quarta-feira, 14 de maio de 2008

Os temas da eleição


Nas pesquisas atuais a respeito das próximas eleições municipais, identificam-se alguns temas que se repetem em todo o país. Desde as grandes cidades, até as pequenas, a maioria dos eleitores tem preocupações parecidas, respeitadas variações que decorrem de fatores locais.

Assim, em alguns lugares, como nas regiões de ocupação recente (determinadas cidades da Amazônia e do Centro-Oeste, por exemplo) as questões sobre acessibilidade e melhoria das estradas são cruciais. Em certas partes do Nordeste, o abastecimento de água alcança o primeiro lugar. Aqui e ali, outras prioridades existem.

Exceções à parte, há, no entanto, uma regra nacional, em que três assuntos dividem os primeiros postos das respostas sobre quais são os problemas mais graves das cidades. Saúde, emprego e segurança, muitas vezes nessa ordem, tendem a estar sempre na frente.

Qual deles ocupa a primeira posição, qual a segunda e a terceira depende, muitas vezes, de circunstâncias que nada têm de locais. Algo que ocorre em uma cidade pode se tornar assunto nacional, dependendo da cobertura que receber dos meios de comunicação de massa. Sem que tenha mudado a gravidade "objetiva" de um problema, ele pode ser mais ou menos grave subjetivamente, em função disso.

Quando acontecem eventos de grande impacto na opinião pública, como foi a morte de João Hélio no Rio de Janeiro, o tema da segurança muda de posto. Se a mídia começa a falar sobre a epidemia de dengue que assola o Rio, a saúde ultrapassa os outros, mesmo em cidades onde o risco de contrair a doença é pequeno.

Mas existe uma característica comum a essas três preocupações: embora sejam as mais relevantes em quase todas as cidades brasileiras, as prefeituras podem fazer muito pouco para reduzi-las. Não deixa de ser paradoxal, pois os problemas mais graves, aqueles que a população gostaria de ver mais rapidamente enfrentados, estão, em grande medida, fora do raio de ação dos prefeitos.

Já existe ampla informação sobre isso no eleitorado brasileiro. As pessoas sabem que a criação de empregos pouco depende do governo, especialmente municipal. Não ignoram que a segurança é afeta, principalmente, aos governos estaduais. Poucos se esquecem de que a política de saúde é de co-responsabilidade da União, dos estados e municípios. Mas permanece a cobrança sobre as prefeituras, exacerbada pelas campanhas eleitorais, de que elas façam "algo" a respeito desses problemas.

Cientes de que as pessoas se preocupam com esses assuntos, os candidatos terminam por lhes dar destaque exagerado em seu discurso e suas propostas, às vezes além do que sabem que conseguirão realizar. Saímos das eleições do mesmo modo que entramos, com muitas expectativas e reduzida capacidade de atendê-las.

Isso não é bom para os eleitores e os candidatos. Mais relevante: é uma perda de oportunidade de discutir o que representam as prefeituras e o que podemos esperar (e cobrar) delas em nosso sistema político.

Ao contrário de fixar nossa atenção nesses assuntos, faríamos melhor se dedicássemos nosso tempo e interesse, nas próximas eleições, para discutir, em cada cidade, o que fazer com a educação. Muito mais que os anteriores, ela permite e enseja soluções locais, mais integradas com a realidade econômica, social e cultural das comunidades. No plano institucional, as dificuldades para desenhá-las são menores, o financiamento mais ágil. As prefeituras podem fazer muito para melhorar a educação brasileira.

Seria extraordinário se, ao cabo das eleições, ao invés de perder tempo em enfadonhas discussões sobre qual partido ganhou, pudéssemos avaliar quais foram as mais criativas propostas para a educação que as urnas consagraram.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE DO DIA 14/05/2008
Artigo de Marcos Coimbra - Sociólogo e Presidente do Instituto Vox Populi

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