domingo, 18 de maio de 2008

ENTREVISTA - DEOCLECIANO GOMES FILHO



“As forças que compõem a aliança que administra a Prefeitura de Palmas têm convicção de que é necessária a reeleição de Raul Filho. Ele ele iniciou uma nova política na capital e, com o tempo, todos vão sentir os reflexos disso”
“O prefeito Raul Filho tem obras para mostrar, mas precisa melhorar sua comunicação”


O PPS está dividido. Uma ala apóia e faz parte do governo Raul Filho e outra apresenta resistência na composição com o PT para a disputa da Prefeitura de Palmas. Qual é a estratégia do partido?

O que se percebe é que, majoritariamente, as lideranças defendem a aliança do PPS com o prefeito Raul Filho. Mesmo por que, analisando historicamente, o PPS sempre foi peça-chave na construção desse projeto, que culminou com a eleição do prefeito Raul Filho, em 2004. O PPS é peça importante na execução dos programas que estão sendo realizados na gestão petista. Seria ruim se nós abríssemos mão de compartilhar os êxitos que foram conquistados nesta gestão. O PPS é peça ativa, atuante em todo o processo de discussão dos projetos e programas da Prefeitura de Palmas. Portanto, é muito coerente, em Palmas, o PPS caminhar ao lado do prefeito Raul Filho, no processo de reeleição. O projeto necessita de mais quatro anos para consolidar de vez algumas políticas públicas. Comungo com a idéia do prefeito e creio que o candidato do Paço é o próprio Raul. Apesar de ele insistir que não é o momento de discutir a sucessão, já que está preocupado com a administração. As forças que compõem a aliança da Prefeitura Municipal têm convicção de que é necessária a reeleição de Raul. Sobretudo porque ele iniciou uma nova política em Palmas e, com o tempo, todos vão sentir seus reflexos.

Quais seriam essas políticas públicas?

Ressalto principalmente a área social. Há o reconhecimento de que houve falhas na divulgação e comunicação sobre as ações da prefeitura. Mas a população começa reconhecer os avanços de amplos setores. Vou enumerar alguns. A área da educação se destaca de longe de tudo que já foi feito em outras gestões. O prefeito vem fazendo uma verdadeira revolução na educação. Raul está plantando para colher no futuro. As duas experiências da Escola de Tempo Integral, uma na região norte e outra na sul, devem ser modelo para todo o Brasil, já que a estrutura é completa. Além dessas duas escolas, outras cinco escolas da rede municipal já estão se preparando para ter atividades de escolas semi- integrais. Setores da classe média estão planejando retirar os filhos da rede particular para levá-lo para a rede pública, dada à qualidade do ensino. Grande parte dessas mudanças se deve ao respeito com os profissionais da educação, que só aconteceu no governo Raul. Alguns direitos não foram cumpridos por vários anos. A política salarial do governo também é diferenciada. É uma política que está em fase de implantação e precisa ter mais uma chance para se consolidar, precisa de mais um mandato. O prefeito está preparando as bases para um futuro melhor para a cidade. Na área da habitação, o que tem sido feito na gestão do prefeito Raul Filho, e ainda está por se concluir, é mais do que foi feito em todas as outras gestões juntas. É um dado bastante significativo, com o apoio dos governos estadual e federal. Em Palmas, o prefeito, por ter a compreensão de que é preciso enfrentar o grave problema, obteve grandes avanços. Raul está fazendo um bom trabalho, mas às vezes não encontra reflexo da comunidade, por causa da falta de divulgação. Acredito que tenha outro aspecto, que muitas vezes não é comentado. A gestão de Raul fez uma ruptura com velhas práticas políticas existentes ao longo dos anos em Palmas e no Tocantins. São práticas arcaicas, conservadoras e fisiológicas que, quando rompidas, provocam contrariedades em alguns setores da sociedade e isso, às vezes, gera repercussão negativa. Acredito que mais um mandato do prefeito Raul Filho — aliado ao trabalho do conjunto de forças que o elegeram — promoverá o avanço da política e das instituições no Tocantins.

O prefeito tem priorizado a área de assistência social como trunfo para seu projeto político.

Destaca-se nesta gestão a rede de assistência social instalada, que é reconhecida pelo próprio Ministério de Desenvolvimento Social. É a gestão plena do Sistema Único de Assistência Social (Suas), que caminha para ficar aos moldes do que é hoje na área da saúde. Essa rede conta com vários programas. Temos o Pioneiros Mirins, com 4 mil crianças assistidas. Temos o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), do governo federal e executado pelo município. São mais de 1,3 mil crianças que fazem parte desse programa, dentre outros, como o Acolher para Crescer, um programa integralmente custeado pela prefeitura, cuja missão é levar equipes de profissionais aos locais onde possam estar crianças e adolescentes em trabalho indevido, para encaminhá-los ao seu convívio familiar e verificar se estão devidamente matriculadas em alguma escola e se estão inseridas em algum outro programa social. Encerraram na sextafeira, 16, as inscrições para o Pró-Jovem Adolescentes, nos 10 Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) existentes em Palmas. É um programa socioeducativo do governo federal, com 500 vagas para Palmas, que será coordenado pela prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social. As atividades com esses adolescentes serão executadas nos CRAS, também conhecidos como Casas da Família. O Pró-Jovem Adolescente é uma reformulação do Agente Jovem e atende a mesma faixa etária, de 15 a 17 anos. O programa tem como objetivo o fortalecimento dos vínculos familiares e sociais.

O sr. acredita que o elenco de obras citadas oferece condições para o prefeito Raul Filho postular a reeleição?

Não só o PPS, mas outros partidos que compõem a base do prefeito Raul Filho também estão fazendo esse debate. Temos nessa composição, além do PT e PPS, o PDT, o PSB, o PC do B e o PMDB. É preciso ressaltar que o que foi feito em termos de infra-estrutura no município tem sido bem mais que nas outras gestões. A situação socioeconômica mudou significativamente para melhor. Quando o prefeito Raul assumiu a prefeitura, o índice de desemprego em Palmas, que passava de 24 por cento, caiu para 11 por cento. Verifica-se que o índice de crescimento da cidade, apresentado pelo IBGE nos diversos segmentos produtivos, tem melhorado. A área do Distrito Eco-industrial, que tinha uma reivindicação histórica para o asfaltamento e urbanização, mereceu atenção especial da prefeitura. Uma das primeiras ações do prefeito foi urbanizar toda aquela área, que gera emprego e renda. O Banco do Povo, com o programa Micro- crédito, atende a mais de 1.400 famílias, que montam seu próprio negócio, gerando empregos. Portanto, esse conjunto de ações tem contribuído para melhorar a qualidade de vida da comunidade. Então, a tese dominante do debate dos partidos da base é que não há possibilidade de o prefeito afastar-se da disputa pela reeleição. Talvez Raul esteja agindo com cautela e prudência, principalmente em concluir a sua gestão, e não quer precipitar o processo sucessório. Mas está se aproximando o período das convenções e os partidos vão ter que apresentar os seus candidatos. O principal dessa questão toda, desse conjunto de forças políticas progressistas e democráticas, que estiveram no campo da resistência durante vários anos, seja na disputa de 1996, de 2000 e com êxito em 2004, com certeza são as forças políticas que colaboraram para que houvessem avanços democráticos em Palmas e no Tocantins, maior respeito às instituições, aos movimentos sociais. Foram criados mecanismos administrativos que proporcionam a participação popular, participação democrática direta, a exemplo do Orçamento Participativo e revisão do Plano Diretor da cidade. Podemos afirmar que, a partir da eleição do prefeito Raul Filho em 2004, e de outros municípios importantes, criou-se um ambiente político que proporcionou o rompimento com a União do Tocantins, o que possibilitou ao governador Marcelo Miranda liderar essa nova ordem política no campo democrático do Estado. Esse processo político de democratização de Palmas e do Tocantins precisa continuar para se consolidar. Hoje a liberdade política é percebida nos quatro cantos do Estado.

O sr. não acredita que há dificuldade de o PMDB apoiar a reeleição do prefeito Raul Filho, embora o bom relacionamento do governador Marcelo com o presidente Lula possa levar à manutenção da aliança entre os dois partidos? E o DEM força para que a deputada Nilmar Ruiz seja a candidata da base aliada.

Existe um ponto de divergência entre a gestão do prefeito Raul e o DEM. Resulta aí a maior polarização. A leitura que se tem de fazer, no contexto de Palmas e dentro da perspectiva de avançar na democratização e na consolidação das instituições, é que essa será uma eleição mais ou menos polarizada entre as forças que avançaram nas conquistas democráticas com as forças que exerceram o poder durante muitos anos e que querem retornar ao poder. Se os partidos da base não tiverem uma unidade em torno de um nome, corre-se um sério risco de se ter um revés do ponto de vista político, abrindo possibilidades concretas para que outras forças atrasadas retornem ao poder. Como Palmas tem um reflexo em todo o Estado, com certeza o resultado das urnas vai influenciar nas eleições futuras. Precisamos estar unidos para evitar o retorno das forças retrógradas.

Não está passando da hora de os representantes dos partidos da base aliada sentarem para discutir logo o processo de alianças e candidaturas, em um grande encontro?

Sim. A gente tem convocado os líderes dos partidos para discutir e buscar o entendimento. Mas é natural também que os diversos dirigentes partidários queiram dar um tempo para que os postulantes de seus respectivos partidos coloquem o nome à apreciação popular, tenha condições de apreciar o desempenho, avaliação, saber como está posicionado nas pesquisas e, a partir daí, começar a ter algumas definições. No final de maio e início de junho, este o mês das convenções, começa a ser necessário esse delineamento. Os partidos começam a sentar com seus líderes, com seus postulantes e começam a definir que rumo vão tomar no processo sucessório. O PPS propunha o nome de seu presidente, Abrão Lima, para prefeito. Lutador, há muitos anos vem construindo o partido e é preciso ser considerado. No entanto, nós conversamos com ele no sentido de que é vital o partido compor esse leque de forças mais amplo para poder caminhar rumo aos avanços mais concretos. Sugerimos que o projeto dele pode ser adiado. O PPS precisa encorpar, crescer e ter mais liderança para postular uma candidatura majoritária em termos de capital. A melhor opção que temos para a disputa em 2008 é a reeleição do prefeito Raul Filho. O PPS é um aliado na elaboração e na realização do projeto modernizador do petista Raul Filho. O que defendemos é a continuidade da modernização, das mudanças.

Há muito o que conversar até as convenções?

A dificuldades maior reside exatamente na idéia de que as lideranças principais avaliam que é preciso haver um entendimento entre o governador Marcelo Miranda e o prefeito Raul Filho. Reunir as duas principais lideranças é fundamental, pois a eleição da capital é um símbolo para a eleição no restante do Estado. Como há possibilidade de reeleger o prefeito e o governador é uma liderança reconhecida na capital, assim como a primeira-dama Dulce Miranda, então é importante o entendimento. Há dificuldades, porque outros candidatos da base aliada também estão postulando. Mas vai chegar o momento em que se terá de analisar as diversas condições políticas e eleitorais. Tanto de pesquisa quanto de condições políticas para que o governador possa chamar seus correligionários para caminhar com uma candidatura. Minha leitura é a de que o governador deve apoiar o prefeito. Marcelo mantém bom relacionamento com Lula. E o presidente tem um carinho especial pelo governador e pelo prefeito. Assim como o presidente tem incentivado a coligação e a aliança do PMDB com o PT em Goiânia — praticamente o PT já declarou apoio à reeleição do prefeito Iris Rezende —, em Palmas poderá prevalecer o apoio à candidatura do prefeito Raul Filho. É importante ressaltar que o apoio do PPS ao prefeito Raul Filho já foi sinalizado não só pela ampla maioria do diretório metropolitano como também por dirigentes do partido em termos regional e nacional, que não tem resistência nenhuma, não oferece nenhum obstáculo. Vai depender das discussões no metropolitano com as lideranças regionais para a gente ter um termo comum para definir o apoio.

Qual é o rumo ideal para evitar que a oposição retorne à Prefeitura de Palmas?

O que deve ser ressaltado é o nome que teria mais habilidade para unir as forças de centro-esquerda. O nome que demonstra mais habilidade, bom trabalho e que precisa de mais oportunidades para aprofundar essas medidas administrativas e políticas é o do prefeito Raul Filho. Apesar de respeitar as postulações até dos nossos companheiros de partido e de outros partidos, haverá um momento de confruência em torno do nome do prefeito. Raul integra um projeto que foi construído a duras penas.

O que o sr. chama de forças de resistência e o que se tem feito para manter essa unidade?

Tenho chamado muita atenção para as forças de resistência porque elas precisam refletir e continuar unidas para avançarem um pouco mais na política de consolidação democrática. Partidos como PT, PPS, PMDB, PDT, PSB e PC do B fazem parte das forças de resistência. Claro que, no momento em que a política vai se ampliando, outras forças vão surgindo e não há problema em incorporar quem estiver interessado em reforçar esse projeto. Destaco muito o aspecto de continuidade da luta de consolidação democrática tanto da política de Palmas quanto das instituições. Acredito que isso ainda não é uma questão resolvida. Estamos reunindo as forças políticas que estão mais afinadas com esse projeto, porque se dispersamos agora nesta eleição há um risco grande de retroceder. O retrocesso é uma possibilidade. A forma de contê-lo é manter a união da base.

Explique-se melhor sobre o que chama de retrocesso.

Quando falamos em retrocesso, nós sabemos como era o passado, das gestões em Palmas, a volta do grupo da União do Tocantins (UT), e mesmo o grupo da deputada federal Nilmar Ruiz (DEM). A democrata também representa um retrocesso. Apesar de que atualmente seu partido compõe a aliança democrática no plano estadual, essa matriz esteve ao lado das forças utistas — que mantiveram uma política conservadora e ainda tentam se consolidar em algumas áreas —, hoje reunidas no DEM, que há muitos anos preconiza as políticas conservadoras no Brasil

Fonte: Jornal Opção Tocantins

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