terça-feira, 6 de maio de 2008

Entrevista recente do prefeito Raul Filho ao jornal Tribuna do Planalto


Ele não admite ser candidato à reeleição, diz que não teme enfrentar o ex-governador Siqueira Campos e garante que o parceiro preferencial é o PMDB, este ano.
O prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), no entanto, mostra que está preparado para uma nova disputa.

Tribuna do Planalto - São três anos de administração e há eleição este ano. O planejamento para 2008 cumpre as metas estabelecidas desde o início da administração ou obedece ao calendário eleitoral da possível reeleição?Raul Filho - Temos plano de ação desde que foi iniciado o governo. Nele, foram traçadas metas para os quatro anos. Naturalmente, depois de um orçamento, é preciso fazer adequações. E além do orçamento há outras fontes de recurso que se busca para financiamento, seja com organismos internacionais ou nacionais, seja com o governo federal. Isso nunca dá tranqüilidade de que o planejamento será cumprido ao tempo e à hora que se queria. Temos certeza de cumprir as metas. E também, em qualquer governo, geralmente em seus dois últimos anos há os projetos que passaram por um processo de maturação, depois de aprovação. Em seguida vem a fase de execução. E nós vivemos esse momento. Assumimos a prefeitura e posso afirmar que os dois primeiros anos foram simplesmente cruéis. Foram de pagamento de dívidas, de ajuste da estrutura, de reorganização da máquina. Eu já cheguei a dizer antes, quando assumi a prefeitura, que era como se estivesse operando uma pocilga. Isso demandou tempo, dinheiro... Não tínhamos um único projeto numa prateleira, em nenhum ministério, muito menos na própria prefeitura. Tivemos de fazer tudo do zero. E tivemos dois anos também em que a prefeitura não contou com emendas, com apoio da bancada congressista, seja de senadores ou deputados. Isso também dificultou muito. Além de não haver projeto para conseguir recurso nos ministérios, ainda que fosse do orçamento próprio do ministério, não tínhamos as emendas. Então, só no terceiro ano conseguimos sensibilizar a bancada, que compreendeu a necessidade de investir no Estado. Hoje, enfim, estamos colhendo esses frutos. Mas tudo dentro de uma programação prevista. Em nenhum momento pensamos em deixar ações para o último ano por se tratar de ano eleitoral.

Houve a preocupação de não misturar campanha com administração?Desde que assumimos, mesmo diante de todas as dificuldades, a prefeitura tem correspondido muito acima das expectativas financeiras com investimentos. Fizemos uma ação na área de infra-estrutura nos dois primeiros anos da gestão, apesar das dificuldades; mas nosso planejamento nos permitiu fazer mais do que nos quatro anos da gestão anterior. Deve-se considerar que, em um metro de asfalto feito, debaixo dele há sistema de drenagem completo, perfeito, de boa qualidade. Isso também na área de habitação, na área social. A educação, desde o primeiro momento do nosso governo, tem tido um investimento maciço. Talvez não haja cidade no País que tenha investido tanto em educação. E há uma diferença: temos cobrado resultados. Hoje há reconhecimento nacional, há o reconhecimento do Ministério da Educação. O próprio ministro (Fernando Haddad) tem destacado em várias ocasiões a eficiência da educação municipal de Palmas, a estrutura física, da valorização dos trabalhadores da área, da elevação da qualidade de vida tanto no campo nutricional quanto no intelectual, das nossas crianças.

A saúde é um ponto fraco da administração Raul Filho?Na saúde tivemos problemas sérios, porque nessa área temos situação atípica. Talvez sejamos uma das poucas cidades brasileiras que tenham essa situação. Além de haver todo o interior do Estado que migra para cá - para os prefeitos é mais cômodo comprar ambulância, montar casas aqui e mandar os problemas -, todo o sul do Maranhão e do Pará têm como pólo de saúde a cidade de Palmas. Fechamos o ano de 2006 com mais de 2,5 milhões de procedimentos. E temos levado isso com a maior eficiência. É natural que uma cidade como a nossa... Mesmo tendo sido planejada, foi mal ordenada. Faltou pulso dos gestores para frear o crescimento desordenado. Temos 40 quilômetros de extensão. A Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação nos trouxe um relatório que mostra que, considerando todas as áreas microparceladas, no sentido vertical e horizontal, da primeira à última quadra, os espaços vazios comportam três milhões de pessoas. Isso é mais do que duas vezes a população de Goiânia. Nesse mundo todo de espaço há apenas 200 mil pessoas morando. E a prefeitura está presente, levando benefícios a toda essa comunidade.

O crescimento desordenado é um problema da Capital Palmas. Que fazer?
Se tivéssemos tido, no passado, a visão de planejar uma cidade permitindo que seu crescimento fosse de forma adensada, posso garantir, com base no conhecimento que temos, que Palmas hoje seria a cidade com melhor qualidade de vida no Brasil. Mesmo com toda a dispersão, hoje ela está entre as cidades com melhor qualidade de vida. Isso é pesquisa nacional. Chegamos a ser a cidade com melhor qualidade do Centro-Oeste (melhor do que Goiânia), do Norte e do Nordeste. Com todos os problemas por que passa. Temos procurado combinar investimento com crescimento. E muita gente padece muito com essa desorganização. O meu primeiro decreto, quando assumi, foi determinando o crescimento da cidade no sentido inverso. A cidade está proibida de crescer de onde ela se encontra para frente. Hoje, o crescimento é de fora para dentro. Mantendo-se o crescimento que temos hoje, de 8% a 10%, levará 100 anos para esses espaços vazios serem ocupados.

Como está a saúde financeira e a capacidade de endividamento do município?
Foram exatamente as ações (nessas áreas) que nos levaram ao desgaste com a opinião pública. Primeiro, quando se é escolhido para governar, tem-se que tomar decisões, ter atitude. Tínhamos uma estrutura literalmente dilacerada, funcionário sem ter onde se sentar, folha de pagamento que superava o institucional. E tudo por fazer: fazer o novo e recuperar o velho. Não tínhamos apoio do Congresso. Tínhamos de fazer uma minirreforma tributária, porque também não dava para resolver de uma só vez. Isso nos trouxe desgaste, porém nos permitiu criar caixa para fazer os investimentos que a cidade recebe. Aqui não se pagava contribuição de iluminação pública. A gestão anterior, por três vezes, tentou e não conseguiu sucesso com a Câmara (para aprová-la). Nós abordamos os vereadores e mostramos: se isso não ocorresse, estaríamos em uma cidade com energia nos postes, mas com as luzes apagadas, porque não tínhamos orçamento. Eles compreenderam e aprovaram. Hoje, estamos mais ou menos equilibrados, mas ainda é muito pesado para o poder público manter essa estrutura. Do lixo que coletamos e das ruas que varremos, arrecadamos apenas 28%. O resto a prefeitura tem de migrar de outras receitas. É um processo que tem de ser gradativo. E fizemos isso, uma reforma que nos trouxe um desgaste, que a população não compreende, mas que está dando resultado. Para se ter idéia, as gestões anteriores não concebiam nominar uma obra feita com recursos próprios. Temos feito obras de R$ 8 milhões, R$ 10 milhões - e não são uma, duas, três... -, tudo com o dinheiro do contribuinte de Palmas, sem um centavo de convênio do governo federal ou do governo estadual. São muitas escolas, creches, asfalto, drenagem, postos de saúde. Antes, não se fazia. Mas tivemos de fazer, e nos submetemos a desgastes, mas garantimos qualidade de vida e o desenvolvimento da cidade.

Esse desgaste traz prejuízos políticos. O sr. teme que cause dificuldades na campanha para a reeleição?Tenho plena consciência disso (do desgaste). Sempre tive os pés no chão. Há coisas que se faz e só o tempo traz o reconhecimento. Hoje conheço bem a realidade do nosso município, as suas complexidades, a sua capacidade orçamentária, o mecanismo, os caminhos para garantir recursos para investimentos. O que fizemos, se não for lembrado hoje e sim daqui a quatro, oito anos, será lembrado com muita saudade. E vou estar muito vivo, ainda jovem, esperando essa resposta para, quem sabe, voltar e dar seqüência a esse trabalho.

Mas esse desgaste vai atrapalhar, a ponto de impedir, a sua reeleição?
Acredito que não. Primeiro, não estou com o nome colocado à reeleição. Tenho o compromisso de atuar ainda como o administrador que fui escolhido até o último limite que a lei me permitir. No momento em que o governante tem a oportunidade de mostrar (suas ações e obras) nos programas (de TV e rádio) e o partido tem um tempo (de TV e rádio) que permite fazer isso bem, o cidadão, por mais adversário que seja, vai conseguir compreender muito bem e, quem sabe, até fazer inversão de pensamento ou de posição. Isso não nos preocupa.

Que legado sua administração vai deixar para a cidade, independente da reeleição?Temos vários legados. O que mais marca hoje a vida da sociedade e vai marcar para sempre, porque é um processo irreversível, é a educação. A educação hoje é referência para qualquer cidade, economicamente ou socialmente mais desenvolvida do que a nossa. É uma realidade, não é projeto.

Quem é o maior parceiro da prefeitura, o Estado ou a União?Disparadamente o governo federal. Mas não é só da Prefeitura de Palmas: é tão parceiro da Prefeitura de Palmas quanto do governo do Estado. Para se ter noção, só este ano no Estado vem colocando mais de R$ 1 bilhão... Nunca houve isso na história do Tocantins, mesmo quando o governador tinha tudo a seu favor: Congresso, prefeitura, governo federal. E isso serve para todas as cidades brasileiras. Sou da Frente Nacional dos Municípios e percebo que os municípios que não têm conseguido buscar recursos em Brasília, não conseguem porque, ora têm dificuldade de elaborar bons projetos, ora têm capacidade de endividamento. Quanto a aqueles que elaboram bons projetos ou conseguem ter a sua contrapartida, não conheço um caso de projeto rejeitado. O governo federal trata isso indistintamente, ele não quer saber a cor partidária.

Em quê a União mais tem ajudado Palmas?Temos contraído financiamentos para a infra-estrutura. Já entregamos mais de 1 milhão de metros quadrados de asfalto com drenagem. Este ano entregaremos, pelo menos com recurso depositado já em conta, mais de 700 mil metros de pavimentação, todos eles dotados de infra-estrutura. Os conjuntos habitacionais que temos feito ocupam lugares nobres, com fácil acesso e infra-estrutura. E o governo tem sido parceiro. É bom ressaltar: na educação, tudo é feito com 100% dos recursos do município.

Quando o sr. disputou a prefeitura, havia uma configuração de poder com base na dualidade, no Estado: basicamente uma frente anti-siqueirista e outra siqueirista. Na eleição deste ano, o sr. vai se firmar como alternativa a esses dois pólos de poder no Tocantins?Ninguém pode negar que um dos pólos de força hoje é o Paço Municipal. Porque o Paço Municipal... Na minha pessoa, há dez anos temos feito enfrentamento a uma força política chamada União do Tocantins, liderada por Siqueira Campos. Nela estavam todos presentes, inclusive o atual governador (Marcelo Miranda). Superamos tudo isso, vencendo essas forças juntas, e estamos governando. Hoje, houve divisão das forças. Com certeza o Paço não deixará de ser um dos pontos dessa polarização, ou se juntando a uma dessas forças, que se dividiram, ou enfrentando as duas. Quem vai puxar essa polarização somos nós.

E pode haver aproximação de forma consolidada do sr. com o governador Marcelo Miranda?Nossa relação com o governador é a mais perfeita possível. Mas não temos nenhum compromisso de apoio em campanha. Institucionalmente, a prefeitura e o Palácio têm perfeita relação. O governador é uma pessoa com quem convivi dez anos como deputado, como colega. Agora, existe pressão dos partidos. Cada partido busca, é natural, sua cabeça-de-chapa. O PMDB é um partido que consideramos forte, com grande representação no País e no nosso Estado. Não seria diferente na nossa Capital. Hoje, tem a vice-prefeitura de Palmas. Então, é uma força que tem de ser considerada. A União do Tocantins é uma grande força política. Prova disso é que o ex-governador perdeu as eleições por 30 mil votos. E é uma força latente. E há o Paço, que tem o seu trabalho. Então, não sabemos se serão três ou duas disputas.

É possível uma composição do sr. com o grupo político de Siqueira Campos?Eu disse que o Paço é candidato a continuar implantando esse projeto a que demos início. Agora, teremos, possivelmente, as três forças já mencionadas. No momento em que uma delas nos procurar para nos apoiar, não temos porquê discutir. Na política, o apoio não pode ser maléfico. Desde que venha para construir, isso em qualquer lugar do mundo, soma. O nosso parceiro preferencial é o PMDB, até porque governamos juntos. Temos de compreender também: (o PMDB) é um grande partido, na hora em que entender que não é possível caminharmos juntos, temos mais é que respeitar, como grande partido e como companheiros que são seus integrantes. O que nos resta é tentar buscar novas alianças.

Mesmo com as denúncias, como a do mensalão, o sr. acha que o presidente Lula consegue eleger o sucessor?Ele já superou o momento mais crítico. Eu fui um dos prefeitos convidados a estar com o presidente quando da sua decisão pela reeleição. Fomos dez prefeitos convidados a jantar na casa dele. Sentamos à mesa com ele, na casa oficial do governo. Discutimos muitas questões, falamos do desgaste que estávamos enfrentando no partido. Tudo aquilo foi muito pequeno diante da grandeza do presidente. A grandeza que digo é a de que as pessoas mais humildes tinham certeza de que ele era a consolidação de um programa de transformação do País, com crescimento combinando o econômico e o social. Então, hoje as denúncias continuam. Mas qual partido nesse país que não teve denúncia sobre seus feitos? O PT tem, está tendo porque é governo. O PSDB já teve.

O sr. diz que seu nome não está colocado para a reeleição. Mas uma hora ele pode ter que ser colocado.Nunca deixei isso às escondidas, eu tenho candidato. Agora, não necessariamente será o prefeito. Somos um grupo, que tem homens e mulheres com trabalhos fantásticos realizados pela política de nosso Estado e pela nossa Capital. Não necessariamente o prefeito vai ser (candidato); sem dúvida, o vamos disputar para ganhar.

Mas o sr. quer disputar mais um mandato?Ainda não tomei decisão sobre essa questão. Eu me coloquei como candidato a terminar este mandato, procurando dar o melhor de mim, fazer de 2008 o melhor ano do meu governo. Não por ser ano eleitoral, mas por ser um ano que nos permitiu consolidar projetos, liberar recursos. Essas coisas demandam tempo, por isso só agora estão acontecendo num processo mais acelerado, mais volumoso. Agora, reeleição é uma conseqüência. Não vou insistir numa candidatura em que as pesquisas sérias nos convencerem de que não há chance, se a população não desejar mais ter o nosso nome à frente da prefeitura, saberei esperar a chegada de um novo momento. Se ela sinalizar que há possibilidade, vamos reunir o grupo e saber se está de acordo para a eleição.

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