sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Artigo: Consolidação ou sobrevida ao siqueirismo


Por Ruy Bucar

Ele venceu uma eleição improvável e sinto­mática no Tocantins. Tão importante que pode dar início a um novo tempo na história política de Palmas. O empresário Carlos Amastha (PP) está diante de um enorme desafio. Eleito com discurso de mudança o prefeito tem a obrigação de não apenas fazer um governo diferente, mas de tentar consolidar um novo tempo na política do Tocantins a partir de uma gestão inovadora na Capital que certamente terá reflexo em todo o Estado.

 A importância do empresário na cena política tocantinense vai além do fenômeno eleitoral, um estrangeiro radicado no Brasil, com dificuldade de se expressar na língua materna e que soube se comunicar perfeitamente com as camadas populares de Palmas, falando o que elas gostariam de ouvir: basta de descaso, Palmas precisa mudar. Com palavras de ordem de mudança o colombiano caiu na graça do palmense e derrotou grupos políticos po­derosos que dominam a cena política do Estado há mais de duas décadas.

Amastha tem uma oportunidade rara nas mãos que só o governador Siqueira Campos (PSDB) teve ao se impor como líder do movimento popular que levou à criação do Tocantins pela As­sembleia Nacional Constituinte. Se compreender o papel que lhe foi confiado pelos eleitores vai entrar para a história como o líder de um novo tempo; se não, será atropelado pelas forças do atraso que sufocam qualquer sopro de novidade. Após a eleição, do ponto de vista político, o novato foi tratado com descortesia pelo siqueirismo. Es­perava ser recebido com deferência pelo governador no Palácio Ara­guaia e foi simplesmente ignorado. O fato mostra que Siqueira não digeriu a derrota, que foi humilhante até certo ponto.

Por enquanto Amastha é um enigma político. Depende de resultado do governo para consolidar sua liderança e não está suficientemente claro se vai ser governo, oposição ou terceira via. No momento o prefeito se autodefine como oposição. Mas é bom lembrar que Amastha mantém diálogo com todos os segmentos políticos do Estado, inclusive com o si­queirismo. Não será nenhuma novidade se amanhã estiver alinhado ou em boa convivência com o Palácio Araguaia.

Afinal, governo não faz oposição a governo.

Amastha surgiu como uma revelação da terceira via e tanto pode se manter nesta linha como pode se alinhar a um dos grupos políticos tradicionais, governo ou oposição. O mais provável é que permaneça na terceira via acenando com entendimentos com os dois grupos enquanto lhe for conveniente. Amastha tem brilho próprio e pelo que já conquistou tem espaço garantido na vida política do Estado por muitos anos. É natural que seja cotado como candidato a governador em 2014. Ainda que não deseje disputar seu nome terá lugar garantido em qualquer lista séria de pretensos candidatos.

Governo e oposição se surpreenderam com a eleição do empresário, que no início de­monstrou certa ingenuidade. Declarou à imprensa que tinha marcado encontro com o governador Siqueira Campos. Depois reclamou que estava demorando a ser recebido. Em função da postura do governo se declarou oposição e mais recentemente voltou a demonstrar satisfação com a possibilidade de ser recebido pelo governador.

Deixou transparecer falta de opinião própria e vontade de ser cortejado pelo Palácio Araguaia. Como isso não aconteceu se viu obrigado a se declarar oposição, mais por provocação do que por convicção. Nem por isso diminui a sua importância. A eleição do empresário representou uma tremenda derrota para o siqueirismo. Não apenas porque o confronto final foi contra o candidato governista — deputado Marcelo Lélis (PV) —, mas porque o prefeito se tornou uma ameaça importante ao domínio siquei­rista. Amastha, além da posição de independência, dirige o maior e mais importante colégio e­leitoral do Estado.

Como é um líder novo que surgiu meio por acaso, pode se tornar mais difícil de ser combatido. Se faz um governo se sucesso, que tem tudo para acontecer, pode se tornar um candidato imbatível ao governo do Estado, como foi em Palmas. Amastha não tem outra opção: ou faz um bom governo e se consolida como uma nova referência política ou faz o arroz com feijão e em vez de novo tempo ajuda a dar sobrevida ao siqueirismo.

Fonte: www.jornalopcao.com.br

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