O terceiro turno da eleição
municipal começou antes mesmo de o segundo terminar. Enquanto os eleitores
ainda votavam, a disputa pelo troféu do “grande vencedor” já estava em curso.
Políticos, lideranças
partidárias, observadores e comentaristas entraram em campo desde a manhã de
domingo, apresentando sua interpretação do “sentido da eleição” e decretando
quais eram, a seu ver, os ganhadores e os perdedores.
Em política, como em várias
coisas na vida, às vezes importa mais a versão que o fato. Adequadamente
embalada, a narrativa sobre o ocorrido pode até prevalecer sobre o que
efetivamente se passou.
É possível ganhar e ser
derrotado, assim como perder e posar como vencedor. Depende, no fundo, de quão
alto se bate o bumbo na propagação da versão que sobrepuja as outras.
Não que seja decisivo esse
terceiro turno. No final da eleição municipal de 2008, por exemplo, a mídia se
encheu de análises que afirmavam que o PMDB havia se tornado a “noiva cobiçada”
na disputa presidencial seguinte.
Falso. O partido já era,
desde a eleição legislativa de 2006, desejado como parceiro por petistas e
tucanos, fundamentalmente por ter eleito a maior bancada na Câmara e ter vasto
tempo de televisão. Não era por ter muitos prefeitos em cidades pequenas e
algumas capitais que queriam se casar com ele.
Todos sabem que isso conta
pouco na hora de ganhar a eleição para o Planalto. Pela simples razão que a
maioria dos eleitores não acha relevante ouvir o prefeito quando escolhe o
candidato a presidente.
Para as oposições e os
setores da sociedade - e da imprensa - mais hostis ao que chamam lulopetismo, o
terceiro turno da eleição recém concluída está sendo complicado.
De um lado, precisam reduzir
o significado do desempenho objetivo de Lula e do PT, especialmente em função
do resultado em São Paulo. De outro, têm que produzir “vencedores”, nem que
seja às custas de alguma prestidigitação.
O fato é as eleições foram
ruins para as oposições. Em especial, para o PSDB.
De 2004 para cá, o total de
prefeitos que elegeu, junto com o DEM e o PPS, caiu quase à metade. O número de
vereadores diminuiu - apesar do aumento de vagas. Suas bases municipais, tão
necessárias para a eleição legislativa, estão se esgarçando ano após ano.
O PSBD não fez, em 2012, o
prefeito de nenhuma das 7 capitais das regiões Sul e Sudeste – sequer
apresentou candidato em 3 e foi derrotado em 4. No segundo turno, ganhou apenas
5 prefeituras nas 34 cidades dessas regiões que o realizaram.
Saiu-se bem na região Norte
e em algumas capitais menores do Nordeste.
Em São Paulo, foi derrotado
na capital e viu o PT vencer em 7 das 10 maiores cidades do estado.
Na tentativa de
desqualificar a vitória de Fernando Haddad, começou a circular, desde a semana
passada, a tese de que é de Serra a responsabilidade exclusiva pela debacle.
Que, em outras palavras, o único derrotado foi ele.
Dizer, no entanto, que “A
culpa é do Serra!” – como até Kassab se apressa em declarar – expressa apenas
parte da verdade.
O que foi julgado e
reprovado o ultrapassa: um discurso, uma proposta de governo, uma “turma”. O
eleitorado da cidade rejeitou mais que um indivíduo.
Os problemas do PSDB
preocupam a democracia. Quando a oposição legítima se enfraquece, abre-se o
caminho para toda sorte de fantasia extra-política. É nesse vazio que viceja o
golpismo.
Quem perde a esperança de
vencer na urna faz de tudo para levar o jogo para o tapetão.
Marcos
Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
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