sábado, 5 de janeiro de 2013

Artigo: Como deve atuar uma Câmara Municipal


Por  *Gustavo Aires

Infelizmente muitos têm uma visão distorcida do real papel de um vereador. Em Dianópolis, abalada por investigações, acusações e julgamento dos nove vereadores da legislatura que está se encerrando agora, no dia 31, levaram o dianopolino a uma “desilusão” ainda maior com relação ao verdadeiro papel do vereador.

O mandato de vereador é como se fosse uma procuração dos eleitores. Quando o vereador propõe leis, reprova ou aprova as enviadas pelo prefeito, quando ele sugere alterações no orçamento, quando ele fiscaliza a prefeitura, é como se fosse o eleitor descobrindo para onde o seu dinheiro está indo. O vereador precisa demonstrar coerência em suas ações como vereador, e não direcionadas por interesses pessoais ou negociações escusas.

O poder legislativo que em tempos antigos era exercido por nobres, a partir de 1988 foi que deu-se início ao fortalecimento das câmaras, através da Constituição brasileira, promulgada por Ulisses Guimarães.

Mas o poder que tem o vereador só se justifica, se cada um deixar de lado seus interesses particulares e as paixões partidárias exacerbadas, e trabalhar visando o interesse social e a melhoria da qualidade de vida da população, principalmente os mais carentes.

Breve história do Legislativo

A organização do Legislativo tem o tônus democrático, porque reúne maioria e minoria e onde o confronto das idéias e a crítica pública estão sempre presentes, e é por isso que é uma Casa democrática.

Na era medieval, os parlamentos se reuniam a partir da convocação do rei e podiam firmar vontade própria, independente do soberano, desde que a maioria encontrasse um consenso. Estes Parlamentos eram formados pela nobreza e o clero, as pessoas influentes, que falariam pelo povo de sua região. Esta gênese do parlamento evoluiu e na Grã-Bretanha oitocentista os liberais defendiam o direito de que todos fossem representados, com base numérica da população, e não apenas a partir dos que tinham terras e riquezas. O cidadão passou a ser a unidade básica da política democrática, o equivalente a um homem, um voto.

No absolutismo, a vontade do rei era a lei. O soberano exercia, portanto, todas as funções estatais que, em momentos históricos diferentes, foram divididas e entregues a órgãos distintos. A Declaração da Independência Americana e a Revolução Francesa iniciaram a transferência do poder do soberano para o povo.

Este entendeu que o poder utilizado pelos seus representantes também deveriam implicar em atividades governativas. E uma controlaria a outra por mecanismos constitucionalmente estabelecidos. Legislativo, Executivo e Judiciário nasceram dessas concepções. Em sua base estava a idéia de preservação dos direitos individuais.

A separação de poderes, portanto, é o primeiro instrumento constitucional destinado a garantir direitos dos cidadãos e a participação de todos no processo governativo. Embora se faça a correlação entre governo e Poder Executivo, o Legislativo é o primeiro dos poderes. É o deflagrador da atividade jurisdicional.

Sem a sua atuação, os demais não subsistem. O Legislativo é o produtor do ato geral.

Cabe à Câmara dos Vereadores garantir a governabilidade da administração de seu Município, assegurando sua continuidade se ela for positiva.

Compromisso do vereador

As responsabilidades do Município estão crescendo e, paralelamente, as funções dos vereadores. Prova disto é a municipalização da educação no ensino fundamental, definida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação e pela Emenda 14/96. As atribuições dos Estados estão passando para o âmbito municipal porque é através da descentralização que se abre a possibilidade de governar de forma mais democrática.

Para  manter-se independente e mostrar sua capacidade de decidir e ser responsável pelos destinos do Município e de seus habitantes, é necessário resistir às pressões políticas, por mais fortes que sejam, e assim manter a credibilidade e autonomia.

Sei que muitos obstáculos terei que ultrapassar. E soluções têm que ser encontradas no tempo devido.  Muitas vezes, esta solução figura na alteração do regimento interno, que deve se adequar à realidade do Município e da Casa Legislativa. Os  vereadores necessitam ter suporte legislativo e administrativo para realizar  seu trabalho, devendo contar, para tanto, com Mesa diretora eficiente, mas principalmente, de CREDIBILIDADE.

O jogo de interesses pessoais não pode prevalecer através de interesses políticos-futuros, nossa cidade precisa AGORA de parlamentares comprometidos com a cidade, e não com segmento A ou B. Não se pode dividir Dianópolis em dois segmentos, quem está com Salomão, que está deixando o poder, mas articula uma maioria na Câmara, ou quem está do lado de Reges Melo, prefeito eleito. Como vereadores somos mais do que isso, não podemos ser massa de manobra de A ou B.

É necessário sair desse jogo pequeno e mesquinho de situação ou oposição. O que realmente importa é manter a autonomia da Casa, e respeito às suas decisões.


*Gustavo Aires, empresário dianopolino e vereador eleito para seu primeiro mandato.

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