segunda-feira, 11 de junho de 2012

O PMDB não é mais aquele: sinal dos tempos, ou fim da oposição? (Por Roberta Tum)

Encontrei um velho amigo do PMDB na semana passada, casualmente. Ele tentava me explicar as escolhas que o partido vem fazendo nos últimos meses no Tocantins. Na verdade, escolhas que vão se tornar nítidas nos próximos dias, mas que (boa parte delas) já foram feitas no passado, algumas há meses.

O partido, que historicamente se opôs ao discurso e prática política personificados pelo então deputado federal Siqueira Campos - que deixou o Congresso Nacional para disputar com José Freire a primeira eleição do recém criado Tocantins, no final de 1988 - não existe mais.
Ou melhor, não é mais aquele.

É fácil entender a cronologia histórica dos fatos que levaram a este arrefecimento na luta peemedebista contra o que os “modebas”sempre chamaram de “Siqueirismo”, se alinharmos os líderes do partido, cujas trajetórias foram marcadas pela transição de anti-Siqueira para aliados de Siqueira.
A começar pelo Velho Freire, que perdeu aquela primeira eleição. Seguido por Brito Miranda, que ao deixar as hostes peemedebistas para integrar o segundo governo Siqueira, fez estrago no partido de origem levando consigo boa parte de seus quadros.

O mesmo Brito (que ocupa seu tempo respondendo hoje à acusações e processos) foi quem voltou a recompô-lo depois, na diáspora entre Marcelo e Siqueira, no segundo ano do seu primeiro governo. Aquele governo em que Marcelo foi eleito com apoio do Palácio Araguaia, com o compromisso – ouvi isto num palanque armado de frente ao Ginásio Ayrton Senna - de apoiar em sua sucessão, o então senador Eduardo. Coisa que como se sabe, com o rompimento, nunca aconteceu.
Águas passadas

O velho PMDB no entanto, foi deixando de existir com seu antigo perfil, à medida que no poder, não fortaleceu um projeto de poder. E nas disputas internas, seus líderes se degladiaram. Quem não se lembra da crise que chegou ao ápice com a rejeição de Marcelo Miranda por um Carlos Gaguim eleito de forma indireta, após o Rced de tão triste memória para a história política do Tocantins.

E na esteira de Freire Pai, acompanhado por Freire Jr, e Brito Miranda, a terceira grande defecção, importante marco, foi a de Moisés Avelino. Indisposto justamente com Gaguim, depois de ajudar a compor o governo tampão.
Com o tempo restaram no front bem poucos peemedebistas históricos. E os que sobraram, como Derval de Paiva, calaram-se. Antes dele, saiu gritando e estampando a crise em todos os jornais e portais que lhe deram voz, o grande Júlio Resplande. Memórias de um PMDB dividido.

No novo tempo, um homem por trás da mudança

Agora que sob a presidência de Júnior Coimbra, o partido flexibiliza alianças, e literalmente dorme com o antes tratado como inimigo, como enxergar este novo PMDB?

Para uns é um partido que perde por fim todas as suas características de opositor à primeira e última liderança viva consolidada da política tocantinense: o Velho Siqueira.
Para outros é um partido que se reinventa, faz concessões, aproxima-se do meio de campo para sobreviver.

Talvez nenhum outro político tenha sido tão importante nesta mudança como o deputado estadual Sandoval Cardoso, hoje no PSD. De virtual candidato à presidência da Assembléia Legislativa há um ano e meio, a secretário das Cidades, é ele quem conversa, intermedia e encontra os pontos de convergência entre peemedebistas antigos e o interlocutor maior do governo: Eduardo.
Pode-se creditar à Sandoval o movimento de aproximação que possibilitou que o PPS chegasse mais perto do governo. Pode se dizer que é ele quem fala com Jr. Coimbra para facilitar a aceitação das alianças. Foi ele também quem esteve presente na aproximação da deputada Josi Nunes, que configurou uma nova relação dela com o Palácio Araguaia. Que não é de adesão, é preciso dizer, para fazer justiça. Mas de uma inédita proximidade.

Nos bastidores chega-se a ouvir que a aliança que fortaleceu Laurez Moreira em Gurupi é um passo numa grande ópera. Uma jogada num grande Xadrez. Ou um arranjo que passa pela sucessão de Palmas.

Digam o que quiserem, o fato é que o PMDB está sem candidato a prefeito nas maiores cidades do Estado. Em Araguaína caminha, com o aval do secretário de Relações Institucionais e do presidente Jr. Coimbra, para ser vice de Dimas. Um candidato que mais do que PR, prova estar alinhado com o governo, e assim o disse na semana que passou: “O PR não é oposição, é base”.

Palmas: a exceção que confirma a regra

A única exceção neste momento que vive o PMDB é a candidatura de Eli Borges em Palmas. Ouvi deste amigo, que é aqui, na capital, que o partido reserva a última carta na manga para sobreviver no cenário. Ainda que existam movimentos sutis de Marcelo Miranda mostrando descontentamento com este rumo. E talvez uma tentativa tardia de discutir o nome de Dulce.

Nome que o próprio Miranda teria descartado (segundo esta fonte) numa reunião com líderes peemedebistas há três meses, quando teria dito a um deles: “Cuida da sua mulher, que eu cuido da minha. A Dulce não vai ser candidata a nada”.

Por outro lado, numa contradição que afirma a máxima, na única cidade que o PMDB bate o pé para levar adiante uma candidatura própria, outros entendem que estará favorecendo e muito a divisão das oposições.

Oposição? Me perguntou um grande líder de partido expressivo há pouco mais de uma semana: “Ninguém mais sabe quem de fato é oposição”. Sábias palavras.
Não dá para saber. Nos novos tempos em que estão todos juntos e misturados, não há muita diferença. A seguir assim, podem contar poucos inflexíveis sobrando no PMDB. Poucos que ainda querem o partido na oposição.

“Resta o Marcelo, que ainda é querido pelo povo, mas que está isolado”, me disse o amigo peemedebista completando: “o que ele precisa é sair do papel de vítima, de coitadinho e mudar de postura. Senão vai morrer politicamente”.

Questionando um outro amigo, este das altas rodas do governo sobre o que está de fato acontecendo neste mexe e mistura com todos na mesma panela, ouvi ironicamente a seguinte frase: “Não é nada. É que estamos ficando todos mais democráticos, modernos e humanos”.

Este é o resumo do quadro atual. O PMDB não é mais aquele. O PT (estadual) também há muito não é mais aquele e o que vamos assistir nas próximas eleições no Tocantins pode ser apenas um fraco desempenho, a sombra pálida daquilo que já foi um dia a oposição.

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