Uma música veiculada pela televisão há um tempinho
atrás marcou, martelou e não sai da minha cabeça. Sabe aquela melodia que você
nem sabe a letra/música direito e fica aquele pedacinho como que “martirizando”
a gente? Pois é, o início e o final da “danada” é mais ou menos assim: “A base
de toda conquista é o professor” e “Todo bom começo tem um bom professor”.
E num contínuo do interessante texto, o professor é
tomado e levado ao paraíso, ao clímax do contentamento com palavras envolventes
como: “fonte de sabedoria, descoberta, invenção, vida, amor, bom começo”,
dentre outras, ricas de significado.
Precisei ouvir muitas músicas, assistir a muitos
vídeos e filmes, ler muitas mensagens e frases de efeito para me reportar ao
lugar/momento/instante em que ouvimos e degustamos essas palavras e nos
satisfazemos com elas e no s lembramos tanto dos parabéns, dos abraços, das
homenagens...e assim continuarmos agradecidos, é sim, o professor é agradecido!
Gostamos, é certo, ficamos emocionados, choramos,
rimos, mas ser professor não é só isso! Vale lembrar de que precisamos ser mais
valorizados. Pois bem, voltemos à música. A letra agora discorre sobre o lado
prático e bem realizado das profissões: “Em teoria, o que se inicia, o que se cria
tem um bom professor”, como por exemplo: o trilho da ferrovia, o bisturi da
cirurgia, o tijolo da olaria, o projeto de arquitetura, dentre outras.
Aí vem aquela reflexão que insiste em aparecer: o
professor ensina o aluno a pensar, é revolucionário, ator, poeta, palhaço,
criativo, poliglota, paciente, terno, amigo...ah! E a musiquinha continua: “O
sonho que se realiza, cada nova ideia, tudo que se cria tem um bom professor.”
É....e a vida, a saúde, a família, os sonhos, o bolso do professor? Ele encaminha
vidas, impulsiona sonhos, respalda ideias, mostra caminhos. Seus “pupilos”
tornam-se estrelas, astros, doutores, juristas, governantes, legisladores (e o
bom professor sinceramente festeja, vibra, realiza-se na realização de suas
“crias”) – isso é certo, notório, evidente e é bom demais...
Só que a categoria está escassa. Os jovens estão
mais práticos na escolha de suas profissões, pois hoje só
“amor-missão-dedicação-sacerdócio” – não dá! Percebe-se claramente que está
cada vez mais difícil para uma nova geração e/ou um professor de hoje
contentar-se, alimentar-se, sustentar-se somente com palavras, música, vídeos,
filmes, enfim!
Exemplo prático e simples tem essa professora que
escreve a vocês: educadora por 42 anos, sala de aula mesmo, (de abril de 1971 a
maio de 2013) com uma aposentadoria de nível superior aos 25 anos de Magistério
e o restante do tempo como Professora Especializada – tudo por concurso, por
gosto, vocação, vontade, amor – e, juntando tudo não foi contemplada (não deu
pra sentir) por tempo de serviço,
gratificação vertical, horizontal disso nem daquilo, ajuda moradia, horas
extras (e é o que o professor bem faz, coitado!), diárias, enfim, recebe ao
final do mês, líquido, por todo esse
tempo , muito menos de R$5.000,00 (cinco mil reais) e (posso mostrar os
contracheques) o que um nosso aluno ou ex-aluno “talvez” receba por um dia de
trabalho, ou como agora, num toque de mágica, juízes recebem quase isso
com auxílio-moradia?!!. Algo está errado? Tudo está certo? Todo professor trabalhará
feliz assim?
Mas, não se incomodem ou se incomodem, pois quem
bem conhece um bom professor é desse jeitinho que ele desabafa.
Só que, lá no fundo da alma, ELE, esse ser humano
por excelência, clama por reconhecimento, implora para se sentir mais valorizado
pelo trabalho que realiza (no bolso e no coração!)
Essa luta não é de hoje. E um dia explode a
esperança e tudo paralisa. Todos sofrem! Porém, tudo passa e a vidinha
recomeça.
A rotinha da escola volta. Uma nova melodia surge.
Novo projeto, novas descobertas, outras invenções. (Volta-se a cantarolar)!
“O que se aprende, o que se ensina, uma lição de
vida, uma lição de amor”...
Até quando essa Figura carente de reconhecimento,
de vida e de amor será um bom professor? Boa pergunta!
ANISIANA JACOBINA
AIRES SEPÚLVEDA DA SILVA (Profª Nisinha )é professora de Português e Membro
da Academia Dianopolina de Letras. E-MAIL: nisinhajacobina13@yahoo.com.
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