Enquanto os ânimos serenam e
as interpretações começam a ser elaboradas, podemos já avaliar os números
iniciais da eleição municipal. Com a extraordinária rapidez que nossa Justiça
Eleitoral adquiriu nos últimos anos, estavam disponíveis logo após a votação.
Os analistas têm o hábito de
considerar que as eleições locais são uma antessala das presidenciais. Em
função desse cacoete, olham os resultados como se fossem o primeiro round da
disputa pelo Palácio do Planalto em 2014.
Trata-se de um equívoco,
como mostram as evidências. Desde a redemocratização, não houve sequer uma
eleição presidencial que tivesse sido “antecipada” pelo ocorrido na disputa
pelas prefeituras.
O que acontece nela pode ter
efeito na sucessão dos governos de alguns estados, especialmente os menores e
aqueles onde a capital tem grande proeminência na estrutura urbana.
Nesses casos, a eleição dos
prefeitos costuma fornecer um bom indício do que vai acontecer dois anos depois
e estabelece de imediato o vencedor na capital como concorrente de peso.
Na verdade, para a política
nacional, as eleições municipais são relevantes muito mais por suas
consequências na composição do Congresso, especialmente da Câmara. Na vida
política dos estados, por seu impacto nas Assembléias.
Ganha-se ou perde-se a Presidência
(e os governos estaduais) sem que elas sejam tão relevantes. Governa-se, porém,
com maior ou menor facilidade de acordo com o que nelas ocorre.
Não são importantes para
vencer a eleição, mas fundamentais para quem as vence.
Quem leu o que nossa grande
imprensa andou falando nas últimas semanas terá tomado um susto com o que
aconteceu domingo.
Jornalistas e comentaristas
são livres, como qualquer cidadão, para ter opiniões e preferências políticas.
É perfeitamente natural que gostem mais de um partido que de outro.
Também são compreensíveis as
implicâncias que têm com algumas lideranças.
Costuma-se, no entanto,
cobrar de todos o compromisso com a informação. Que evitem deixar que seus
sentimentos os impeçam de fornecer a leitores e espectadores a notícia correta.
Se houve um tema
predominante na cobertura das eleições deste ano foi a “queda do PT”. Quase
diariamente, saíam matérias ressaltando o mau desempenho que o partido teria em
todo o País e, em particular, nas capitais.
Misturando análise apressada
das pesquisas com muita torcida, a tese central era que o julgamento do “mensalão”
prejudicaria os candidatos petistas e dos partidos da base do governo.
Prenunciava-se, de acordo com essa suposição, um quadro de diminuição do PT e
crescimento dos partidos de oposição.
Para quem acreditou nisso, o
resultado das eleições deve ter sido uma surpresa.
Considerando os cinco
partidos que mais venceram em 2008, o PT foi o único que aumentou o número de
prefeituras ganhas. PMDB, PSDB, PP e DEM encolheram - os tucanos em seus
principais redutos, São Paulo, Minas Gerais e Ceará.
Em queda semelhante à que
aconteceu em 2010 nas eleições para o Legislativo, as três principais legendas
oposicionistas - PSDB, DEM e PPS - diminuíram em 25% o total de prefeituras
conquistadas, indo de 1418 para 1077 (sem considerar as cidades onde haverá
segundo turno).
Ou seja, e em sendo verdade
que as eleições municipais são importantes na definição da próxima Câmara dos
Deputados, um resultado preocupante.
Faz sentido dizer que o PSB
é a estrela em ascensão?
Cresceu como o PT, indo de
314 para 435 prefeituras. A grande vitória no Recife compensou a inesperada
derrota em Curitiba. Manteve Belo Horizonte. Disputa algumas capitais
importantes no segundo turno.
A eleição foi certamente
positiva para o partido. Daí, no entanto, a imaginar que é o “grande vitorioso”
vai uma vasta distância.
Por estranho que pareça a
algumas pessoas, o partido que mais cresceu em número de prefeitos e
vereadores, que melhor performance teve nas cidades médias, que está mais bem
posicionado nas capitais, é o PT.
Pode-se gostar ou não disso.
Mas é um fato.
Marcos Coimbra é sociólogo e
presidente do Instituto Vox Populi
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