Após votação secreta nesta
sexta-feira, os senadores elegeram Renan Calheiros (PMDB-AL) como presidente do
Senado e do Congresso até 2014. Com 56 votos, Renan venceu Pedro Taques
(PDT-MT), candidato dos senadores “independentes”, que obteve 18 votos. Dois senadores
anularam seus votos e outros dois votaram em branco.
Apesar da vitória, o clima
entre os senadores era de constrangimento. Isso porque o procurador-geral da
República, Roberto Gurgel, ofereceu denúncia contra Renan ao Supremo Tribunal
Federal (STF) pelos crimes de peculato, falsidade ideológica e uso de
documentos falsos. As denúncias são de 2007, mas só agora foram alvo de
denúncia pela PGR.
Por ser candidato, Taques
foi o penúltimo a discursar, antes de Renan. Admitindo a derrota iminente, o
senador discursou e se comparou ao herói da Pátria Tiradentes e ao ex-senador
Ulysses Guimarães. Taques também lembrou do abaixo-assinado que circula há
quase uma semana na internet e que já recolheu 300 mil assinaturas contra a
eleição de Calheiros. O pedetista alfinetou o adversário e os senadores que
defenderam a eleição de Renan.
“A ética que proclamo é a
ética que quase todos os brasileiros se orgulham de ter. Existem vitórias que
elevam o gênero humano e outras que o rebaixam. Não temo meu próprio passado e,
por isso, não tenho medo do meu futuro. Sei que nossa derrota é inevitável,
aritmética. Observem esse silêncio (do plenário): esse é o silêncio é do
covarde, daquele que tem medo. Sintam esse silêncio. Este é o silêncio de quem
aceita, de quem não resiste”, finalizou o discurso de quase 20 minutos,
expressando “respeitos pessoais” ao adversário.
Como último orador, Renan
Calheiros concentrou seu discurso nas propostas para a sua gestão e pouco
comentou as denúncias que pesam contra ele. Sem se referir aos casos em
particular, o senador criticou desafetos que discursaram contra ele.
“Seria injusto com esse
Senado que aprovou tão celeremente a lei da Ficha Limpa demonstrando que esse é
um compromisso de todos nós. Não vou citar todos que tiveram aqui, mas queria
lembrar ao senador Capiberibe que a ética não é objetivo em si mesma, o
objetivo é o Brasil, o interesse nacional. A ética é meio, não fim. A ética é
obrigação de todos nós, responsabilidade de todos nos e dever desse Senado”,
disse.
O ataque foi feito
especificamente ao senador João Capiberibe (PSB-AP) que, em seu discurso na
tribuna antes da eleição, afirmou que Renan tinha “telhado de vidro”.
Capiberibe foi cassado em 2005 pelo STF por compra de votos. O senador foi
eleito novamente em 2010.
Na denúncia oferecida por
Gurgel ao STF, o PGR acusa Renan de ter apresentado notas frias e documentos
falsificados ao Senado para justificar a origem dos recursos que o lobista de
uma grande empreiteira entregava à mãe de sua filha como pagamento de pensão
alimentícia. As notas falsificadas também foram usadas para justificar gastos
de quase R$ 45 mil que Renan fez com recursos do Senado. À época das denúncias,
Renan foi absolvido pelo Conselho de Ética da Casa.
Prós e contras
Antes da votação, mais de 20
senadores subiram à tribuna para discursar a respeito da eleição. Houve ataques
e defesas a Renan Calheiros, que já ocupou a presidência da Casa em 2007, mas
renunciou após as denúncias que só hoje podem se transformar em processo.
Toda a polêmica serviu de
munição para os críticos à eleição de Renan, que defendem que o presidente da
Casa seja “ficha-limpa”. O senador Pedro Simon (PMDB-RS) alertou para o risco
do novo mandatário do Senado começar sua gestão sendo julgado pela suprema corte.
“Está na mão do presidente
do STF denunciar o presidente eleito do Senado Federal. Evidentemente esse
processo cairá no Conselho de Ética. Vamos repetir um filme que já vimos. Não
tenho intimidade com Renan, mas se tivesse, diria: não te mete dessa”, disse o
parlamentar.
Entre os senadores que
rejeitaram a eleição de Renan e declararam voto em Pedro Taques estão Randolfe
Rodrigues (PSOL-AP), Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Cristovam Buarque (PDT-DF),
todos os parlamentares de PSDB e do PSB.
Os favoráveis à eleição do
parlamentar alegavam que por ser o maior partido da Casa, o PMDB tem a
prerrogativa de indicar o sucessor de José Sarney (PMDB-AP). Os senadores
também alegaram que Renan tem “capacidade e competência” para assumir a
presidência.
Quase todos os colegas de
partido de Renan saíram em sua defesa. Foi o caso de Sérgio Souza (PMDB-PR),
suplente da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), que atualmente chefia a Casa
Civil da Presidência. “Sabemos que existe um processo e o senador Renan não
foge à responsabilidade de respondê-lo. Mas os fatos narrados estão ligados à
vida pessoal do senador e não à vida pública”, alegou o parlamentar.
Lobão Filho (PMDB-MA)
questionou a demora da PGR em oferecer a denúncia contra Renan, já que os
crimes ficaram conhecidos há seis anos. “Não é de surpreender que o PGR faça
uma denúncia a cinco dias da eleição da mesa, num sábado, depois de seis anos
com ela”, alegou.
O ex-presidente da República
e senador por Alagoas, Fernando Collor (PTB), além de defender Renan, também
pôs em xeque a postura de Gurgel – o senador é crítico contumaz do PGR. “Gurgel
é prevaricador, chantagista e sem autoridade moral para colocar um senador já
absolvido pelo Senado em situação de constrangimento. Não temos que temer as
trovoadas, os trovões e as chuvas que muitos preveem. Temos é que julgar a
representação contra o procurador-geral que tramita aqui no Senado e que tira
dele toda a autoridade moral para denunciar qualquer um de nós, senadores”,
argumentou.
Fonte: Portal TERRA
Nenhum comentário:
Postar um comentário