sábado, 6 de junho de 2009
ENTREVISTA /RAUL FILHO
O prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), está entusiasmado com as perspectivas de seu governo. Embora ainda vivendo uma fase difícil desse novo mandato, o prefeito aponta a instalação de grandes empreendimentos que vão ter um forte impacto na economia local. Raul Filho reconhece o desgaste de início de governo, com insatisfações nas áreas da saúde, aumento da passagem de ônibus, ruas e avenidas esburacadas e, sobretudo, atraso no início do programa de obras em face da redução de recursos. Mesmo assim, está bastante otimista com a possibilidade de conseguir recuperar o poder de investimento da prefeitura e realizar um governo muito mais avançado e mais eficiente que o primeiro. E explica a razão do seu otimismo. "Não há nada mais gratificante de que quando você tem reconhecimento. Eu estava no terceiro para o quarto ano de governo, mal avaliado, e a sociedade, de repente, reconheceu a minha luta, os meus esforços, as nossas intenções e me deu mais uma vez a confiança de governar os seus destinos por quatro anos", lembra o prefeito, ressaltando que a confiança da sociedade cobra mais responsabilidade. "Então, conseguimos vislumbrar um horizonte de que temos condições de fazer muito mais agora do que fizemos nos quatro anos passados”. O prefeito declara solidariedade ao governador Marcelo Miranda e diz que ele é grande o suficiente para saber conviver com a crise e dar a volta por cima. Cada vez mais apontado como um nome que pode surpreender em 2010, Raul Filho descarta candidatura e diz que o melhor nome para a disputa é o vice-governador Paulo Sidnei. "Paulo Sidnei é um homem que tem todas as qualidades e vive um momento especial para ser ele o timoneiro desse projeto. Mas ele precisa por o pé na estrada e dizer que quer". Nesta entrevista exclusiva o prefeito fala ainda da homenagem ao ex-governador Siqueira Campos e nega aproximação com o seu grupo político, embora ressalte que com o senador João Ribeiro não há dificuldade de construir alianças para as próximas disputas.
Desde a semana passada os usuários do transporte coletivo de Palmas estão pagando 40% mais caro. Esse aumento era mesmo inevitável?
As empresas ficaram esse tempo todo sem reajuste e a prefeitura concedeu aumento baseado no que eles pediram pela planilha nacional. Na média nacional é mais do que justo. O que impactou é que a população ficou mais de quatro anos sem ver isso ocorrer. Deixamos represar muito, mas esperando esse momento. Agora há de convir que, de lá para cá, teve aumento do salário mínimo, de combustíveis, salários de servidores. Então, foi algo responsável. Cabe à sociedade fazer um levantamento nacional e sentir o que as empresas têm de compensação. As empresas estavam começando a se sucatear. Os empresários já estavam pedindo clemência e, com tudo isso, seguramos mais um ano.
Não teme desgaste com o setor, que já é explorado politicamente pelas mudanças reprovadas pelos usuários?
Na vida pública, se está suscetível a ter desgaste. A sociedade tem de entender o seguinte: o governante tem de tomar medidas. Eu não poderia deixar o estrangulamento total das empresas, um sucateamento, que já estava ocorrendo. Nós exigimos melhorias, que estão acontecendo. Muitas outras vão acontecer no decorrer desse período.
A prefeitura fez uma série de exigências para as empresas, mas quanto ao que cabe ao poder público, que é a infraestrutura, quando efetivamente começam as obras?
Primeiro, uma das necessidades constatadas foi o aumento da frota. Então, hoje, nós temos 26 novos carros. Também o aumento da quilometragem atendendo as demandas e reduzindo o tempo em alguns pontos, que o ônibus chegaria a ficar mais de 30 minutos. São mais de 50 mil quilômetros a mais contabilizados do momento que se colocou essa nova frota. Já começamos a trabalhar os pontos, os abrigos. A qualquer momento começam a surgir novos abrigos. A Teotônio Segurado é o eixo principal, a espinha dorsal da Capital. Tem de drenar para ela todas as linhas coletoras. Ela certamente receberá uma melhor infraestrutura em termos de abrigos até consolidar o projeto definitivo, que depende de um empréstimo que buscamos junto ao BIRD e ao Ministério das Cidades. É um investimento muito grande, algo em torno de R$ 200 milhões, que está em análise pelo governo federal. Já o outro, junto ao BIRD, é em torno de 66 milhões de dólares. Isso resolveria por uns 30 anos a questão do transporte coletivo da cidade.
A prefeitura já dispõe de recursos junto ao Ministério das Cidades para efetivamente começar as obras?
Não. Construímos os abrigos com recursos próprios. Vamos procurar melhorar esse serviço consideravelmente, sobretudo nas principais avenidas e depois se estendendo aos setores que também precisam merecidamente ser atendidos.
Como recebe as críticas de moradores quanto aos buracos que estão dificultando o trânsito e contribuindo para aumentar o número de acidentes?
Eu fico feliz quando a sociedade se manifesta. Ruim é quando ela fica impassível. Ela reclama, mas é compreensiva. Entende que vivemos um período anormal. As chuvas nunca se estenderam tanto. É uma questão nacional. As grandes metrópoles vivem o que Palmas está vivendo. No Estado do Tocantins, Palmas talvez seja a cidade com menos problema. Em Araguaína, Colinas, Gurupi, Formoso do Araguaia, a situação é catastrófica. Mas buscamos resolver essas demandas. A cidade tem um lençol freático alto. Por mais que se tente fazer, está jogando material fora. O material não dá aderência. Tivemos de esperar esse momento da estiagem para resolver definitivamente essa demanda.
O senhor tem trabalhado em Brasília para restituir o poder de investimento do município, como a queda no repasse do FPM? O que já conseguiu?
Atuamos em duas frentes. Primeiro, foi um projeto de autoria do senador Romero Jucá (PMDB-RR), que já tramitou e foi aprovado no Senado Federal. Hoje ele está na Câmara. Estivemos com o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), que nos orientou a conversar com os líderes e fizemos isso. Esperamos destrancar a pauta, que hoje está acumulada com medidas provisórias, para que essa matéria venha à discussão. Sendo aprovada, voltaremos aos índices anteriores de 2007. Mas o governo federal antecipou essa decisão visando atender à crise que o país vive e os municípios estão literalmente afetados. Mas podemos abranger mais essa questão. Antes da crise, já estávamos afetados pelos índices do IBGE no que diz respeito à renda per capta de Palmas. Levamos a Brasília todos os nossos problemas e agora fomos contemplados com a medida provisória. Recebemos da Secretaria do Tesouro Nacional a quantia de R$ 10.078.528,34, como compensação pelas perdas nos repasses do FPM no primeiro trimestre deste ano. Nossas investidas trouxeram resultados positivos na recuperação daquilo que nunca poderíamos ter perdido.
Na campanha, o senhor falou que Palmas dispunha de R$ 300 milhões para investimento em obras. Para onde foi este dinheiro?
O orçamento da prefeitura é de R$ 320 milhões. Nunca tivemos a capacidade de investimento que temos agora. A prefeitura tem R$ 100 milhões do PAC. O Governo do Estado também tem mais de R$ 100 milhões para serem investidos em Palmas. Considerando os investimentos próprios da prefeitura, podemos chegar a esses valores, mas isso nos afetou. No momento que tivemos essa quebra de receita considerável, afetou até a contrapartida do PAC. O governo também está revendo. Temos dois modelos de contrapartida. Para algumas modalidades, 20%. Para outras, 10%. Uma média de 15%. Se temos investimento previsto de R$ 130 milhões, precisaremos ter seguramente algo em torno de R$ 30 milhões como contrapartida. Não teríamos condições de fazer isso em razão da quebra da receita no FPM. Então, propomos ao governo uma contrapartida de 5% e isso está sendo analisado.
A imprensa revelou que o presidente Lula não teria aprovado a sua aproximação com o grupo do ex-governador Siqueira Campos. Como o senhor avalia esses comentários?
O presidente Lula sempre teve por todos nós um carinho muito grande. Mas uma coisa que ele nunca se intrometeu foi na política regional. Cabe a cada grupo político fazer suas alianças. Segundo, em nenhum momento nos aproximamos do ex-governador Siqueira Campos nem temos essa intenção. Temos muito respeito pelo ex-governador, reconhecemos seu valor como fundador do Estado. Agora, nunca discutimos política. Portanto, não tem como o presidente Lula saber se nos aproximamos do ex-governador Siqueira Campos. O que temos e não negamos é uma boa aproximação com o senador João Ribeiro, que faz parte do conselho político do presidente Lula e que tem mantido uma boa relação conosco.
O senador João Ribeiro tem dito que não haveria nenhuma dificuldade de uma composição política com o PT. Isso vem sendo trabalhado?
Na política, não se pode perder a ética. Acho que está muito longe. O PT ainda não desenhou essa aliança preferencial. Nunca abrimos o leque com nenhum segmento partidário até porque não é o momento. O PT tem contribuído para uma política de nível, com um debate sobre o Estado. Agora, alianças não foram tratadas pelo partido e muito menos isoladamente pelo prefeito Raul Filho. Tenho conversado com o presidente Lula. O que ele quer é tão somente que a gente consiga ser suficientemente grande para fazer o Estado prosperar, a nossa Capital crescer e ele tem sido um firme parceiro nesse crescimento.
Como o senhor avalia as declarações do ex-prefeito Paulo Mourão de que ele é o nome da Dilma Rousseff aqui no Estado?
Não tenho conhecimento disso oficialmente, mas o prefeito Paulo Mourão, a quem tenho um carinho especial, tem todas as credenciais. O que a Dilma fez de errado foi não comunicar nem o partido nem a mim, na condição de um líder partidário e governante da Capital. Ela ainda não nos deu essa informação. Nisso, ela pecou ao ter delegado ao Paulo Mourão a função de seu representante aqui no Estado. Se fez isso, ela está em boas mãos porque o Paulo tem toda uma história, toda uma credencial. Mas ele precisa voltar para o PT porque normalmente o partido, e a Dilma é partidária, não abriria mão de delegar esse poder a uma pessoa que esteja integrada aos quadros partidários.
O senhor saiu das eleições convicto de que o melhor nome para o Tocantins em 2010 seria o do vice-governador Paulo Sidnei. Como o senhor avalia o cenário hoje?
O Paulo (Sidnei) é uma pessoa que todo o Estado respeita. Tem uma história de vida que todo político respeita. Não tiro uma palavra do que penso sobre ele, um homem vive um momento especial para ser o timoneiro desse projeto. Mas ele precisa por o pé na estrada e dizer que quer. Ele conhece o ditado antigo que diz que em política não há espaço vazio. Alguém está trabalhando para ocupar esse posto de governador. O Paulo tem todas essas qualificações.
Como avalia essa crise política que se abateu sobre o Palácio Araguaia, o RCED e denúncias de irregularidades?
Com relação ao RCED penso que, se a justiça for prudente, a esta altura, não é salutar para o Estado ter uma mudança de governo. Já estamos a quase um ano para as próximas eleições. Não é interessante haver uma mudança de governo. Com relação ao escândalo, esse é um problema que não gostaria de adentrar. Acho que o homem público está suscetível a tudo. Não pude analisar nem conheço bem a pessoa para saber se há excesso nas denúncias. Mas uma pessoa que eu acredito e tenho um profundo respeito é o governador Marcelo Miranda. Creio que ele é grande o suficiente para saber conviver com esse momento, tirar conclusões, dar a volta por cima e continuar com o desenvolvimento do Estado.
Palmas 20 anos, como o senhor avalia a trajetória dessa cidade que o senhor acompanha desde o início, qual a contribuição do seu governo?
Palmas é uma cidade planejada, mas muito mal ordenada. Isso implica desafios constantes. Palmas tem uma extensão maior que Goiânia. São quase 40 quilômetros de extensão. São desafios interessantes porque, quando só se governa na bonança, não se ganha notoriedade por superar crises e problemas, que é o que temos feito. A cidade ganhou em nosso governo uma gestão democrática. Foi no nosso governo que abriu as portas para a democracia e a participação popular. Até a nossa chegada ao Paço Municipal, aqui era visto como mera secretaria do Palácio Araguaia. Hoje, é uma cidade cujo governo tem rosto, que tem autonomia, que vem cumprindo o seu destino. A participação popular nos orienta no que é mais importante para fazer os investimentos. É uma cidade que, hoje, tem notoriedade em educação. A educação infantil e fundamental é referência em qualidade e estrutura física. Tudo isso feito com dinheiro do contribuinte de Palmas. Temos também uma política sólida e planejada na habitação, mais crescente agora neste segundo governo. Temos investimentos já feitos em infraestrutura e que, nos próximos dois anos, acontecerão numa escala muito superior. Palmas está firmada como cidade universitária, que caminha para ser um polo tecnológico. Palmas tem seus problemas e terá por toda vida. Não há cidade que não tenha problema, mas ninguém pode negar que temos uma qualidade de vida como metrópole que oferece tudo.
Qual a sua mensagem neste aniversário de Palmas?
É o nosso otimismo. Nunca estivemos tão otimistas. Desde que assumimos, conseguimos conhecer com afinco a realidade de Palmas, seus problemas, suas soluções e trabalhamos com a maior responsabilidade para dar a esta cidade o destino que todos esperam. Uma cidade que possa oferecer às pessoas participação, inserção e oportunidade e Palmas tem sido um porto de oportunidades. Nós sempre procuramos oferecer serviços qualificados à população.
Quais os desafios para os próximos 20 anos dessa cidade?
Palmas é um eterno desafio. O principal desafio é você fazer uma combinação de uma política econômica e social. Econômica para você garantir os investimentos e o custeio de uma cidade que cresce rápido, social é você conseguir também fazer uma combinação que tudo cresça, mas que o social cresça junto. Por que cresce junto? Por que no momento que você dá qualidade e educação as pessoas que vêm do interior e de outros estados migram para cá em busca dessa qualidade. Quando você dá sinais de melhora na saúde as pessoas vêm para cá em busca da melhora na saúde, então é um eterno desafio. O que é muito bom para qualquer governante e Palmas está sempre nos impondo essa condição de fazer uma política econômica combinada com o social e nós temos procurado fazer isso, desde o microcrédito, a educação, a saúde, a habitação, a infraestrutura e uma participação popular.
O senhor esperava tanta polêmica nessa homenagem que está fazendo ao ex-governador Siqueira Campos e a outro pioneiro, o ex-prefeito Fenelon Barbosa?
Não. Confesso que, historicamente, nunca se viu uma manifestação da imprensa e do Ministério Público por querer dar nome de pessoas a logradouros públicos. Em Palmas, denomino pelo menos dez logradouros públicos com nomes de pessoas vivas. Avenida Governador Moisés Avelino, Avenida Deputado Izidório Oliveira, Avenida Gilson Rego, Ponte Fernando Henrique, Teatro Fernanda Montenegro, Autódromo Rubens Barrichello, Estádio Nilton Santos e nunca se discutiu isso. No dia que se homenageia o fundador da cidade, suscita uma tese. Então, não sei se isso é contra o reconhecimento de quem merece ser reconhecido. Não me arrependo. Faria novamente e continuo insistindo em dizer que a homenagem é uma das mais justas que o poder público só pode fazer a alguém em vida.
Como o senhor avalia esse início do segundo mandato?
Não há nada mais gratificante do que o reconhecimento. Estava mal avaliado no terceiro e quarto ano de governo e a sociedade, de repente, reconheceu minha luta, nossas intenções e me deu mais uma vez a confiabilidade de governar os seus destinos por quatro anos. Isso rejuvenesce. Dá a certeza de que o seu tempo de 24 horas não é o suficiente. Tem que ter mais para dar tudo de si. Vislumbro um horizonte com condições de fazer muito mais agora do que fizemos nos quatro anos passados. Em todos os aspectos. Vamos elevar essa educação ao mais alto nível de excelência, esse é o nosso desafio. A habitação, a infraestrutura, a oportunidade de empregos, a abertura para as empresas se instalarem aqui com essa logística que passamos a ter. Quero corresponder mais do que antes a essa confiança.
Fonte:www.jornalopcao.com.br
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