quinta-feira, 19 de abril de 2012

TENTÁCULOS DE CARLINHOS CACHOEIRA CHEGAM AO TOCANTINS

►Siqueira Campos se encontrou com Cachoeira em 2010; empresas que teriam ligações com o contraventor doaram dinheiro para campanha do governador

Cleber Toledo

O Jornal da Record teve acesso, com exclusividade, a um documento do Ministério da Justiça que indicaria, conforme a emissora, um possível envolvimento do governador do Tocantins, Siqueira Campos (PSDB), com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso na Operação Monte Carlo.

Conforme o jornal da TV Record, exibido na noite dessa segunda-feira, 16, o nome de Siqueira surgiu também em escutas telefônicas interceptadas pela Polícia Federal, e indicariam que o bicheiro teve um encontro com o governador do Tocantins.

O documento do Ministério da Justiça, a que a TV Record teve acesso, transcreve um diálogo entre Carlinhos Cachoeira e Gleyber Ferreira Cruz, um dos sócios do bicheiro flagrado na Operação Monte Carlo e que também está preso.

Na conversa, Cachoeira diz que tem um encontro marcado com o governador Siquera Campos, e que essa era a hora de tratar dos assuntos envolvendo Deuselino Valadares, que na época era chefe da Polícia Federal de Goiânia.

"O Governador Siqueira Campos foi apresentado em 2010 ao cidadão em questão pelo hoje suplente de senador Ataídes Oliveira, que morava no Edifício Excalibur, e era vizinho do referido cidadão. Siqueira Campos esteve em Goiânia para uma visita a Ataídes Oliveira e foi apresentado a este cidadão, quando tiveram um contato rápido. Este foi o único único contato entre os dois", garante a nota.

A campanha eleitoral de Siqueira Campos, em 2010, recebeu R$ 500 mil da empreiteira JM Terraplenagem e Construção, ligada ao grupo de Cachoeira. Essa doação veio a público com a divulgação de conversas telefônicas pela revista Época, há 15 dias e foi admitida pelo secretário estadual de Relações Institucionais, Eduardo Siqueira Campos. Segundo ele, a doação foi depositada em Goiânia no dia 27 de outubro de 2010.

Nas gravações interceptadas pela Polícia Federal, Cachoeira e o diretor afastado da Delta Cláudio Abreu avaliam as relações com Eduardo e com o ex-governador Marcelo Miranda (PMDB). O bicheiro cobra do ex-diretor da Delta a devolução dos R$ 500 mil doados à campanha de Siqueira através da JM Terraplenagem e Construção, mas desiste ao supostamente se lembrar de que ficaria com os serviços de inspeção veicular do Detran: "Agora vai pagar com aquele trem lá... Tá bom!".

O bicheiro diz em seguida: "Computa pro cê aqueles 500 mil, lá... Não quero nem ver aquele Eduardo [que seria Eduado Siqueira Campos]".

Abreu defendeu o secretário: "Não, vai ver sim. Pára com isso, cara! Vai dar certo. O Eduardo também é bom, oh, Carlinhos. Não pode falar mal dele, não. Um cara bom, bicho! Pra você ver... Ele não mandou dar aquele negócio para nós lá? A inspeção veicular? Para você ver... Só isso aí, cara, essa inspeção veicular do Tocantins já mata".

O secretário Eduardo Siqueira Campos, porém, ressaltou que não tem nenhuma participação na empresa doadora e assegurou que ela não tem qualquer contrato com o Departamento Estadual de Trânsito (Detran), responsável pelo serviço de inspeção veicular.

Depois da campanha

A campanha do governador Siqueira Campos recebeu mais R$ 3 milhões do empresário Rossine Aires Guimarães, 48 anos, apontado nas investigações da operação Monte Carlo como uma espécie de sócio de Cachoeira. Rossine ainda doou R$ 500 mil para a campanha do ex-governador Carlos Gaguim (PMDB).

O empresário é proprietário da Construtora Rio Tocantins (CRT), que também tem o nome de Construtora Vale do Lontra, que recebeu do governo do Tocantins R$ 234.444.617,62, nas últimas três gestões - a gestão do ex-governador Marcelo Miranda, em 21 meses, desembolsou R$ 74,7 milhões; em apenas 15 meses de administração, Gaguim superou os outros dois governantes e pagou ao suposto sócio de Cachoeira R$ 140,6 milhões; e, em 2011, o governo de Siqueira Campos pagou R$ 19,1 milhões.

Empresa totalmente envolvida em supostos esquemas de Cachoeira, a Delta também foi beneficiada no governo Siqueira Campos pela portaria que decretou emergência nas rodovias estaduais e, assim, foi contratada sem licitação para recuperação das estradas do Tocantins. A Delta ficou com um contrato de R$ 14.695.596,17 para obras em Paraíso. O MPE ingressou com uma Ação Civil Pública contra a portaria no dia 3 de agosto do ano passado.

O promotor Adriano Neves defendeu na ação que a má conservação das estradas, "por descaso do poder público", não é justificativa para a contratação de empresas sem a devida licitação, ainda mais porque elas seriam, segundo relatórios de prestação de contas fornecidos pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), doadoras de recursos para a campanha de Siqueira Campos em 2010.

A Delta ainda é uma das empresas que se propuseram a doar recursos para o que o governo chamou de um ambicioso projeto de modernização da gestão pública estadual, junto com outras, também em sua maioria, doadoras da campanha do governador. O projeto, anunciado em julho do ano passado, estava orçado em R$ 2,7 milhões.

Tocantins na rota do bando

Conforme o site do jornal O Estado de S.Paulo divulgou nesta segunda-feira, o Tocantins é um dos Estados onde empresas ligadas a Cachoeira atuavam, num esquema que movimentou pelo menos R$ 400 milhões nos últimos seis anos. Entre os supostos crimes que seriam praticados pelo bando, conforme investigações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF), estariam contrabando, exploração de jogos de azar, corrupção e lavagem de dinheiro.

Conforme O Estadão, o organograma feito pela polícia aponta que Cachoeira e outras oito pessoas do seu círculo íntimo de parentes e amigos expandiram a estrutura do grupo para além de Goiás e do entorno do Distrito Federal, onde concentraram a atuação. A maior parte das companhias ativas (30) opera em Goiás e no Distrito Federal, mas o grupo também mantém empresas em São Paulo (2), Paraná (2), Rio de Janeiro (1), Minas Gerais (1) e Tocantins (1). O grupo também já teve operações em Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Confira a seguir a nota do governador Siqueira Campos sobre o encontro com Cachoeira:

"O Governador Siqueira Campos foi apresentado em 2010 ao cidadão em questão pelo hoje suplente de senador Ataídes Oliveira, que morava no Edifício Excalibur, e era vizinho do referido cidadão. Siqueira Campos esteve em Goiânia para uma visita a Ataídes Oliveira e foi apresentado a este cidadão, quando tiveram um contato rápido. Este foi o único contato entre os dois."


►Apontado como sócio de Cachoeira, empresário doou R$ 3 milhões para Siqueira e R$ 500 mil para Gaguim em 2010

Rossine Aires Guimarães seria único citado no processo, diretamente envolvido com o contraventor, e que aparece como doador de campanha eleitoral leia mais Ligações perigosas

O empresário Rossine Aires Guimarães, 48 anos, apontado nas investigações da operação Monte Carlo como uma espécie de sócio de Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, doou R$ 4,3 milhões nas eleições de 2010. Desse total, R$ 3,5 milhões foram para os dois candidatos a governador do Tocantins - Siqueira Campos (PSDB), que ficou com R$ 3 milhões, e Carlos Henrique Gaguim (PMDB), que recebeu R$ 500 mil. A informação consta do site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e foi divulgada nesta terça-feira, 10, pelo Jornal do Tocantins e pelo O Popular, de Goiânia.

Conforme os jornais, o nome de Rossine é o único dos citados no processo diretamente envolvido com Cachoeira que também aparece como doador de campanha. Do total doado, R$ 800 mil foram para o comitê financeiro da campanha do PSDB em Goiás. O restante foi para os comitês do PSDB, DEM e PMDB no Tocantins.
A Construtora Rio Tocantins (CRT), da qual Rossine é sócio majoritário com 82% das ações, também aparece como doadora de R$ 712 mil para o comitê financeiro do PMDB no Tocantins e para as campanhas de um senador e um deputado federal do PMDB tocantinense. A CRT também tem a grafia de Construtora Vale do Lontra.

De acordo com os impressos, Rossine seria sócio de Gaguim na BPR Empreendimentos Imobiliários, empresa criada em abril de 2010.

Procurado pelos jornais, Rossine disse estar na sua fazenda em Redenção (PA). Ele afirmou que não falaria sobre o assunto enquanto estivesse fora de Goiânia e prometeu conversar com a reportagem dentro de 15 dias.

Doações ao PMDB

O Popular e o Jornal do Tocantins divulgaram ainda que PMDB do Estado recebeu mais de R$ 1 milhão em doações do empresário Rossine Aires Guimarães. As doações foram feitas nominalmente por Rossine e também por intermédio de uma empresa controlada por ele.

No próprio nome, o empresário doou duas vezes no dia 21 de setembro de 2010. Numa transação, transferiu R$ 500 mil ao PMDB. Em outra transferência, creditou R$ 7 mil aos peemedebistas. Rossine ainda doou por meio da Construtora Vale do Lontra. A empresa é controlada pelo empresário e foi responsável pela metade do valor repassado aos peemedebistas por ele. Rossine doou R$ 500 mil por meio da empreiteira. O partido conseguiu arrecadar R$ 1 milhão em doações extemporâneas.

Conforme os dois jornais, os recursos beneficiaram a campanha do candidato Carlos Gaguim, derrotado nas urnas quando tentava a reeleição. As ligações entre Gaguim e Rossine já haviam sido reveladas anteriormente. A Construtora Vale do Lontra recebeu, ainda segundo os impressos, mais de R$ 89 milhões em contratos com o governo tocantinense no intervalo de um ano, o que gerou denúncias e investigações.

Não sabia da relação

Também conforme os jornais, Rossine Aires Guimarães também fez doações para três comitês financeiros de partidos políticos nas eleições de 2010 no Tocantins. Foram R$ 3 milhões para o PSDB, R$ 507 mil para PMDB e R$ 100 para o DEM.

De acordo com o JTo e O Popular, o PSDB recebeu a doação após ter eleito o governador Siqueira Campos ainda no primeiro turno. A transferência eletrônica foi creditada no dia 15 de outubro. "Ele sabia que tínhamos dívidas de campanha e procurou o comitê financeiro. Disse que queria ajudar", disse aos jornais a tesoureira da campanha e atual secretária de Planejamento e Modernização da Gestão Pública, Vanda Paiva.

A doação extemporânea feita pelo empresário provocou reações na Assembleia Legislativa tocantinense na época. A oposição levantou suspeitas sobre os interesses que poderiam estar por trás da ajuda financeira. No entanto, a legislação eleitoral permite que valores ainda sejam doados após o término do processo eleitoral. Do total arrecadado pelo candidato tucano, metade dos recursos foram levantados de forma extemporânea.
Vanda sustenta que o governador Siqueira Campos não tem relações com Carlinhos Cachoeira. "O Rossine é conhecido aqui no Estado, mas também não sabíamos dos negócios dele com o Cachoeira", afirmou.

Ela ainda ressalta que chegou a fazer denúncia no Tribunal de Contas do Estado (TCE) pedindo investigações de obras realizadas por empresas de Rossine. O empresário ainda realizou uma obra na atual gestão, com contrato firmado no governo passado, segundo a secretária.

►Revista Época aponta suposta ligação entre Marcelo Miranda e Cachoeira: Eduardo Siqueira também é citado

Publicação da Revista Época noticia suposta ligação entre o ex-governador Marcelo Miranda (PMDB) e o secretário de Relações Institucionais do Estado, Eduardo Siqueira Campos, com o empresário Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Segundo a publicação, Carlinhos teria pedido que o senador Demóstenes Torres influenciasse uma decisão do ministro Luiz Fux, sobre recurso do ex-governador, que foi impedido de assumir vaga de senador. Já o secretário Eduardo, segundo a Revista, teria liberado para o grupo de Cláudio Abreu, diretor agora afastado da Delta Construções, a inspeção veicular do Tocantins. A Revista, tanto o ex-governador como o secretário negaram as informações.

Segundo reportagem da Época, Carlinhos Cachoeira teria ligação com o ex-governador Marcelo Miranda e o secretário Eduardo SiqueiraUma matéria publicada na Revista Época desta quinta-feira, 05, traz a suposta ligação entre o ex-governador Marcelo Miranda (PMDB) e o empresário Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Na mesma matéria consta a suposta ligação entre o secretário das Relações Institucionais, Eduardo Siqueira Campos, com o grupo de Cláudio Abreu, diretor agora afastado da Delta Construções.

Conforme a publicação, Cachoeira teria pedido ao senador Demóstenes Torres (ex-DEM, agora sem partido), para interceder no STF para Marcelo Miranda assumir como senador. Em uma conversa, Cachoeira teria pedido para que Demóstenes influenciasse uma decisão do ministro Luiz Fux, do STF.

Na época, segundo a publicação, estava na mesa de Fux um recurso do ex-governador Marcelo Miranda, que foi impedido de assumir uma vaga para a qual fora eleito no Senado, por ter sido condenado por “abuso de poder político” no pleito eleitoral de 2006.

Segundo a publicação, ouve a seguinte conversa: “Ele (Miranda) é um cara nosso”, afirma Cachoeira a Demóstenes. Miranda recorreu ao STF, e Demóstenes teria prometido atender ao pedido de Cachoeira e ajudar. A Revista, o ministro Fux afirmou não ter sido procurado por Demóstenes. “O senador não falou comigo sobre isso”, disse Fux a ÉPOCA. “Se ele tivesse me procurado, eu o teria recebido, sem nenhum problema,” afirmou.

Em uma primeira decisão, Fux deu ganho de causa a Miranda. Dez dias depois, mudou sua decisão e cassou o registro da candidatura. “Depois que fui informado de que ele havia sido cassado na Justiça Eleitoral por abuso de poder político, e não pela Lei da Ficha Limpa, eu modifiquei a decisão”, afirmou Fux à Revista.

Suposta comemoração

Segundo a publicação, outra gravação revela que, entre uma e outra decisão de Fux, houve tempo para Cachoeira comemorar a vitória parcial do ex-governador. A conversa teria ocorrido entre Cachoeira e Cláudio Abreu, diretor agora afastado da Delta Construções, apontado pela polícia como sócio de Cachoeira numa empresa.

Segundo Época, “num papo cheio de intimidades”, um empolgado Abreu chama Cachoeira carinhosamente de “viado” e “desgramado” e avisa da decisão sobre Miranda. “Chefia, o Marcelo Miranda é senador”, diz Cláudio. “O bom é que eu sei que ele vai ser procurador seu e meu, né?”, teria dito.

Negócios no Tocantins

Na mesma conversa, Abreu e Cachoeira teriam falado sobre outro assunto de estratégia político-empresarial no Tocantins. Abreu teria defendido que a parceria com Miranda não represente uma ruptura com o ex-senador e agora secretário Eduardo Siqueira Campos. Na ocasião, Cachoeira teria questionado se vale a pena continuar apostando em Eduardo Siqueira. “Eduardo também é bom, Carlinhos. Não pode falar mal dele não, cara”, diz Abreu. “Ele mandou dar o negócio pra nós lá: a inspeção veicular do Tocantins.”, consta na publicação.

Sem ligações

A Revista, Eduardo negou ter destinado um contrato para beneficiar empresa ligada a Cachoeira e Abreu. “Não há ainda definição sobre quem executará o serviço de inspeção ambiental em Tocantins”, afirmou. Já Miranda negou ter pedido ajuda a Cachoeira, a Cláudio Abreu ou a Demóstenes para ter sucesso no STF. “Estou surpreso de ver meu nome citado por essas pessoas”, teria dito. “Cachoeira, por exemplo, eu mal conheço, só o cumprimentei uma vez.”

O Site Roberta Tum tentou ouvir o ex-governador Marcelo Miranda, mas as ligações não foram atendidas.

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