“Agressivas, duras,
insensíveis, intransigentes”, estes são alguns dos adjetivos constantemente
associados às mulheres que ocupam espaços de decisão e de poder. Em recente
entrevista a um veículo da imprensa brasileira, a diretora de operações do facebook, Sheryl
Sandberg, a executiva mais poderosa do setor de tecnologia da empresa, definiu
este contexto da seguinte forma, “nós não nos sentimos confortáveis com
mulheres no poder. Nosso estereótipo diz que mulheres devem nutrir, ajudar,
cuidar dos outros, enquanto os homens devem ser poderosos”. Tal afirmação, nos
leva a questionar o porque causamos tanto incômodo nos espaços de poder. Seria
este espaço um espaço pré-determinado aos homens? Não! Trata-se das relações
desiguais de poder entre homens e mulheres na sociedade.
A relação da Presidenta
Dilma no comando da nação é um bom exemplo de como se dão as relações de gênero
no exercício do poder. Não é raro acompanharmos, nos noticiários, os dirigentes
de partidos políticos, mandatários, principalmente da oposição, adjetivar a
Presidenta de “autoritária e intransigente” na articulação das agendas que são
importantes para o país junto ao Congresso Nacional. A estratégia é simples: Se
não se pode desqualificar a sua competência enquanto gestora, aprovada pela maioria
dos brasileiros, vamos criticá-la na forma, rotulá-la de adjetivos que reforçam
no imaginário social o discurso de que o exercício do poder não é tarefa para
as mulheres, pois são elas naturalmente despreparadas para comandar.
O impressionante é que ainda
sobra espaço nesta agenda para os críticos se ocuparem com o tom de cabelo, a
cor das roupas, da maquiagem e do sapato que a Presidenta utiliza nas suas
agendas oficiais. Críticas que se estendem a todas as ministras de seu governo,
principalmente para aquelas que comandam e auxiliam a Presidenta na articulação
política, senadora Gleisi Hoffmann, Ministra da Casa Civil, e ex-senadora,
Ideli Salvatti, Ministra das Relações Institucionais. Não é raro acompanhar a cobrança quanto ao
tom das ministras, que são comparadas a “tratores”, termo comumente utilizado
no meio político para identificar aqueles/as que não possuem o tom conciliador
na resolução dos problemas.
O Ambiente político é o
espaço para divergência de idéias e de constante negociação na busca de um
consenso em torno da proposta que melhor represente os interesses da
coletividade. Esperar que a Presidenta e suas auxiliares hajam segundo o estereótipo de mulher doce e
angelical, em um ambiente bastante masculino, é apenas uma tentativa velada de
desqualificá-las enquanto representantes legais do povo brasileiro.
O discurso sexista evidencia
que as mulheres que assumem uma posição de comando no Brasil ainda têm um longo
caminho a percorrer. Esta não é uma tarefa fácil, afinal, nós estamos falando
de valores que, há milênios, subordinam as mulheres a uma condição de
desigualdade e que têm reflexos nos dias de hoje, seja na esfera pública, seja
na esfera privada.
As mulheres que ocupam estes
espaços de decisão devem encarar tal situação
como desafio a ser superado e denunciado, até que todos, mulheres e
homens, possam ser avaliados pela sua competência na capacidade de resolver
demandas que sejam de interesse da maioria, da coletividade. O incômodo
daqueles que não aceitam mulheres em cargos de direção, deve servir de ânimo
para continuarmos a luta pela igualdade de gênero, afinal, se no dicionário
machista agressividade e dureza se confundem com competência e zelo com a coisa
pública, que sejamos duronas e agressivas, até que o poder não seja um
privilégio e sim um direito de todas e todos.
Fonte: Jornal do Tocantins de 28/05/2013
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