Por Roberta Tum
Toda crise ensina alguma lição. Esta, do escândalo gerado pela
revelação das conexões e tráfico de influência política da rede comandada por
Carlinhos Cachoeira, é clara: o financiamento privado de campanhas políticas só
existe alimentado pelo velho provérbio de que "é dando que se recebe". Uma coisa
que o Brasil precisa enfrentar, se quiser realmente que o cenário mude.
Conversando ontem à noite com um amigo do PT, que quase se elegeu nas
eleições passadas, praticamente sem dinheiro, e completamente fora do esquema de
doações de empresas, ouvi dele um desejo: o de que a CPMI atinja e desnude
igualmente petistas, tucanos, e outros bichos da selva política.
"Por mim quero que tudo caia", dizia ele. É o desabafo de um inconformado com
a forma como as coisas funcionam no Brasil para quem quer ser candidato. Por
mais idealista que o sujeito seja, existe uma forma para financiar campanhas,
que na teoria é um conto de fadas, mas na realidade é pesadelo para quem não tem
"esquema".
Quantos políticos com mandato hoje, no executivo ou no legislativo, podem
dizer em alto e bom som que se elegeram sem a ajuda de empresas, empreiteiras ou
não?
O fundo partidário existe para dar a ilusão de igualdade de condições, que na
verdade é uma farsa. O que comanda as campanhas é o dinheiro que cada comitê
consegue captar. E ninguém dá nada de graça.
Há alguns dias ironizei aqui o fato de que, digam o que quiserem, as doações
do empresário Rossine no Tocantins, estão dentro da lei. E houve quem não
entendeu e devolveu nos comentários: ninguém doa milhares, ou milhões de reais,
de graça. Por mais rico que seja. E é a mais pura expressão da verdade.
O nosso problema é a lei que rege o financiamento de campanhas. Ela é quem
permite o jeitinho brasileiro de ajudar para ser ajudado. Seja no oficial, ou no
paralelo. Seja dentro da prestação de contas, ou fora dela, no famoso "Caixa
2".
A verdade, dura, crua e nua é que vivemos num País em que a cultura do "se
dar bem" infelizmente está impregnada, desde o hábito do eleitor de pedir
favores e bens em troca do apoio e do voto, à empresa que doa para receber obras
em troca.
Pode ser que eu esteja acreditando e defendendo outra utopia, como meu amigo
petista, que acha que o financiamento público de campanhas vá melhorar esta
situação escancarada pelo escândalo do Cachoeira. Mas é preciso começar de algum
jeito.
Quando uma casa está muito suja, dá desânimo realmente começar a limpar, mas
é necessário para que um dia, em algum momento, ela esteja limpa e
habitável.
Noto um processo de mudança efervescendo na sociedade brasileira. O movimento
dos que querem ver na política gente mais interessada em promover mudanças para
o coletivo, do que na conta bancária pessoal.
É uma luta de todos os brasileiros que querem passar o País a limpo.
Começando é lógico, em casa, no seu próprio comportamento diante dos políticos e
da política. Como este é um ano eleitoral, as lições do Cachoeira não podem
passar em brancas nuvens.
Se não há um mal que não traga um bem, este episódio pode estar trazendo a
chance de rediscussão de um problema histórico: o faz de conta que é sério do
financiamento eleitoral. Uma brincadeira sem graça quer consome milhões dos
recursos públicos, que bem poderiam estar aplicados em Saúde, Educação e
Segurança. Coisas que nos dariam a todos, a chance de viver melhor.
Fonte: Coluna Minha Opinião - Roberta Tum (11/05/2012)
Nenhum comentário:
Postar um comentário