segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Entrevista - Deputada Josi Nunes



“Precisamos resgatar a identidade do PMDB no Tocantins”

Deputada que foi o pivô da denúncia de cooptação do PMDB pelo governo, o que motivou a dissolução do partido, sustenta que a medida foi acertada e que pode salvar o partido.

Por Ruy Bucar - Jornal Opção Tocantins

A deputada Josi Nunes diz a crise de identidade do PMDB aprofunda a divisão interna e o enfraquece. A parlamentar defende que a dissolução do partido foi uma medida dura, mas necessária para permitir que o partido reencontre o seu caminho. “Nós fomos eleitos para ser oposição, e um grupo do partido entende que nós devemos seguir esse rumo — cumprir a nossa missão: fiscalizar, fazer os debates, votar, contribuir com o Estado não como integrante da administração. Mas como oposição, que é fundamental no processo democrático.”

A deputada admite que um segmento significativo do partido — que inclui um deputado federal (Júnior “Siqueira” Coimbra) e quatro deputados estaduais — defende a aproximação com o governo. Mas garante  que a maioria é contra. “Nós até poderíamos aceitar, se a maioria do partido concordasse. Mas não é verdade: a base do PMDB não concorda com esse novo caminho que se tentou implementar. Por isso foi decidida a renúncia”, ressalta. A deputada esclarece que a nova direção respeita a opinião dos governistas, mas lembra que a intervenção foi feita pela executiva nacional.   

Josi nega que tenha havido conivência dos “autênticos” quanto à tentativa de aproximação com o governo. A negociação começou com a composição com o candidato governista em Palmas e foi bastante questionada pela oposição e, pelo resultado das urnas, repudiada pelos eleitores. A deputada explica que, embora essa tendência estivesse bem evidente, ela vinha sendo negada de todas as formas. Josi diz que não questiona o governo, mas o PMDB. “O papel de quem está no governo é buscar ter maior número de aliados para uma grande composição. O que nós questionamos é o papel do PMDB de se deixar cooptar por esta tendência, mesmo sabendo que isso não é positivo para o partido.”

Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Opção, a deputada fala do caos que o prefeito eleito de Gurupi, Laurez Moreira (PSB), vai receber e dos desafios que tem pela frente para reconquistar a credibilidade prefeitura. Afirma que pode disputar mandato na Câmara dos Deputados e aponta que o governo Siqueira pode se salvar se tiver humildade para admitir erros e corrigir rumos.  Mas um Siqueira Campos “humilde” é quase um contrassenso.

A dissolução do PMDB acabou com a crise interna ou vai aprofundar a divisão?

Esperamos que o caos que está acontecendo no partido possa servir de reorientação para os rumos ideológicos do PMDB. Infelizmente, sob a direção do deputado Júnior Coimbra, o PMDB acabou por tomar rumos diferentes daquilo que sempre pregou no Estado do Tocantins. En­tre­tanto, no processo democrático, a crise é saudável. A partir da tempestade, nós vamos encontrar os caminhos para obter novamente a calmaria. O PMDB vai reconquistar o  e­quilíbrio e, deste modo, vai resgatar sua identidade. A le­genda e seus parlamentares não serão cooptados e sua história vai ser mantida íntegra. Nem todos suportam as dificuldades de ser oposição, mas os eleitores nos escolheram para criticar os erros e desmandos do governo. Quem não entender isto pode perder o mandato na próxima eleição.

Mas tem outra metade do partido que defende a aproximação com o governo. Não é curioso que o maior partido do Estado abdique de projeto próprio para apoiar o adversário?

As cooptações e adesões ocorrem devido à fragilidade dos partidos. Isto é histórico no Brasil, não ocorre apenas no Tocantins. Às vezes, no lu­gar de ter identidade com os partidos, alguns de seus integrantes têm identidade com interesses particulares ou de grupos. Quatro deputados es­taduais e um deputado federal [Júnior Coimbra] querem compor com o governo de Si­queira Campos. No entanto, a maioria, mais de 40% dos integrantes do diretório, renunciou coletivamente com o objetivo de demonstrar insatisficação com o adesismo. Por causa da renúncia coletiva, o diretório foi destituído e uma nova co­missão provisória foi formada pelo PMDB nacional. Marcelo Miranda, como presidente desta comissão, sinaliza que o partido pretende manter sua independência em relação ao governo de Siqueira Campos.

O PMDB tem um desafio grande: resolver a crise interna, que não é simples, e buscar um caminho. Qual será o caminho do PMDB?

Apesar das posições diferentes, não queremos perder companheiros. Nós queremos agregar os quatro deputados estaduais e o deputado federal. Pelo menos a maioria deve marchar na mesma direção. A crise, embora forte, pode, adiante, resultar em apaziguamento. O caminho é fortalecer o PMDB, explicitar que continuya grande, forte e tem potencial para retornar ao governo do Estado — se se manter único e com bandeiras para garantir o desenvolvimento do Tocantins. Vamos dizer à população que teremos candidato próprio a governador em 2014.

Por que os líderes demoraram tanto a reclamar da aproximação com o governo? O processo  começou quando o partido deixou de lançar candidato próprio em Palmas para apoiar o candidato do governo. Houve conivência dos líderes?

Não houve conivência em aspecto algum. A proposta de adesão ao governo nunca foi muito bem explicitada. Os líderes, como o presidente do PMDB, e os deputados negavam, sempre que questionavam, que estavam preparando uma grande adesão ao governo. Nós sabíamos da tentativa de a­proximação, mas as bases não. Por isso tivemos de conversar e mostrar a todos que não era o caminho adequado. Dissemos que não bastava apenas alguns líderes para tomar uma decisão tão drástica. É preciso ter o controle da maioria do diretório para mudar o rumo do partido. Conseguimos mostrar a todo o partido que a posição deveria ser de independência. Não foi fácil. Porque a outra corrente tem um deputado federal e quatro deputados estaduais. Trata-se de um grupo forte e seus integrantes têm valor, são figuras respeitáveis do partido no Estado. O que questionamos foi a posição deste grupo. Nós dissemos que, para voltar ao governo, precisamos manter nossa autonomia, respeitar os eleitores e integrantes do PMDB. Não se pode falar em conivência dos líderes.

Por que o governo Siqueira tem tanto interesse na cooptação do PMDB? Em Palmas, a aliança com o partido resultou em desastre eleitoral. Interessa ao governo muito mais desarticular a oposição do que ter um aliado de peso como o PMDB?

Qualquer governo acaba buscando a maioria de aliados na Assembleia Legislativa, nos partidos. Trata-se da busca de hegemonia. A presidente Dilma Rousseff está fazendo o mesmo, pois quer ter uma base consistente de partidos no Congresso Nacional. Os governadores anteriores, como Marcelo Miranda e Carlos Ga­guim, fizeram o mesmo. Nós tí­nhamos 20 deputados na base do governo. O que questionamos foi a decisão de um setor do PMDB admitir ser cooptado pelo governismo, mesmo sabendo que isto não é positivo para o partido e para a democracia. O PMDB não pode trocar o papel de protagonista pelo de coadjuvante. Nós temos líderes e forças políticas, em todo o Estado, que foram construídas e fortalecidas ao longo dos  anos. Nós temos condições de eleger o próximo governador do Tocantins, em 2014. O presidente do diretório tem o dever, diríamos cívico, de trabalhar para fortalecer o PMDB, não para ajudar o governo, nosso adversário, a se tornar mais forte do que já é. Porque o governismo nos quer ao lado, não como parceiro, e sim como coadjuvante, ou seja, é uma forma de nos destruir. Mas devemos nos destruir com as próprias mãos? Não é inteligente e estratégico. Por isso fizemos o movimento para reconduzir o PMDB ao seu verdadeiro rumo — o de oposição responsável e consistente. De oposição que, em 2014, para apresentar um candidato sólido com o objetivo de ganhar o governo do Tocantins com o objetivo de reorganizar o desenvolvimento do Estado. Não admitimos que o presidente do diretório trabalhe contra o projeto estratégico do partido. O PMDB é ideologicamente muito diferente do que grupo que está no poder. Vamos permanecer na oposição, preservando nossa identidade. A administração de Siqueira Campos não tem correspondido aos an­seios do povo tocantinense. Por isso, e para preservar o nosso partido, não consentimentos com nenhuma medida adesista. Mas continuar denunciando aquilo que está errado. Ao mesmo tempo, nós vamos permanecer apresentando um projeto alternativo para o Estado. E insisto: vamos ter candidato a governador em 2014. Para ganhar.

A que a sra. atribui o desastre administrativo do governo Siqueira Campos, que, para encobrir seus erros e incapacidade administrativa, atribui aos governos anteriores a responsabilidade pelas dificuldades enfrentadas até aqui? O governo ainda tem salvação?

Embora não seja fácil ajustar um governo na sua fase final, mas, para o bem do Tocantins, é importante que o governo se acerte. Mas é frágil a argumentação do siqueirismo ao culpar as gestões anteriores.que são um verdadeiro caos. Os governos do PMDB organizaram a máquina pública e não deixaram o caos como tem sugerido a máquina de propaganda de Siqueira. Claro que, em algumas prefeituras, há mesmo caos, como em Gu­rupi. A comissão de transição descobriu que nesta cidade impera o caos. Não se sabe como povo tolerou os desmandos do grupo que desorganizou a gestão pública em Gu­rupi. A cidade está deteriorada. O próximo prefeito terá de reconstrui-la. Laurez não foi eleito para ficar reclamando, e sim para apresentar um projeto alternativo e, de fato, administrar a cidade. Nós, que o ajudamos na campanha, somos responsáveis pela reorganização da máquina pública. Não adianta fichar chorando. A função de um governo não é ficar reclamando, e sim atender as prioridades da população. Em dois anos, o governo Siqueira já deveria ter encontrado um norte e melhorado a administração. Mas o governo dele não age, não se mexe. Não tem foco, não tem planejamento — o que é preocupante. As estradas do Tocantins foram abandonadas pelo governo e a situação é de calamidade. No ano passado, o governo Si­queira contratou empresa sem licitação, em caráter emergencial, mas o problema não foi resolvido. Os empresários, os produtores rurais e a população reclamam, com frequência, das estradas esburacadas. Os resultados do governo Siqueira são negativos em vários áreas, como na educação, com o Enem. Na educação, consegue-se resultados rápidos, mas é preciso ter estratégia, não se pode trabalhar na base do improsivo. É fato que o secretário da Educação, Daniel de Melo, está tentando implementar medidas de impacto. Ele é bem intencionado. Como de­putada e cidadã, não torço contra. Pelo contrário, para o bem do Tocantins, torço para que o governador Siqueira Campos efetivamente acerte seu governo. Ele tem dois anos pela frente. Mas insisto que a falta de ação é notada pela população de todo o Estado. Deputados, vereadores e prefeitos estão preocupados. A própria base do governo tem reclamado e cobrado obras na área de infraestrutura. Ob­serve-se que a vitória do em­presário Carlos Amastha para prefeito de Palmas tem a ver com o descaso do governo Siqueira Amastha começou com 2% e ganhou as eleições. O prefeito de Palmas, Raul Filho, tem seus méritos. Mas o resultado das eleições indicam que o palmense não estava satisfeito com o prefeito e com o governador, pois derrotou os candidatos de ambos. Siqueira talvez não tenha avaliado o recado que as urnas de Palmas mandaram mais para ele do que para Marcelo Lelis.

Que avaliação a sra. faz dos investimentos que estão sendo anunciados pelo governo com recursos de financiamento? O governo vai decolar?

É um alento que o To­cantins tenha crédito para obter empréstimos para alavancar seu desenvolvimento. Nou­tras palavras, ao contrário do que prega o governo Si­queira, os governos anteriores [de Marcelo Miranda e Carlos Gaguim] foram responsáveis e, por isso, pôde-se contrair empréstimos. Os governos do PMDB não sucatearam o Es­tado. Agora, é preciso verificar se estes empréstimos não endividar o Estado de modo irreversível, comprometendo o seu futuro. Mas é fato que o crédito é importante para o governo fazer aquilo que o Estado precisa para crescer e se desenvolver, notadamente na área de infraestrutura. É fundamental ter estradas de qualidades para facilitar o escoamento da produção e dar segurança para as pessoas. É preciso construir novas rodovias. Como deputada, vou fiscalizar a aplicação adequada dos recursos. Torço para o governo tenha êxito. Não posso torcer contra o Estado do Tocantins. O verdadeiro político não pode pensar pequeno.

O prefeito Carlos Amastha foi eleito em Palmas pela terceira via, ou seja, é oposição, mas uma nova oposição. A sua eleição fortalece ou divide as oposições?

A eleição de Carlos Amastha fortalece a oposição ao grupo do governador Siqueira Campos. É preciso perguntar e tentar responder a uma pergunta: por que Amastha foi eleito prefeito da capital? Sua vitória sugere que tanto peemedebismo quanto tucanato têm de repensar seus discursos e práticas políticos. A sociedade, com Amastha, indicou que está indo para um lado e contrariando as forças políticas tradicionais. A ascensão de Amastha deve servir de alerta para todos, inclusive para ele próprio. Portanto, trata-se de uma oposição, mas empurrada diretamente pelo eleitorado. O PMDB vai fortalecer suas lideranças e buscar outras para atender às aspirações da sociedade, que está em permanente mutação. Quem ficar parado, quem não se atentar para os novos ventos, vai ser atropelado politicamente pelos eleitores. Lideranças que não se renovam, que não convocam novas forças políticas, acabam se acomodando. As eleições de Palmas deram um “sinal” para todos os políticos do Tocantins, até, repito, para Amastha. Porque as esperanças depositadas no prefeito eleito são muitas e, se não forem contempladas, queimarão o novo líder do PP.

Como a sra. vê os desafios d deputado federal Laurez Moreira, eleito prefeito de Gurupi? O parlamentar arranca do poder o grupo que ficou muito tempo no poder.

Terminar o ciclo de dominação de um grupo político que deixou de contribuir para o desenvolvimento de Gurupi é muito importante para a população. Mas também um momento de grandes desafios. A expectativa da sociedade de Gurupi é muito grande. O município está sucateado e precisa, digamos assim, ser reconstruído. Não vamos conseguir resolver todos os problemas de um dia para o outro, mas o prefeito Laurez pretende fazer uma administração diferenciada, moderna, colocando o interesse público acima das questões particulares. No lugar de varrer os problemas para debaixo do tapete, Laurez vai enfrentá-los de frente. A Unirg, grande patrimônio de Gurupi, foi a primeira instituição de ensino superior do Norte goiano e do Tocantins. Foi criada pelo meu pai, Jacinto Nunes, quando foi prefeito. Hoje, vive um momento de crise intensa —  com dívidas, com problemas com servidores, professores. O pessoal não tem sido valorizado e a há grande preocupação com a qualidade do ensino da Unirg, que sempre foi uma referência. Laurez certamente vai examinar o problema de forma mais moderna e com foto na educação. Não se deve fazer política na Unirg. A ingerência política tem prejudicado a universidade. Não se pode ter exageros de cargos, e sem necessidade. O governo Laurez terá de resolver o problema do Instituto de Pre­vidência e de Assistência dos Servidores de Gurupi. O Ipasgu está falido. O prefeito recolhe o percentual do servidor, mas não repassa para o fundo. Hoje, a prefeitura não tem condições de pagar a aposentadoria de seus servidores. Trata-se de uma grande irresponsabilidade do gestor. Uma pessoa da equipe de transição me disse que o rombo chega a quase R$ 80 milhões! A gente pensava que era alto, cerca de R$ 22 milhões, mas não imaginava que era tanto. A palavra apropriada para definir isto é “assustador”. Outro problema grave são as estradas de Gurupi. Há buracos por toda parte. É impressionante. A recuperação das ruas e estradas é outra tarefa gigante do novo prefeito. Além de recuperar as ruas asfaltadas, a prefeitura terá de asfaltar alguns bairros. Alguns deles têm de 20 a 30 anos, mas jamais foram pavimentados. Outro problema seriíssimo é a saúde. Os servidores do setor não foram valorizados pelas últimas gestões. O salário de médico, segundo o concurso que o prefeito atual pretende fazer, é de R$ 900. Os postos de saúde estão sem médicos e sem medicamentos. A área de educação também não contou os investimentos necessários. Laurez vai investir em planejamento, com o objetivo de fazer muito com o pouco que se tem. Ele pretende fazer uma administração responsável e os resultados positivos certamente virão.

Com a eleição, o deputado Laurez Moreira abriu um espaço importante na região Sul. A sra. pretende ser candidata a deputada federal?

Estou no quarto mandato de deputada estadual. Apesar das dificuldades, tenho cumprido minha missão. Tenho a consciência tranquila. Trabalho, em tempo integral, pelo desenvolvimento do Tocantins, mesmo quando estou na oposição. Sou grata ao povo do Estado, ao povo de Gurupi, que sempre tem me apoiado. Com a vitória do deputado feral Laurez, a região Sudeste de fato fica sem um representante na Câmara dos De­putados. E, sim, vou colocar meu nome à disposição do partido com o objetivo de disputar mandato de deputada federal em 2014. Acho que poderei contribuir ainda mais com o Tocantins se estiver na Câmara dos Deputados. Quero enfrentar este novo e difícil desafio. Eu amo o meu Estado e quero trabalhar ainda mais pelo desenvolvimento. Em 2014, ao mesmo tempo que vou lutar para o PMDB voltar ao governo do Estado, vou batalhar pelo mandato federal.

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