sexta-feira, 11 de maio de 2012

A grande lição que o escândalo traz: financiamento privado de campanha tem que acabar

Por Roberta Tum

Toda crise ensina alguma lição. Esta, do escândalo gerado pela revelação das conexões e tráfico de influência política da rede comandada por Carlinhos Cachoeira, é clara: o financiamento privado de campanhas políticas só existe alimentado pelo velho provérbio de que "é dando que se recebe". Uma coisa que o Brasil precisa enfrentar, se quiser realmente que o cenário mude.
Conversando ontem à noite com um amigo do PT, que quase se elegeu nas eleições passadas, praticamente sem dinheiro, e completamente fora do esquema de doações de empresas, ouvi dele um desejo: o de que a CPMI atinja e desnude igualmente petistas, tucanos, e outros bichos da selva política.

"Por mim quero que tudo caia", dizia ele. É o desabafo de um inconformado com a forma como as coisas funcionam no Brasil para quem quer ser candidato. Por mais idealista que o sujeito seja, existe uma forma para financiar campanhas, que na teoria é um conto de fadas, mas na realidade é pesadelo para quem não tem "esquema".

Quantos políticos com mandato hoje, no executivo ou no legislativo, podem dizer em alto e bom som que se elegeram sem a ajuda de empresas, empreiteiras ou não?

O fundo partidário existe para dar a ilusão de igualdade de condições, que na verdade é uma farsa. O que comanda as campanhas é o dinheiro que cada comitê consegue captar. E ninguém dá nada de graça.

Há alguns dias ironizei aqui o fato de que, digam o que quiserem, as doações do empresário Rossine no Tocantins, estão dentro da lei. E houve quem não entendeu e devolveu nos comentários: ninguém doa milhares, ou milhões de reais, de graça. Por mais rico que seja. E é a mais pura expressão da verdade.

O nosso problema é a lei que rege o financiamento de campanhas. Ela é quem permite o jeitinho brasileiro de ajudar para ser ajudado. Seja no oficial, ou no paralelo. Seja dentro da prestação de contas, ou fora dela, no famoso "Caixa 2".

A verdade, dura, crua e nua é que vivemos num País em que a cultura do "se dar bem" infelizmente está impregnada, desde o hábito do eleitor de pedir favores e bens em troca do apoio e do voto, à empresa que doa para receber obras em troca.

Pode ser que eu esteja acreditando e defendendo outra utopia, como meu amigo petista, que acha que o financiamento público de campanhas vá melhorar esta situação escancarada pelo escândalo do Cachoeira. Mas é preciso começar de algum jeito.

Quando uma casa está muito suja, dá desânimo realmente começar a limpar, mas é necessário para que um dia, em algum momento, ela esteja limpa e habitável.

Noto um processo de mudança efervescendo na sociedade brasileira. O movimento dos que querem ver na política gente mais interessada em promover mudanças para o coletivo, do que na conta bancária pessoal.

É uma luta de todos os brasileiros que querem passar o País a limpo. Começando é lógico, em casa, no seu próprio comportamento diante dos políticos e da política. Como este é um ano eleitoral, as lições do Cachoeira não podem passar em brancas nuvens.

Se não há um mal que não traga um bem, este episódio pode estar trazendo a chance de rediscussão de um problema histórico: o faz de conta que é sério do financiamento eleitoral. Uma brincadeira sem graça quer consome milhões dos recursos públicos, que bem poderiam estar aplicados em Saúde, Educação e Segurança. Coisas que nos dariam a todos, a chance de viver melhor.

Fonte: Coluna Minha Opinião - Roberta Tum (11/05/2012)

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