terça-feira, 28 de abril de 2009

Cruela DeVil de Dianópolis e os 20 CADs


"Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;
(...)
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus". (Mateus 5:3-10)


Cruela DeVil, da Disney, chega a Dianópolis:

Voltei a Dianópolis no final de semana. Como sempre, fui calorosamente recebido pelos amigos do Portal CT. Dianópolis é uma das minhas paixões no Tocantins: uma cidade aconchegante, um clima espetacular, dezenas e dezenas de bons amigos, terra de grandes personalidades do Estado e de alguns dos nossos melhores intelectuais, juristas e jornalitas, como o advogado e poeta José Cândido Póvoa, o desembargador José Liberato, meu amigo-irmão e mestre jornalista Marcelo Santos, e tantas outras figuras do mais alto valor para a história do nosso Estado.

Porém, essa visita, para acompanhar a formatura de alguns amigos, foi diferente. Logo que cheguei à cidade foram me contando histórias difíceis de acreditar, que se repetiam em cada casa em que eu chegava: CADs 4, como merendeiras e vigias - com salário miserável de R$ 360 brutos e R$ 332,46 líquidos -, tinham sido demitidos porque uma ou outra pessoa ligada a eles apoiou outro candidato que não foi a chefete política marcelista local.

Pronto, descobri mais uma personalidade do município [essa nada ilustre]: a Cruela DeVil de Dianópolis - lembram daquela personagem da Disney que queria matar os 101 dalmatas para fazer um casaco de pele? Pois é, ela está no Tocantins, mais precisamente, em Dianópolis.

Na primeira casa achei que era mera especulação ou fruto de alguém insatisfeito porque um parente mais humilde perdeu o emprego. Assim, ainda com mágoas da disputa eleitoral, essa pessoa joga a culpa na chefete marcelista local. Contudo, em cada casa que eu passava, a história se repetia: foram demitidos numa só tacada 20 CADs, que, num mesmo dia, chegaram aos locais de trabalho e só ali souberam, por seu substituto - parentes de aliados da Cruela DeVil -, que estavam na rua por motivos que não compreendiam, até porque essas pessoas, humildes, sequer têm noção do alcance da política.

Não me senti convencido, mesmo que sensibilizado. Achei melhor conhecer de perto os personagens envolvidos. Fui ver como está a vida de dois deles.

O vigia Plácido Cardoso dos Santos fazia 11 anos que trabalhava numa escola do Estado, em Dianópolis. Dia sim, dia não, perdia a noite de sono para fazer plantão noturno e, nos finais de semana, tinha o prazer de passar o dia ajudando as senhoras na limpeza para deixar a escola brilhando para receber as crianças no dia seguinte. Mas cometeu um crime: é parente de uma liderança política que deixou de apoiar a corrente da Cruela DeVil. Punição: demissão sumária.

Misericordiosa, Cruela DeVil chegou a dizer a ele que não precisava se preocupar, não. Era só a pessoa que a abandonou se desculpar com ela que ligaria para o Palácio Araguaia e, no dia seguinte, seu Plácido estaria de volta ao trabalho. Claro, graças à bondade da grande e poderosa Cruela DeVil.

Seu Plácido, homem simples mas digno, decidiu, então, que não quer mais o emprego. Por sorte tinha acabado de pagar o empréstimo consignado em folha. No entanto, hoje vive graças ao apoio dos filhos e de um bico ou outro que aparece.

Mais triste é a história de dona Luzimaria Cardoso de Almeida, merendeira demitida da mesma escola e no mesmo dia que o seu Plácido. A casa dela é a mais simples que vi: de madeira, sem forro, chão de concreto puro e bruto. A covardia contra dona Zuzinha, como é chamada, é maior por alguns ingredientes que devem ter dado mais sabor ao ato maléfico da Cruela DeVil. Dona Zuzinha estava havia 15 anos empregada no Estado e faltavam [pasmem!] míseros dois anos para que ela se aposentasse!

Outro ingrediente saboreado pela Cruela DeVil: Dona Zuzinha, como quase todos os demitidos, tem um empréstimo consignado em folha, que deveria continuar pagando pelos próximos dois anos - são R$ 89,57 por mês, um total de R$ 2.150, aproximadamente.

Mais "uma delícia" saboreada pela Cruela DeVil nesse caso: Dona Zuzinha tem dez filhos, dos quais uns moram em Brasília e não têm a mínima condição de ajudá-la. Os outros estão em Dianópolis, morando com ela, e desempregados.

Tem mais - a Cruela DeVil foi cuidadosa na escolha de seu alvo nesse caso: Seu Domingos, marido de Dona Zuzinha, está desempregado. Faz um bico ou outro quando aparece.

Crime cometido por Dona Zuzinha aos olhos da Cruela DeVil: seu genro foi candidato a vereador por outra chapa. Punição: também demissão sumária.

Muito alegre e sorridente, a ex-merendeira perde o sorriso só quando se lembra do último dia em que chegou à escola: "Foi chocante. Cheguei lá e me disseram: 'Você não trabalha mais aqui. Essa outra está no seu lugar'. Ninguém nem se deu ao trabalho de me avisar que estava demitida", contou.

Dona Zuzinha revelou quatro preocupações que a pertubam nesse momento: como poder pagar o INSS para conseguir se aposentar daqui a dois anos; o plano de saúde, que perdeu quando Cruela DeVil mandou que a demitissem; o tratamento dentário do filho, que também teve que parar com a demissão [tramento que era coberto pelo plano de saúde]; e a possibilidade de ver seu nome sujo no mercado por causa do empréstimo consignado. "Meu único patrimônio é meu nome", afirmou ela, com um profundo ar de tristeza.

Segundo Dona Zuzinha, outros dois casos de colegas demitidos por Cruela DeVil a entristeceram. Num deles, Cruela DeVil mandou demitir uma senhora que tinha acabado de perder o marido que sofria de câncer. "Ela ficou com os filhos pequenos e adolescentes, dá dó dela", lastimou a merendeira.

Noutro caso, Cruela DeVil demitiu uma senhora que tinha sido abandonada pelo marido no dia anterior, ficando om os filhos pequenos para tratar. "Coitadinha! Ela ficou desesperada, doidinha, sem saber o que fazer. Deixou os filhos com a mãe e sumiu para Brasília atrás de emprego", contou Dona Zuzinha.

Em todos os casos, os CADs vitimados por Cruela DeVil só souberam que estavam demitidos na hora em que chegaram para trabalhar.

Já que se trata de política não me custava perguntar em quem dona Zuzinha e seu Domingos tinham votado nas eleições de 2006. Ela já tomou a frente: "Moço, votei no governador Marcelo Miranda, esse que está bem aí", afirmou ele, apontando como se fosse em direção ao Palácio Araguaia.

Bom, quer dizer que na ânsia de satisfazer seus caprichos cruéis, Cruela DeVil atingiu dois eleitores do governador? Pior: o governador acatou os caprichos da Cruela DeVil, humilhada nas urnas dianopolinas em 2008, vitimando seus próprios eleitores?

Numa das paredes da sala simples de Dona Zuzinha podem ser vistas imagens religiosas, do casal, dos filhos e, acima de todas elas, e bem maior, uma foto oficial do presidente Lula, numa bela moldura. "E esse aí?", perguntei, apontando. "Nesse valeu ter votado. Temos orgulho dele", disse dona Zuzinha, com seu lindo sorriso de volta.

Despedi-me dela e de seu Domingos e eu e meus amigos dianopolinos que me acompanhavam entramos no carro. Todos em silêncio. Pensativos. Reflexivos. O amigo que dirigia, por fim, quebrou o profundo silêncio, olhou para mim e perguntou, enquanto dava a partida: "Em que tempos nós vivemos?"

A pergunta ressou na minha cabeça e me lembrei de três palavras muito usadas nesses últimos anos: democracia, humanidade e modernidade. Pensei: "Palavras, meras palavras".

E fomos embora.


Fonte: Potal CT de hoje, 28/04/2009(www.clebertoledo.com.br)

Um comentário:

Unknown disse...

realmente e uma verdadeira cruela
vagabunda nunca ganhou e nao ganha mais nada em dianópolis, muito menos o corno do marido dela!@!