Por Marcos Coimbra (Publicado na Revista Carta Capital de 12/12/2012)
Um espectro ronda a política
brasileira. O fantasma da próxima eleição presidencial.
Este ano já foi marcado por
ele.
Ou alguém acredita que é
genuína a inspiração ética por trás da recente onda moralista, que são sinceras
as manchetes a saudar “o julgamento do século”? Que essas coisas são mais que
capítulos da luta política cujo desfecho ocorrerá em outubro de 2014?
A história dos últimos 10
anos foi marcada por três apostas equivocadas que as elites brasileiras, seus
intelectuais e porta-vozes fizeram. A primeira aconteceu em 2002, quando
imaginaram que Lula não venceria e que, se vencesse, seria incapaz de fazer um bom
governo.
Estavam convencidos de que o
povo se recusaria a votar em alguém como ele, tão parecido com as pessoas
comuns. Que terminaria a eleição com os 30% de petistas existentes. E que, por
isso, o adversário de Lula naquela eleição, quem quer que fosse, ganharia.
O cálculo deu errado, mas
não porque ele acabou por contrariar o prognóstico. No fundo, todos sabiam que
a rejeição de Fernando Henrique Cardoso não era impossível que José Serra
perdesse.
A verdadeira aposta era
outra: Lula seria um fracasso como presidente. Sua vitória seria um remédio
amargo que o Brasil precisaria tomar. Para nunca mais querer repeti-lo.
Quando veio o “mensalão”,
raciocinaram que bastaria aproveitar o episódio. Estava para se cumprir a
profecia de que o PT não ultrapassaria 2006. Só que Lula venceu outra vez e a
segunda aposta também deu errado. E ele fez um novo governo melhor que o
primeiro, aos olhos da quase totalidade da opinião pública. Em todos os
quesitos relevantes, as pessoas o compararam positivamente aos de seus
antecessores, em especial aos oito anos tucanos.
A terceira aposta foi a de
que o PT perderia a eleição de 2010, pois não tinha um nome para derrotar o
PSDB. Que ali terminaria a exageradamente longa hegemonia petista na política
nacional. De fato não tinha, mas havia Lula e seu tirocínio. Ele percebeu que,
Com Dilma Rousseff, poderia vencer.
O PT ultrapassou as
barreiras de 2002, 2006 e 2010.
Estamos em marcha batida
para 2014 e as oposições, especialmente seu núcleo duro empresarial e
midiático, se convenceram de que não podem se dar ao luxo de uma quarta aposta
errada.
Que o PT não vai perder, por
incompetência ou falta de nomes, a próxima eleição. Terão de derrotá-lo.
Mas elas se tornaram cada
vez mais descretes da eficácia de uma estratégia apenas positiva. Desconfiam
que não têm uma candidatura capaz de entusiasmar o eleitorado e não sabem o que
dizer ao País. Perderam tempo com Serra, Geraldo Alckmin mostrou-se
excessivamente regional e Aécio Neves é quase desconhecido pela parte do
eleitorado que conta, pois decide a eleição.
Como mostram as pesquisas,
tampouco conseguiram persuadir o País de que “as coisas vão mal”. Por mais que
o noticiário da grande mídia e seus “formadores de opinião” insistam em pintar
quadros catastróficos, falando sem parar em crises e problemas, a maioria acha
que estamos bem.
Sensação que é o fundamento
da ideia de continuidade.
As oposições perceberam que
não leva a nada repetir chavões como “o País até que avançou, mas poderia estar
melhor”, “Tudo de positivo que houve nas administrações petistas foi herança de
FHC”, “Lula só deu certo porque é sortudo” e “Dilma é limitada e má
administradora”.
A população não acredita
nessa conversa. Faltam nomes e argumentos às oposições. Estão sem diagnóstico e
sem propostas para o Brasil, melhores e mais convincentes que aquelas do PT.
Nem por isso vão cruzar os
braços e aguardar passivamente uma nova derrota. Se não dá certo por bem, que
seja por mal. Se não vai na boa, que seja no tranco.
Fazer política negativa é
legítimo, ainda que desagradável. Denúncias, boatos, hipocrisias, encenações,
tudo isso é arma usada mundo afora na briga política.
A retórica anticorrupção é o
bastião que resta ao antilulopetismo. Mas precisa ser turbinada e amplificada.
Fundamentalmente, porque a maioria das pessoas considera os políticos
oposicionistas tão corruptos – ou mais – que os petistas.
O que fazer? Aumentar o tom,
falar alto, criar a imagem de que vivemos a época dos piores escandalos de
todos os tempos.
Produzir uma denúncia, uma
intriga, uma acusação atrás da outra.
Pelo andar da carruagem, é o
que veremos na mídia e no discurso oposicionista ao longo de 2013. Já começou.
Vamos precisar de estômago
forte.
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