Lideranças camponesas e
indígenas estão apreensivas com o poder da senadora por sua atuação na
demarcação de terras no Brasil
Eis o quadro: o pequeno
agricultor Juarez Vieira foi despejado de sua terra, em 2002, no município
tocantinense de Campos Lindos, por 15 policiais em manutenção de posse acionada
por Kátia Abreu. Juarez desfilou, sob a mira dos militares, com sua mulher e seus
dez filhos, em direção à periferia de alguma cidade.
O caso acima não é isolado.
O governador Siqueira Campos decretou de "utilidade pública", em
1996, uma área de 105 mil hectares em Campos Lindos. Logo em 1999, uns
fazendeiros foram aí contemplados com áreas de 1,2 mil hectares, por R$ 8 o
hectare. A lista dos felizardos fora preparada pela Federação da Agricultura e
Pecuária do Estado do Tocantins, presidida por Kátia Abreu (PSD-TO), então
deputada federal pelo ex-PFL.
O irmão dela Luiz Alfredo Abreu
conseguiu uma área do mesmo tamanho. Emiliano Botelho, presidente da Companhia
de Promoção Agrícola, ficou com 1,7 mil hectares. Juarez não foi o único
injustiçado. Do outro lado da cerca, ficaram várias famílias expulsas das
terras por elas ocupadas e trabalhadas havia 40 anos. Uma descarada grilagem!
Campos Lindos, antes
realmente lindos, viraram uma triste monocultura de soja, com total destruição
do cerrado para o enriquecimento de uma pequena minoria. No Mapa da Pobreza e
Desigualdade divulgado em 2007, o município apareceu como o mais pobre do país.
Segundo o IBGE, 84% da população viviam na pobreza, dos quais 62,4% em estado
de indigência.
Outro irmão da senadora
Kátia Abreu, André Luiz Abreu, teve sua empresa envolvida na exploração de trabalho
escravo. A Superintendência Regional de Trabalho e Emprego do Tocantins
libertou, em áreas de eucaliptais e carvoarias de propriedade dele, 56 pessoas
vivendo em condições degradantes, no trabalho exaustivo e na servidão por
dívida.
Com os povos indígenas do
Brasil, Kátia Abreu, senadora pelo Estado do Tocantins e presidente da CNA
(Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), tem tido uma raivosa e
nefasta atuação.
Com efeito, ela vem agindo
junto ao governo federal para garantir que as condicionantes impostas pelo
Supremo no julgamento da demarcação da área indígena Raposa Serra do Sol sejam
estendidas, de qualquer forma, aos demais procedimentos demarcatórios.
Com a bancada ruralista, ela
pressionou a Advocacia-Geral da União (AGU), especialmente o ministro Luís
Inácio Adams. Prova disso foi a audiência na AGU, em novembro de 2011, na qual
entregou, ao lado do senador Waldemir Moka (PMDB-MS), documento propondo a
criação de norma sobre a demarcação de terras indígenas em todo o país.
O ministro Luís Adams se
deixou levar e assinou a desastrosa portaria nº 303, de 16/7/12. Kátia Abreu,
ao tomar conhecimento desse ato, desabafou exultante: "Com a nova
portaria, o ministro Luís Adams mostrou sensibilidade e elevou o campo
brasileiro a um novo patamar de segurança jurídica".
Até mesmo com relação à
terra de posse imemorial do povo xavante de Marãiwatsèdè, ao norte do Mato
Grosso, que ganhou em todas as instâncias do Judiciário o reconhecimento de que
são terras indígenas, Kátia Abreu assinou nota, como presidente da CNA,
xingando os índios de "invasores".
Concluindo, as lideranças
camponesas e indígenas estão muito apreensivas com o estranho poder econômico,
político, classista, concentracionista e cruel detido por essa mulher que,
segundo dizem, está para ser ministra de Dilma Rousseff. E se perguntam:
"Não é isso o Poder do Mal?" No Evangelho, Jesus ensinou aos
discípulos a enfrentar o Poder do Mal, recomendando-lhes: "Esta espécie de
Poder só se enfrenta pela oração e pelo jejum" (Cf. Mt 17,21).
Autor: PAULO BALDUINO DE
SOUSA DÉCIO, o dom Tomás Balduino, 90, mestre em teologia, é bispo emérito da
cidade de Goiás e conselheiro permanente da Comissão Pastoral da Terra
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