DIÁRIO DA MANHÃ
AUTOR: WILSON JOSÉ RODRIGUES GOMES
Ótimas são as lembranças de
Gabriel Araújo, que por décadas foi professor no Instituto de Menores de
Dianópolis. Um poço da mais cristalina ética e uma reserva ímpar da mais
consistente moral. Precocemente mudou-se para a prateleira de cima. Vai
entender os decretos de Deus!
Gabriel era mais que
professor: era conselheiro, confessor, educador, acima de tudo. Exortava
paternalmente os alunos para que usufruíssem ao máximo as oportunidades de
aprendizagem. Dizia ele que, para estarem mais preparados para a vida todos
deveriam procurar aprender de tudo, inclusive roubar; só não deveriam por em
prática. Filósofo também. Gabriel era um menestrel da vida, legítimo discípulo
do axioma: “Educar é ensinar a viver”. Mandamento ainda hoje cunhado
indelevelmente na entrada daquela instituição por seu fundador, Hagahús Araújo.
Então, professor Gabriel já
não mora mais na Terra. Pior para nós,
pois este, como outros “Gabriéis” são aves em extinção. Por isso vive-se hoje
sob o império da Lei de Gerson: o negócio é levar vantagem em tudo, certo? Lei
infame, que relega a criatura à pérfida condição de animal racional (ou bicho
racional?), que penosamente ainda vegeta entre a animalidade e a insanidade,
circunstância bem adversa da condição de ser humano, o nosso verdadeiro “desideratum”.
Instalada a anarquia da
ética, instala-se também a crise da moral e o caos se estabelece no seio da
família, desestruturando-a. Diz Joana de Ângelis: “Quando a família se
desestrutura a sociedade cambaleia, a cultura degenera e a civilização se
corrompe”.
Ainda Joana de Angelis: “A
tecnologia atual aliada à ciência, que ensejou a conquista do cosmo,
infelizmente não pôde impedir o deterioramento da família, vitimada por
inúmeros fatores que se têm enraizado no organismo social de forma cruel”. Mas
muito antes Rui Barbosa já havia dito: “A Pátria é a família amplificada”. A conclusão é sintomática: tudo começa no
grupo familiar.
Fala-se aqui e alhures, que
o povo brasileiro sofre de um mal crônico, desencadeado por um vírus mutante
diagnosticado como SVL – Síndrome de Vira-Latas. Um povo apático, abúlico, sem
esperanças, politicamente um Jeca Tatu - personagem da lavra de Monteiro
Lobato, que ante uma proposta de melhoria sempre responde: “Não vale a pena”.
Os maus políticos (e
quantos!) mataram o patriotismo, entregaram o nosso ouro, venderam nossas matas
e nada fizeram para impedir a maculação do azul de nosso céu pela poluição. O
grande paradoxo é que no solene momento da diplomação juram pela Pátria, pela
Bandeira Nacional, depois a trocam pela bandeira de quem pagar mais. E
descaradamente ainda instalam um crucifixo nas paredes de seus gabinetes. São
tão traidores e infames quanto o foram Judas, sobre o qual dispensa-se
comentário, Domingos Fernandes Calabar, que se vendeu aos holandeses ao tempo
da colonização da Capitania de Pernambuco e Joaquim Silvério dos Reis, traidor
da Inconfidência Mineira. Com semelhante corja encastelada no poder como
ufanar-se de se brasileiro?
O que nos resta neste
momento é implementar os ditames da máxima de Chico Xavier, outro “Gabriel” que
nos deixou um valioso legado moral e espiritual: “Embora ninguém possa voltar
atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo
fim".
(Wilson José Rodrigues
Gomes, advogado, consultor de empresa na área de saúde e segurança do trabalho)
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