesso dos partidos aos cargos de comando do
Legislativo, desde a Presidência do Senado e da Câmara, à chefia de suas
comissões importantes. Parlamentares eleitos por legendas pequenas só chegam
aos postos relevantes se tiverem muito prestígio pessoal – e o apoio das
maiores.
O mesmo vale nas relações
dos partidos com o Executivo. Nas coalizões governistas, os grandes ocupam
ministérios “de ponta” – os que têm visibilidade e movimentam dinheiro. Aos
menores, só resta indicar seus preferidos para cargos secundários. Foi assim em
todos os governos desde Sarney.
Em outras palavras: o poder
dos partidos aumenta exponencialmente se tiverem muitos deputados e senadores.
A grande maioria chega ao
Parlamento em função de seus vínculos com a política municipal. Ou foram eles
mesmos prefeitos - assim obtendo notoriedade e conceito -, ou contam com o
apoio de lideranças locais. São raros os que podem prescindir desse ingrediente
na conquista de um mandato.
Ter uma boa “prefeitama”,
como se diz na linguagem coloquial da política mineira, é quase uma garantia de
sucesso eleitoral.
Os prefeitos, vereadores e
cabos eleitorais são, para os eleitores, aqueles que orientam e informam um
voto difícil. Como escolher, entre as centenas de candidatos a deputado, o
melhor para a região, cidade, comunidade ou bairro? Se o cidadão não consegue
identificá-lo sozinho, por que não ouvir a indicação de alguém em quem confia?
Nem sempre dá certo, mas
muitos acreditam que, assim, correm menos risco de errar na hora de votar.
Os atuais deputados e os que
pretendem chegar à Câmara em 2014 sabem que, se ajudarem na eleição de
prefeitos e vereadores, darão um passo decisivo para seu próprio sucesso daqui
a dois anos.
A eleição municipal é quase
irrelevante para a sucessão presidencial, mas é fundamental para definir o
balanço entre os partidos na legislatura seguinte. Seu impacto eleitoral direto
é mínimo, mas tem amplas consequências políticas.
Marcos Coimbra é sociólogo e
presidente do Instituto Vox Populi
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