domingo, 13 de maio de 2012

Os tentáculos de um bicheiro

O jovem de classe média, da sociedade Anapolina, que assimilou o codinome, “Carlinhos Cachoeira”, certamente, ignorava a força, que detinha em seus tentáculos, para criar uma teia de corrupção, envolvendo 23 estados da Federação brasileira. Saliente-se, as mesmas teias, que numa extensão de rede, envolveria órgãos e repartições, e até mesmo instituições consolidadas ao longo dos anos, como o Ministério Público, de onde veio o senador Demóstenes Torres.

Observo o manifesto de muitos, exaltando, embasbacados, a facilidade de articulação e penetração, por meio das quais, um moço, conhecido por bicheiro, na cidade de Anápolis-GO, conseguiu avançar, e chegar tão longe. Uma reflexão exsurge, neste particular: ou as instituições brasileiras são extremamente frágeis, ou revelam-se vulneráveis ao vil metal. Se assim o for, resta ratificado, portanto, o velho axioma de que todo homem tem o seu preço, salvo honrosas exceções.

Neste lodaçal de corrupções e falcatruas, algumas questões restaram bem claras. Sigilo de comunicações telefônicas, agora, apenas na letra fria e morta da cláusula pétrea constitucional. É certo que as prestadoras telefônicas vão amargar certo prejuízo, com a banalização e fragilidade do sistema, pois ante o temor espalhado, uma dúvida há de pairar acerca de quem realmente esteja do outro lado da linha. Mas, como nem tudo está perdido, a devassa, por meio da quebra do sigilo, revelou crimes passíveis de punição exemplar.

Pondere-se que o moço bicheiro, das esquinas, galerias e shoppings de Anápolis, agigantou-se muito rápido. Deixou as bancas, articulou empreiteiras, patrocinou campanhas políticas e edificou o seu castelo, através da empresa Delta, que acabou sendo a grande privilegiada na arrecadação das verbas das PACHs, distribuídas pelo Brasil. Por isso, talvez, justifique o apelido “Cachoeira”, pois a fartura de águas que domina, gerou inúmeras hidrelétricas, do dia para noite, que só na minha cidade, nos rincões da velha São José do Duro, à guisa de ilustração, foram, no mínimo, oito.

É tempo, pois, dos legisladores refletirem acerca do próprio poder público patrocinar as campanhas eleitorais, mormente, a fim de evitar esses escândalos com empreiteiras, que hoje exigem o direito de realização de obras públicas, para receberem os investimentos de campanha. Some-se a essa prática, os valores que foram desviados, a título de incentivo e atração para o negócio. Agora, o nosso Tocantins, por exemplo, segue num quadro crítico de asfalto em suas rodovias, sem saúde, sem infraestrutura, e exposto, mais uma vez, aos holofotes da mídia, ante os créditos de “Cachoeira”.
Dizem por aqui, na velha cidade das Anas, entre feiras livres e pastelarias, que ele, o Cachoeira, é um homem bom. Acontece que estas inocentes pessoas, desconhecem os malefícios e prejuízos gerados por este, em relação à malversação do dinheiro público, que deixou de ser utilizado, por exemplo, na saúde, segurança pública, educação e infraestrutura. Ele, enfim, é um homem, não se deve ignorar, que entre teias e cachoeiras, arquitetou uma quadrilha, que desviou milhões dos cofres públicos. Por conseqüência, não deve ser exaltado, por aí, como se fosse um Robin Hood, que retirou dos ricos para doar aos pobres. Antes, ele apropriou e desviou os recursos públicos, que seriam destinados aos pobres, para locupletar, ainda mais, os abastados
Mesmo que a CPI instaurada silencie, por algum instante a sociedade, que cobra resposta e penalização, ante a magnitude dos escândalos. Resta bem claro, que a cultura tupiniquim, de levar vantagem em tudo, deve ser superada. Assim, como o velho paradigma, na seara política, de que ele rouba, mas ele faz, deve ser enterrado definitivamente, pois não há furtos menores ou maiores, mas, apenas crimes, que devem ser punidos. Principalmente, numa ocasião em que o País, passa por um momento especial e delicado, em que as comunidades internacionais têm os olhos voltados para cá, em virtude da copa e das olimpíadas, sem embargo do crescimento da sua economia.

Profetizava Rui Barbosa, afirmando que chegaria um dia, em que os homens teriam vergonha de ser honestos. Portanto, antes que a profecia se realize, acolhamos o ensejo, para mostrar a nossa cara, não apenas pintada, como ontem no impeachment de Collor, mas, agora, com os dentes cerrados, rumo às urnas nestas eleições, para mudar definitivamente este cenário, antes que os tentáculos de aranhas, bicheiros travestidos de empresários, desnaturem, em definitivo, a figura do homem de ética, moral e de bons costumes, que por enquanto permanece, neste contexto, apenas como exceção.
Zilmar Wolney

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