A influência dos meios de
comunicação vai além da produção de noticiário. Eles contratam as pesquisas e
organizam os debates
Por Marcos Coimbra —
publicado 18/08/2014
Na próxima terça 19, com o
início da propaganda eleitoral na televisão e no rádio, entraremos na etapa
final da mais longa eleição de nossa história. Começou em 2011 e nossa vida
política gira em torno dela desde então.
A batalha da sucessão de
Dilma Rousseff foi iniciada quando cessou o curto período de lua de mel com as
oposições, no primeiro ano de governo. Talvez em razão do vexame protagonizado
por José Serra na campanha, o antipetismo andava em baixa.
Durou pouco. Na entrada de
2012, o clima político deteriorou-se. As oposições perceberam que, se não
fizessem nada, marchariam para nova derrota na eleição deste ano. Ao analisar
as pesquisas de avaliação do governo e notar que Dilma batia recordes de
popularidade a cada mês, notaram ser elevadas as possibilidades de o PT chegar
aos 16 anos no poder. E particularmente odiosa. Serem derrotadas outra vez por
Dilma doía mais do que perder para Lula.
Ela era “apenas” uma gestora
petista, sem a aura mitológica do ex-presidente. Sua primeira eleição podia ser
creditada, quase integralmente, à força do mito. Mas a segunda, se viesse,
seria a vitória de uma candidatura “normal”. Quantas outras poderiam se seguir?
A perspectiva era
inaceitável para os adversários do PT. Na sociedade, no sistema político e no
empresariado, seus expoentes arregaçaram as mangas para evitá-la. A ponta de
lança da reação foi a mídia hegemônica, em especial a Rede Globo.
Recordar é viver. Muitos se
esqueceram, outros nem souberam, mas a realidade é que a “grande imprensa”
formulou com clareza um projeto de intervenção na vida política nacional.
Não é teoria conspiratória.
Quem disse que os “meios de comunicação estão fazendo de fato a posição
oposicionista deste País, já que a oposição está profundamente fragilizada”,
foi a Associação Nacional de Jornais, por meio de sua presidenta, uma das principais
executivas do Grupo Folha. Enunciada em 2010, a frase nunca foi tão verdadeira
quanto de 2012 para cá.
Como resultado da atuação da
vanguarda midiática oposicionista, estamos há três anos imersos na eleição de
2014. A derrota de Dilma é buscada de todas as formas. O “mensalão”? Joaquim
Barbosa? A “festa cívica” do “povo nas ruas”? O “vexame” da Copa do Mundo? A
“compra da refinaria”? O “fim do Plano Real”? A “volta da inflação”? O “apagão”
na energia? A “crise na economia”? A “desindustrialização”? O “desemprego”?
Nada disso nunca teve
verdadeira importância. Tudo foi e continua a ser parte do esforço para
diminuir a chance de reeleição da presidenta.
Ou alguém acha que os
analistas e comentaristas dessa mídia acreditam, de fato, na cantilena que apregoam
quando se vestem de verde-amarelo e se dizem preocupados com a moral pública,
os empregos dos trabalhadores ou a renda dos pobres? Ou que queiram fazer “bom
jornalismo”?
Temos agora uma ferramenta
para elucidar o papel da mídia na eleição. Por iniciativa do Instituto de
Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, está
no ar o manchetômetro (http://www.manchetometro.com.br), um site que acompanha
a cobertura diária da eleição na “grande imprensa”: os jornais Folha de S.Paulo,
O Globo e O Estado de S. Paulo, além do Jornal Nacional da Globo (como se
percebe, os organizadores do projeto julgaram desnecessário analisar o
“jornalismo” do Grupo Abril).
Lá, vê-se que os três
principais candidatos a presidente foram objeto, nesses veículos, de 275
reportagens de capa desde o início de 2014. Aécio Neves, de 38, com 19
favoráveis e 19 desfavoráveis. Tamanha neutralidade equidistante cessa com
Dilma: ela foi tratada em 210 textos de capa. Do total, 15 são favoráveis e 195
desfavoráveis. Em outras palavras: 93% de abordagens negativas.
É assim que a população
brasileira tem sido servida de informações desde quando começou o ano
eleitoral. É isso que faz a mídia para exercer o papel autoassumido de ser a
“oposição de fato”.
O pior é que a influência
dessas empresas ultrapassa o noticiário. Elas contratam as pesquisas eleitorais
que desejam e as divulgam quando e como querem. E organizam os debates entre
candidatos.
Está mais que na hora de
discutir a interferência dessa mídia no processo eleitoral e, por extensão, na
democracia brasileira.
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