terça-feira, 4 de setembro de 2012

Colocando as pesquisas eleitorais em seu devido lugar

 Confira o que o jornalista Flávio Herculano tem a dizer sobre as pesquisas que são realizadas em períodos eleitorais.
De um lado, a pergunta é clara: se as eleições fossem hoje, em quem você votaria? Do outro, a resposta é objetiva. Não há espaço para divagações de quem responde nem para interpretações de quem entrevista. Assim, as pesquisas eleitorais deveriam ser um retrato fiel do momento de sua realização, considerada uma margem de erro que nunca varia acima dos quatro pontos percentuais. Deveriam ser esse retrato fiel, mas nem todas são!
O caminho que leva o pesquisador à rua do eleitor é longo, estabelecido a partir de diversas variáveis, em especial quanto aos locais de realização do trabalho e à amostragem do eleitorado – de modo que o pequeno grupo entrevistado represente toda a população, em termos região de moradia, sexo, idade, grau de instrução e nível econômico.
Há critérios técnicos para todas as definições. Quanto à área física, pode-se sortear os setores, com base na proporção de habitantes de cada local. Já em relação aos entrevistados, deve-se seguir os parâmetros populacionais do IBGE. Se existe boa-fé, não há como errar. Por outro lado, havendo intenção de manipular resultados, basta usar a mesma engenharia, só que às avessas, concentrando as entrevistas em locais e entre segmentos do eleitorado que tenham maior aceitação a determina do candidato.
Com boa vontade, podemos considerar que algumas discrepâncias sejam resultado não da má-fé, mas de falhas técnicas. Seja como for, há institutos e institutos; pesquisas críveis e pesquisas inacreditáveis, como sentenciou a jornalista Roberta Tum. Porém, a mistura entre elas dá um verdadeiro nó na cabeça do eleitor comum, que se depara com resultados contraditórios e com um sobe e desce de números difícil de acompanhar.
As consultas que serviriam para aferir o momento eleitoral e prestar informações ao público terminam se diluindo entre aquelas encomendadas por candidatos, para servir de antídoto contra outras, de números negativos, divulgadas em seu desfavor. Estas transformam-se em verdadeiros instrumentos de campanha, como são as carreatas, comícios e programas eleitorais.
Em quais acreditar? Difícil a resposta, principalmente se considerarmos que até o Ibope, o único instituto que está cristalizado na mente do eleitor e que faz candidatos e militantes suarem frio à véspera da divulgação de suas pesquisas, possui um histórico de erros no Tocantins.
Justiça seja feita, o Ibope nunca atribuiu, no Estado, nas consultas que antecedem a votação, o primeiro lugar a um candidato que, de fato, não tenha se sagrado vitorioso. Porém, nos três últimos pleitos, chegou a dar ao vencedor falsa vantagem de até 10%.
Nas eleições estaduais de 2006, o instituto previu uma diferença de 13 pontos entre o primeiro e o segundo colocado, quando a vantagem nas urnas foi de apenas 4,64% (a última pesquisa indicou Marcelo Miranda com 54% e Siqueira Campos com 41%, quando as urnas deram-lhes, respectivamente, 51% e 46%).
No pleito seguinte veio a maior discrepância: foi apontada na pesquisa da reta final uma diferença de 20% entre os candidatos que polarizaram a disputa pela prefeitura da capital, contra os 11% reais da apuração (o Ibope apontou Raul Filho com 46% e Marcelo Lelis com 26%, enquanto os números reais foram 44% e 33%, respectivamente).
Em 2010, novo pleito e novo erro, dessa vez quanto à penúltima pesquisa, divulgada cinco dias antes da votação para governador: o Ibope deu a Siqueira Campos vantagem de 11 pontos sobre Carlos Gaguim, quando a diferença nas urnas foi de apenas 1,03%. Verdade seja dita, a última pesquisa, divulgada nas vinte e quatro horas que antecedem o pleito, reduziu a diferença, mas deixou a impressão de não ter aplacado o estrago feito pela anterior.
Exemplifico com o Ibope por ser o mais conhecido; não o coloco acima ou abaixo dos demais. Porém, a avaliação da credibilidade – ou não – de institutos e de pesquisas eleitorais é matéria para profissionais. Nem a mim, leigo, é possível fazê-la com propriedade.
Com todo respeito aos profissionais e institutos que realizam um trabalho sério, devemos colocar as pesquisas eleitorais em seu devido lugar. Para os candidatos e apoiadores, elas têm outras funções. Mas nós, eleitores, devemos devotar aos seus números apenas a curiosidade casual que eles merecem, para que não interfiram em nossas escolhas, desviando a atenção do que realmente interessa em uma campanha eleitoral: o histórico de vida pública dos candidatos e suas propostas de gestão. 
Fonte: Portal RT (www.robertatum.com.br

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