Por Ruy Bucar
Ele venceu uma eleição
improvável e sintomática no Tocantins. Tão importante que pode dar início a um
novo tempo na história política de Palmas. O empresário Carlos Amastha (PP)
está diante de um enorme desafio. Eleito com discurso de mudança o prefeito tem
a obrigação de não apenas fazer um governo diferente, mas de tentar consolidar
um novo tempo na política do Tocantins a partir de uma gestão inovadora na
Capital que certamente terá reflexo em todo o Estado.
A importância do empresário na cena política
tocantinense vai além do fenômeno eleitoral, um estrangeiro radicado no Brasil,
com dificuldade de se expressar na língua materna e que soube se comunicar
perfeitamente com as camadas populares de Palmas, falando o que elas gostariam
de ouvir: basta de descaso, Palmas precisa mudar. Com palavras de ordem de
mudança o colombiano caiu na graça do palmense e derrotou grupos políticos
poderosos que dominam a cena política do Estado há mais de duas décadas.
Amastha tem uma oportunidade
rara nas mãos que só o governador Siqueira Campos (PSDB) teve ao se impor como
líder do movimento popular que levou à criação do Tocantins pela Assembleia
Nacional Constituinte. Se compreender o papel que lhe foi confiado pelos
eleitores vai entrar para a história como o líder de um novo tempo; se não,
será atropelado pelas forças do atraso que sufocam qualquer sopro de novidade.
Após a eleição, do ponto de vista político, o novato foi tratado com
descortesia pelo siqueirismo. Esperava ser recebido com deferência pelo governador
no Palácio Araguaia e foi simplesmente ignorado. O fato mostra que Siqueira
não digeriu a derrota, que foi humilhante até certo ponto.
Por enquanto Amastha é um
enigma político. Depende de resultado do governo para consolidar sua liderança
e não está suficientemente claro se vai ser governo, oposição ou terceira via.
No momento o prefeito se autodefine como oposição. Mas é bom lembrar que
Amastha mantém diálogo com todos os segmentos políticos do Estado, inclusive
com o siqueirismo. Não será nenhuma novidade se amanhã estiver alinhado ou em
boa convivência com o Palácio Araguaia.
Afinal, governo não faz
oposição a governo.
Amastha surgiu como uma
revelação da terceira via e tanto pode se manter nesta linha como pode se
alinhar a um dos grupos políticos tradicionais, governo ou oposição. O mais
provável é que permaneça na terceira via acenando com entendimentos com os dois
grupos enquanto lhe for conveniente. Amastha tem brilho próprio e pelo que já
conquistou tem espaço garantido na vida política do Estado por muitos anos. É
natural que seja cotado como candidato a governador em 2014. Ainda que não
deseje disputar seu nome terá lugar garantido em qualquer lista séria de
pretensos candidatos.
Governo e oposição se
surpreenderam com a eleição do empresário, que no início demonstrou certa
ingenuidade. Declarou à imprensa que tinha marcado encontro com o governador
Siqueira Campos. Depois reclamou que estava demorando a ser recebido. Em função
da postura do governo se declarou oposição e mais recentemente voltou a
demonstrar satisfação com a possibilidade de ser recebido pelo governador.
Deixou transparecer falta de
opinião própria e vontade de ser cortejado pelo Palácio Araguaia. Como isso não
aconteceu se viu obrigado a se declarar oposição, mais por provocação do que
por convicção. Nem por isso diminui a sua importância. A eleição do empresário
representou uma tremenda derrota para o siqueirismo. Não apenas porque o
confronto final foi contra o candidato governista — deputado Marcelo Lélis (PV)
—, mas porque o prefeito se tornou uma ameaça importante ao domínio
siqueirista. Amastha, além da posição de independência, dirige o maior e mais
importante colégio eleitoral do Estado.
Como é um líder novo que
surgiu meio por acaso, pode se tornar mais difícil de ser combatido. Se faz um
governo se sucesso, que tem tudo para acontecer, pode se tornar um candidato
imbatível ao governo do Estado, como foi em Palmas. Amastha não tem outra
opção: ou faz um bom governo e se consolida como uma nova referência política
ou faz o arroz com feijão e em vez de novo tempo ajuda a dar sobrevida ao
siqueirismo.
Fonte: www.jornalopcao.com.br
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